Balanço ilumina nevoeiro e Cielo sobe 10%
A maior processadora de cartões do país subiu mais de 10% na bolsa nesta terça-feira com números que surpreenderam analistas
Da Redação
Publicado em 31 de outubro de 2017 às 15h20.
Última atualização em 31 de outubro de 2017 às 17h10.
Na bolsa, melhor que uma boa notícia é uma notícia acima das expectativas. Mesmo que ela seja apenas menos pior que o previsto.
Foi o que aconteceu com a operadora de meios de pagamento Cielo , presidida desde o ano passado por Eduardo Gouveia. A companhia divulgou na noite desta segunda-feira seus resultados para o terceiro trimestre.
Sua receita líquida de julho a setembro somou 2,93 bilhões de reais, queda de 4,3% sobre um ano antes.
O resultado operacional medido pelo Ebitda (lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização, na sigla em inglês), somou 1,298 bilhão de reais de julho a setembro, queda de 6,1% ano a ano. A margem Ebitda caiu 0,8 ponto percentual ano a ano, para 44,3%.
Parece uma coleção de notícias ruins, ainda mais para uma companhia acostumada a margens estratosféricas ao longo de toda a última década.
Acontece que analistas esperavam números ainda piores. O Itaú BBA, por exemplo, previa faturamento de 2,91 bilhões de reais e Ebitda de 1,21 bilhão.
Mas, em relatório, afirmava que havia boas chances de a empresa superar as expectativas. De fato aconteceu, o que fez as ações subirem 10% nesta terça-feira.
Os números deixam bem claro que a vida confortável da Cielo ficou no passado, e que os analistas e investidores já entenderam isso.
A empresa lidera há mais de uma década o mercado de pagamentos por cartões no Brasil, que processou pouco mais de 1 trilhão de reais em transações no ano passado, alta de 300% em uma década.
A companhia, controlada por Bradesco e Banco do Brasil, chegou a ter margens operacionais de 60% até 2012.
A única grande concorrente era a Rede, do Itaú. Varejistas de todos os tamanhos Brasil afora deixavam quase 10% de seu faturamento em aluguel e antecipação de recebíveis à Cielo. Era uma mina de ouro.
Mas mudanças recentes na regulação fizeram com que o oceano azul da Cielo ficasse vermelho. A empresa tem sede em Barueri, na grande São Paulo, e se beneficiava de uma alíquota mais camarada do municipal imposto sobre serviço.
Em 2016, o imposto passou a ser calculado nas cidades onde os pagamentos são processados, o que foi um golpe para a companhia.
As regras para o rotativo e a antecipação de recebíveis também mudaram, apertando mais um pouquinho a empresa.
Para completar, de um ano para cá o mercado foi infestado de concorrentes, como Santander, Stone (Arpex Capital e do Banco Pan), Bin (da First Data), Vero (do Banrisul) e PagSeguro (do UOL). Até o Corinthians lançou sua maquininha de cartão de crédito.
Para completar, a crise econômica enxugou o crédito e levou ao fechamento de um grande número de endereços comerciais.
O mercado de crédito encolheu 4,4 pontos percentuais em 2016. O número de maquininhas no país caiu pela primeira vez desde 2008, de 4,565 milhões para 4,424 milhões.
Em busca de alternativas
A vida ficou mais difícil, portanto, mas os números divulgados nesta terça-feira mostram que a Cielo tem conseguido ao menos evitar um cenário pior.
“O resultado trouxe até um conforto para quem esperava um futuro negro. Os números mostram que a Cielo está no jogo, mas que o jogo já não é mais o mesmo”, diz Adeodato Volpi Netto, sócio da companhia de análises Eleven.
Os resultados operacionais mais fracos levaram a companhia a apertar o cinto nas despesas operacionais, que caíram 10,8% ante o terceiro trimestre de 2016, para 356 milhões de reais, puxados por gastos menores com pessoal e marketing.
O trabalho da Cielo para limpar a base, desativando terminais com pouca ou nenhuma atividade, continuou. O número de pontos de venda ativos caiu 11,6%, para 1,5 milhão de terminais, o que ajudou a reduzir o custo dos serviços prestados em 0,3%, para 1,279 bilhão de reais.
O volume financeiro de transações pagas por meio da rede da Cielo cresceu 11,3% no terceiro trimestre sobre um ano antes, para 155 bilhões de reais. E novos negócios começaram a dar frutos, como a Cateno, associação com o Banco do Brasil na área de gestão de cartões.
Inovação, como não poderia deixar de ser, é uma prioridade para a companhia. Afinal, a única certeza de analistas que acompanham o setor é que o negócio de maquininhas como é hoje vai acabar mais cedo ou mais tarde.
O problema, para a Cielo, é que este mercado vem mudando rapidamente, com competidores surgindo nos bancos das universidades ou em mercado longínquos como a China, onde os pagamentos digitais já superam os do dinheiro em papel.
Mas a empresa investe. Um exemplo é uma nova forma de pagamento para comerciantes que vendem por WhatsApp.
Esse meio dispensa as máquinas de cartão e, segundo a Cielo, vai beneficiar microempreendedores que querem fugir de taxas e, muitas vezes, não têm loja física ou site.
Outra oportunidade está no próprio crescimento do mercado de cartões. A Cielo tem batido na porta de clientes em potencial que não estão acostumados a receber pagamentos por meio de cartões, como médicos e cartórios.
Oportunidades não faltam, mas os investidores estão reticentes com o tamanho dos desafios. A empresa triplicou de valor entre 2011 e 2014 e, mesmo com a alta de 7% desta terça-feira, está 30% abaixo do pico alcançado em julho de 2015.