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Aposta em taxa Selic abaixo de 8% começa com atividade fraca

O governo estaria mais preocupado em acelerar o crescimento econômico do que com os riscos do enfraquecimento do real sobre inflação

O presidente do BC, Alexandre Tombini, reduziu a taxa Selic em 350 pontos-base desde agosto para 9% (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)
DR

Da Redação

Publicado em 17 de maio de 2012 às 08h16.

Brasília/Rio de Janeiro - Operadores começaram a apostar pela primeira vez que o Banco Central pode cortar a taxa básica de juros para menos de 8 por cento. O governo estaria mais preocupado em acelerar o crescimento econômico do que com os riscos do enfraquecimento do real sobre inflação.

As taxas de contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2013 caíram 24 pontos-base nos últimos cinco dias para 7,79 por cento, indicando que os investidores estão começando a apostar em uma redução da Selic para a mínima histórica de 7,75 por cento. Os contratos futuros do México sinalizam que o banco central local vai manter a taxa de juros em 4,5 por cento até setembro de 2013.

Há especulação de que o Brasil vai aumentar os esforços para sustentar a expansão da economia depois que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse esta semana que a Europa vai enfrentar “uma bela de uma recessão” neste ano e o crescimento nos mercados emergentes vai desacelerar. A produção industrial ficou abaixo das previsões de analistas em nove dos últimos 10 meses. A inflação acumulada em 12 meses desacelerou para 5,10 por cento, o menor nível em 19 meses, permanecendo desde agosto de 2010 acima do centro da meta de 4,5 por cento.

“Existe possibilidade, pelo cenário internacional e pouco dinamismo do lado industrial brasileiro”, de o BC baixar a Selic para menos de 8 por cento, disse Jankiel Santos, economista-chefe do Banco Espírito Santo de Investimento SA, em entrevista por telefone de São Paulo. “O Banco Central parece estar mais interessado na atividade que na inflação.”

O presidente do BC, Alexandre Tombini, reduziu a taxa Selic em 350 pontos-base desde agosto para 9 por cento, no maior corte de juro básico entre os países do Grupo dos 20.

Perspectiva de crescimento

A economia brasileira se expandiu 2,7 por cento no ano passado, o segundo pior desempenho desde 2003, e menos do que a Alemanha, que cresceu 3 por cento, e a Suécia, que cresceu 4 por cento. Analistas reduziram suas previsões para o crescimento brasileiro em 2012. O Produto Interno Bruto vai se expandir 3,2 por cento neste ano, de acordo com a projeção mediana de cerca de 100 economistas ouvidos pelo Banco Central em pesquisa publicada nesta semana. Em agosto, eles projetavam uma expansão de 4 por cento.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo publicada ontem, Mantega disse que o crescimento não ficará abaixo de 3 por cento este ano porque o governo tem instrumentos para compensar o impacto da crise da dívida na Região do Euro e garantir que a economia cresça mais do que em 2011.

O real se desvalorizou 7,6 por cento no último mês, com a perspectiva de novas eleições na Grécia já no mês que vem, que ameaçam a implantação das promessas de austeridade e criam receios de que o país abandone o euro. O governo brasileiro também buscou enfraquecer a moeda para proteger a indústria local.


"Deterioração"

“Conforme vemos a deterioração na Grécia, uma maior preocupação na Europa e a possibilidade de uma desaceleração mais forte na China é natural que o mercado comece a precificar cortes mais profundos”, disse Marcelo Salomon, um dos responsáveis pela área de economia da América Latina no Barclays Plc, em entrevista por telefone de Nova York. “Não vemos o governo preocupado com o pass-through da desvalorização do câmbio na inflação.”

A diferença de rendimentos entre os títulos atrelados à inflação com vencimento em 2015 e os prefixados de prazo similar, a chamada taxa implícita de inflação, caiu seis pontos- base ontem para 5,69 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A meta de inflação é de 4,5 por cento, com tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim CTVM Ltda., disse que o BC vai elevar os juros no próximo ano para conter a inflação.

"Testando novos limites"

O BC “vai ter que subir juros no ano que vem”, disse Padovani em entrevista por telefone de São Paulo. “Eles estão testando novos limites agora e podem ter de subir até 100 pontos básicos no próximo ano para conter a inflação por conta do crescimento econômico.”

O BC se negou a fazer comentários em comunicado por e-mail.

O Banco Central Europeu disse ontem que vai suspender temporariamente os empréstimos para alguns bancos gregos para limitar seus riscos. O presidente do BCE, Mario Draghi, sinalizou que a autoridade monetária europeia não vai se comprometer com os princípios-chave para manter a Grécia na Região do Euro. A ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve mostrou que muitos integrantes disseram que a deterioração das perspectivas econômicas podem exigir mais estímulos monetários para manter o ritmo da recuperação, citando a crise de dívida europeia e o aperto fiscal nos Estados Unidos como riscos potenciais.

“Conforme vemos a deterioração do cenário externo, aumenta a possibilidade de o BC cortar o juro por mais tempo”, disse Thiago Carlos, economista da Link SA DTVM.“O Tombini continua colocando peso no cenário externo. A sinalização do BC é de continuar cortando o juro”

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Brasília/Rio de Janeiro - Operadores começaram a apostar pela primeira vez que o Banco Central pode cortar a taxa básica de juros para menos de 8 por cento. O governo estaria mais preocupado em acelerar o crescimento econômico do que com os riscos do enfraquecimento do real sobre inflação.

As taxas de contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2013 caíram 24 pontos-base nos últimos cinco dias para 7,79 por cento, indicando que os investidores estão começando a apostar em uma redução da Selic para a mínima histórica de 7,75 por cento. Os contratos futuros do México sinalizam que o banco central local vai manter a taxa de juros em 4,5 por cento até setembro de 2013.

Há especulação de que o Brasil vai aumentar os esforços para sustentar a expansão da economia depois que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse esta semana que a Europa vai enfrentar “uma bela de uma recessão” neste ano e o crescimento nos mercados emergentes vai desacelerar. A produção industrial ficou abaixo das previsões de analistas em nove dos últimos 10 meses. A inflação acumulada em 12 meses desacelerou para 5,10 por cento, o menor nível em 19 meses, permanecendo desde agosto de 2010 acima do centro da meta de 4,5 por cento.

“Existe possibilidade, pelo cenário internacional e pouco dinamismo do lado industrial brasileiro”, de o BC baixar a Selic para menos de 8 por cento, disse Jankiel Santos, economista-chefe do Banco Espírito Santo de Investimento SA, em entrevista por telefone de São Paulo. “O Banco Central parece estar mais interessado na atividade que na inflação.”

O presidente do BC, Alexandre Tombini, reduziu a taxa Selic em 350 pontos-base desde agosto para 9 por cento, no maior corte de juro básico entre os países do Grupo dos 20.

Perspectiva de crescimento

A economia brasileira se expandiu 2,7 por cento no ano passado, o segundo pior desempenho desde 2003, e menos do que a Alemanha, que cresceu 3 por cento, e a Suécia, que cresceu 4 por cento. Analistas reduziram suas previsões para o crescimento brasileiro em 2012. O Produto Interno Bruto vai se expandir 3,2 por cento neste ano, de acordo com a projeção mediana de cerca de 100 economistas ouvidos pelo Banco Central em pesquisa publicada nesta semana. Em agosto, eles projetavam uma expansão de 4 por cento.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo publicada ontem, Mantega disse que o crescimento não ficará abaixo de 3 por cento este ano porque o governo tem instrumentos para compensar o impacto da crise da dívida na Região do Euro e garantir que a economia cresça mais do que em 2011.

O real se desvalorizou 7,6 por cento no último mês, com a perspectiva de novas eleições na Grécia já no mês que vem, que ameaçam a implantação das promessas de austeridade e criam receios de que o país abandone o euro. O governo brasileiro também buscou enfraquecer a moeda para proteger a indústria local.


"Deterioração"

“Conforme vemos a deterioração na Grécia, uma maior preocupação na Europa e a possibilidade de uma desaceleração mais forte na China é natural que o mercado comece a precificar cortes mais profundos”, disse Marcelo Salomon, um dos responsáveis pela área de economia da América Latina no Barclays Plc, em entrevista por telefone de Nova York. “Não vemos o governo preocupado com o pass-through da desvalorização do câmbio na inflação.”

A diferença de rendimentos entre os títulos atrelados à inflação com vencimento em 2015 e os prefixados de prazo similar, a chamada taxa implícita de inflação, caiu seis pontos- base ontem para 5,69 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A meta de inflação é de 4,5 por cento, com tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim CTVM Ltda., disse que o BC vai elevar os juros no próximo ano para conter a inflação.

"Testando novos limites"

O BC “vai ter que subir juros no ano que vem”, disse Padovani em entrevista por telefone de São Paulo. “Eles estão testando novos limites agora e podem ter de subir até 100 pontos básicos no próximo ano para conter a inflação por conta do crescimento econômico.”

O BC se negou a fazer comentários em comunicado por e-mail.

O Banco Central Europeu disse ontem que vai suspender temporariamente os empréstimos para alguns bancos gregos para limitar seus riscos. O presidente do BCE, Mario Draghi, sinalizou que a autoridade monetária europeia não vai se comprometer com os princípios-chave para manter a Grécia na Região do Euro. A ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve mostrou que muitos integrantes disseram que a deterioração das perspectivas econômicas podem exigir mais estímulos monetários para manter o ritmo da recuperação, citando a crise de dívida europeia e o aperto fiscal nos Estados Unidos como riscos potenciais.

“Conforme vemos a deterioração do cenário externo, aumenta a possibilidade de o BC cortar o juro por mais tempo”, disse Thiago Carlos, economista da Link SA DTVM.“O Tombini continua colocando peso no cenário externo. A sinalização do BC é de continuar cortando o juro”

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