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Big Mac mostra que dólar ainda tem de subir mais, diz Fator

Hoje, o Big Mac, que serve de indicador da paridade das moedas com o dólar, estaria custando no Brasil o equivalente a US$ 5,40

Big Mac: para equiparar o valor do sanduíche aos US$ 4,50 do similar americano, o dólar teria de subir para R$ 2,75, ou seja, mais 20% em relação à cotação atual (Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 26 de novembro de 2013 às 10h53.

São Paulo - Sentiu um gosto diferente ao morder o Big Mac do fim de semana com a criançada? É a valorização cambial. Hoje, o Big Mac, que leva os mesmos calóricos ingredientes no mundo inteiro e serve, portanto, de indicador da paridade das moedas com o dólar, estaria custando no Brasil o equivalente a US$ 5,40. Nos Estados Unidos , o preço do mesmo lanche é de US$ 4,50.

Se os produtos são os mesmos, a diferença é provocada pelo real estar valorizado demais em relação à moeda americana, avalia estudo feito por Paulo Gala, economista da Fundação Getúlio Vargas e estrategista da Fator Corretora.

Dólar teria de subir 20%

Usando o raciocínio do estrategista e considerando um dólar a R$ 2,29, o Big Mac sairia a R$ 12,37. Assim, para equiparar o valor do sanduíche aos US$ 4,50 do similar americano, o dólar teria de subir para R$ 2,75, ou seja, mais 20% em relação à cotação atual. Claro que a conta feita pelo blog Arena é simplista demais, mas dá uma ideia de quanto a moeda brasileira teria de andar para se equiparar à americana por esse critério gastronômico.

Referências culinárias para apontar a valorização das moedas não são novidade e nem se restringem à global rede americana de sanduíches. Nos anos 1990, um dos sinais da crise mexicana e do desequilíbrio da moeda foi a descoberta que o país estava importando tortilhas.

Cesta de produtos

A lógica da comparação é simples. Teoricamente, uma mesma cesta de produtos deveria ter o mesmo preço ao redor do mundo, especialmente se todos os bens que compõem a cesta fossem transacionáveis, ou seja, cotados internacionalmente e sujeitos à arbitragem do comércio internacional, afirma Gala em relatório enviado aos clientes. Mas, na prática, não são, uma vez que há diferenças entre o custo de mão de obra, imóveis, impostos e outros fatores locais que fazem com que um preço de um país seja bastante distinto do de outro.


País pobre, Big Mac mais em conta

Mas Gala chama a atenção para o fato de que, em países mais pobres e com renda menor, o Big Mac deveria custar menos, já que os salários e aluguéis são relativamente menores. “Países mais pobres têm o Big Mac em dólares mais barato”, avalia o estrategista. Mas não no Brasil.

Ocorre que, em alguns países, há preços que Gala considera “anômalos”, caso do Brasil. “Como os salários e os imóveis são muito mais caros em terras americanas, alguma coisa está errada”, diz o economista, para indicar o provável culpado: “O suspeito aqui é o câmbio”.

Explosão do déficit externo

Segundo Gala, a sobrevalorização cambial brasileira, ou seja, o baixo preço do dólar em reais, desalinha os preços domésticos em termos internacionais e causa a deterioração da conta-corrente. “Eventualmente nosso déficit externo explodirá e o câmbio voltará para sua posição de equilíbrio”, afirma o estrategista.

Estudo do economista indica que, de tempos em tempos, a relação entre os preços locais e nos EUA do Big Mac se encontram, o que mostraria uma tendência de equilíbrio de longo prazo entre os preços no Brasil, nos EUA e a taxa de câmbio. “Hoje, em dólar, está tudo muito caro no Brasil”, avalia o economista.

Outros produtos

O raciocínio de Gala ajudaria a explicar em parte a diferença abissal de preços entre roupas e eletrônicos nos Estados Unidos e aqui, a ponto de a economia com as compras no exterior compensar a passagem de avião para Miami. Mas há outros fatores que ajudam a aumentar essa diferença, especialmente a tributação dos produtos no Brasil, o mercado fechado, com baixa concorrência e altos impostos de importação, e o próprio custo de produção local.

Outra explicação para o preço mais alto do Big Mac no Brasil é que ele é um reflexo também do impacto da inflação sobre os produtos locais, do mercado de trabalho aquecido que pressiona o custo da mão de obra e do aumento do consumo das classes C e D, que acabam tendo de ser compensados no final pela desvalorização cambial.

Abaixo, um gráfico da Fator Corretora mostrando a relação entre o Big Mac em dólares no Brasil e nos EUA e o saldo de contas-correntes externas brasileiro em relação ao PIB. Nota-se que, quando a diferença do preço local se acentua, o superávit externo cai, e vice-versa.

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São Paulo - Sentiu um gosto diferente ao morder o Big Mac do fim de semana com a criançada? É a valorização cambial. Hoje, o Big Mac, que leva os mesmos calóricos ingredientes no mundo inteiro e serve, portanto, de indicador da paridade das moedas com o dólar, estaria custando no Brasil o equivalente a US$ 5,40. Nos Estados Unidos , o preço do mesmo lanche é de US$ 4,50.

Se os produtos são os mesmos, a diferença é provocada pelo real estar valorizado demais em relação à moeda americana, avalia estudo feito por Paulo Gala, economista da Fundação Getúlio Vargas e estrategista da Fator Corretora.

Dólar teria de subir 20%

Usando o raciocínio do estrategista e considerando um dólar a R$ 2,29, o Big Mac sairia a R$ 12,37. Assim, para equiparar o valor do sanduíche aos US$ 4,50 do similar americano, o dólar teria de subir para R$ 2,75, ou seja, mais 20% em relação à cotação atual. Claro que a conta feita pelo blog Arena é simplista demais, mas dá uma ideia de quanto a moeda brasileira teria de andar para se equiparar à americana por esse critério gastronômico.

Referências culinárias para apontar a valorização das moedas não são novidade e nem se restringem à global rede americana de sanduíches. Nos anos 1990, um dos sinais da crise mexicana e do desequilíbrio da moeda foi a descoberta que o país estava importando tortilhas.

Cesta de produtos

A lógica da comparação é simples. Teoricamente, uma mesma cesta de produtos deveria ter o mesmo preço ao redor do mundo, especialmente se todos os bens que compõem a cesta fossem transacionáveis, ou seja, cotados internacionalmente e sujeitos à arbitragem do comércio internacional, afirma Gala em relatório enviado aos clientes. Mas, na prática, não são, uma vez que há diferenças entre o custo de mão de obra, imóveis, impostos e outros fatores locais que fazem com que um preço de um país seja bastante distinto do de outro.


País pobre, Big Mac mais em conta

Mas Gala chama a atenção para o fato de que, em países mais pobres e com renda menor, o Big Mac deveria custar menos, já que os salários e aluguéis são relativamente menores. “Países mais pobres têm o Big Mac em dólares mais barato”, avalia o estrategista. Mas não no Brasil.

Ocorre que, em alguns países, há preços que Gala considera “anômalos”, caso do Brasil. “Como os salários e os imóveis são muito mais caros em terras americanas, alguma coisa está errada”, diz o economista, para indicar o provável culpado: “O suspeito aqui é o câmbio”.

Explosão do déficit externo

Segundo Gala, a sobrevalorização cambial brasileira, ou seja, o baixo preço do dólar em reais, desalinha os preços domésticos em termos internacionais e causa a deterioração da conta-corrente. “Eventualmente nosso déficit externo explodirá e o câmbio voltará para sua posição de equilíbrio”, afirma o estrategista.

Estudo do economista indica que, de tempos em tempos, a relação entre os preços locais e nos EUA do Big Mac se encontram, o que mostraria uma tendência de equilíbrio de longo prazo entre os preços no Brasil, nos EUA e a taxa de câmbio. “Hoje, em dólar, está tudo muito caro no Brasil”, avalia o economista.

Outros produtos

O raciocínio de Gala ajudaria a explicar em parte a diferença abissal de preços entre roupas e eletrônicos nos Estados Unidos e aqui, a ponto de a economia com as compras no exterior compensar a passagem de avião para Miami. Mas há outros fatores que ajudam a aumentar essa diferença, especialmente a tributação dos produtos no Brasil, o mercado fechado, com baixa concorrência e altos impostos de importação, e o próprio custo de produção local.

Outra explicação para o preço mais alto do Big Mac no Brasil é que ele é um reflexo também do impacto da inflação sobre os produtos locais, do mercado de trabalho aquecido que pressiona o custo da mão de obra e do aumento do consumo das classes C e D, que acabam tendo de ser compensados no final pela desvalorização cambial.

Abaixo, um gráfico da Fator Corretora mostrando a relação entre o Big Mac em dólares no Brasil e nos EUA e o saldo de contas-correntes externas brasileiro em relação ao PIB. Nota-se que, quando a diferença do preço local se acentua, o superávit externo cai, e vice-versa.

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