Bancos e descoberta animam papéis da Petrobras na bolsa
Rio de Janeiro - A nomeação dos bancos que farão a capitalização da Petrobras e o anúncio de mais uma descoberta no pré-sal de Campos estavam mantendo as ações da companhia em alta nesta sexta-feira, apesar da queda do petróleo e do mau humor no mercado de capitais. As dúvidas em relação à capitalização da […]
Da Redação
Publicado em 4 de junho de 2010 às 15h38.
Rio de Janeiro - A nomeação dos bancos que farão a capitalização da Petrobras e o anúncio de mais uma descoberta no pré-sal de Campos estavam mantendo as ações da companhia em alta nesta sexta-feira, apesar da queda do petróleo e do mau humor no mercado de capitais.
As dúvidas em relação à capitalização da empresa vinham punindo o preço dos papéis nos últimos meses, com o mercado inseguro sobre a realização da operação que poderá trazer de 15 a 25 bilhões de dólares ao caixa da companhia.
No dia 22 de junho a Petrobras realiza assembléia extraordinária para aprovar o aumento de capital de 60 para 150 bilhões de reais, viabiliando assim o aumento de capital.
Por volta das 12h45 (horário de Brasília), as ações preferenciais da Petrobras subiam 1,3 por cento, contra queda de 1,4 por cento do Ibovespa e de 3,2 por cento no preço do petróleo em Nova York.
"Essa nomeação (de bancos) mostra que já está praticamente com a oferta na praça", afirmou o analista do Banco do Brasil Nelson Mattos.
Ele explicou que com a certeza da operação o papel da companhia está conseguindo recuperar o tempo em que não aproveitou a alta do preço do petróleo, que apesar de operar em queda nesta sexta-feira vinha subindo nas últimas semanas.
A Petrobras informou na noite de quarta-feira que nomeou Bank of America Merrill Lynch, Bradesco BBI, Citi, Itaú-BBA, Morgan Stanley e Santander como coordenadores globais da oferta pública de ações da companhia.
Nesta sexta, a empresa divulgou a descoberta de óleo leve no pré-sal da bacia de Campos, elevando o potencial da maior região produtora do país, com reservas recuperáveis estimadas de 380 milhões de barris de óleo equivalente.
"Com o fato de ter se posicionado sobre o período de silêncio a dúvida se vai ter ou não capitalização deixou de existir", disse o analista Lucas Brendler, da Geração Futuro.
Ele afirmou que existe no mercado um grande apetite por ativos como o da estatal, que está se capitalizando para investir no crescimento.
A empresa tem um ambicioso plano de negócios, que está em revisão, mas prevê investir até 220 bilhões de dólares entre 2010-2014, incluído o desenvolvimento da região do pré-sal da bacia de Santos, onde a companhia já encontrou nos últimos três anos reservas que dobram as atuais do país, de cerca de 14 bilhões de boe, que levaram décadas para serem descobertas.
"Tenho conversado com 'assets' (administradores de ativos) de investidores estrangeiros e existe muito dinheiro buscando esse tipo de investimento, querem 'cases' positivos de crescimento no futuro, e como ela tem o pré-sal, deve ter demanda", avaliou Brendler.
A Petrobras quer aumentar o seu patrimônio para poder se endividar mais à frente e explorar as gigantescas reservas do pré-sal, cuja produção começará a ficar mais relevante a partir de 2015, quando serão produzidos 582 mil barris diários de boe, que saltarão para 1,815 milhão de b/d em 2020. Atualmente a produção da região gira em torno dos 18 mil b/d com o Teste de Longa Duração de Tupi.
Já Mattos, analista do BB, não se mostra tão confiante com o sucesso da operação.
"Mesmo antes da crise da Grécia os IPOs já não estavam conseguindo muito... e ainda vai ter a oferta do BB na praça, de 10 bilhoõs (de reais), não tem liquidez para tudo isso", disse Mattos.
Segundo ele, a capitalização da Petrobras corre risco de sair por preço menor do que o esperado.
"Há risco da operação ter volume e preço menores, como aconteceu com IPOs aqui antes da crise, o mercado não está nada bem", concluiu.
Para o mercado ainda não está claro também se a capitalização será feita via cessão onerosa --com o governo cedendo reservas não licitadas do pré-sal de até 5 bihões de barris de boe em troca indireta por ações-- ou como oferta pública tradicional, com o governo tendo que emitir títulos públicos para ficar com os papéis que serão ofertados pela estatal.
Segundo Mattos, a estatal "já está no plano B", que seria a capitalização sem cessão onerosa, ainda dependente de votação no Congresso. Já para Brendler, mesmo que não se use a cessão onerosa agora o governo poderá fazer a troca mais à frente. "O governo deve emitir titulos em troca das ações da Petrobras e se a cessão não ocorrer agora ocorre no futuro", previu o analista, quando então o governo teria títulos de volta como pagamento pelas reservas.
No próximo dia 9, o Senado deve votar a capitalização da companhia, em projeto que inclui a cessão onerosa.