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Por que a alta do Ibovespa não é sinal de calmaria, segundo a Kairós

Fabiano Godoi, sócio e diretor (CIO) da gestora, diz que o mercado está descontado e atrativo, mas alerta que eleições e cenário macro preocupam

Fabiano Godoi, CIO da Kairós, alerta para a volatilidade trazida pelas eleições | Foto: Leo Martins/Kairós (Leo Martins/ Kairós/Divulgação)
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Beatriz Quesada

Publicado em 30 de janeiro de 2022 às 11h00.

Última atualização em 30 de janeiro de 2022 às 12h36.

O mercado acionário brasileiro tem operado na contramão das principais bolsas mundiais neste início de 2022. O Ibovespa caminha para fechar seu melhor mês desde maio do ano passado, enquanto os índices de ações dos Estados Unidos acumulam perdas da ordem de 10% ou mais.

A explicação para a alta na B3 está, entre outros fatores, no apetite do investidor estrangeiro, que voltou a olhar com interesse para o descontado mercado brasileiro após a sequência de perdas registrada em 2021. Um reflexo está no câmbio: o dólar atingiu seu menor patamar em quatro meses e rompeu a barreira dos 5,40 reais.

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Para Fabiano Godoi, sócio e diretor de investimentos (CIO) da Kairós Capital, o mercado brasileiro estava, de fato, muito atrativo, mas ainda não há motivos para avaliar que a calmaria será duradoura.

“Os ativos brasileiros – seja moeda, curva de juros ou bolsa – estavam muito descontados dos pares emergentes, abrindo espaço para recuperação. No entanto não vemos drivers positivos para a economia brasileira”, afirmou Godoi em entrevista à EXAME Invest.

A expectativa do CIO é que o mercado brasileiro volte a apresentar alta volatilidade nos próximos meses de 2022, um ano desafiador em razão do cenário macroeconômico e das eleições presidenciais.

“O mais provável é que o Brasil fique em um ambiente de turbulência em que algumas semanas sejam boas, e outras, ruins, mas sem perder de vista a volatilidade. Por isso, estamos mais alocados em ativos fora do Brasil do que dentro”, destacou Godoi.

Em entrevista, o CIO comentou quais os principais desafios para a economia brasileira e como os recentes acenos no cenário político podem impactar a reação dos mercados às eleições. Confira abaixo os principais pontos.

O senhor mencionou que o cenário macroeconômico continua bastante fragilizado. Quais são os desafios nesse campo e de que forma eles devem impactar o mercado brasileiro?

Um dos mais relevantes é o nível de desemprego, que dificilmente vai cair considerando o forte aperto adotado na política de juros para combater a inflação. Nesse cenário, é difícil imaginar que o PIB cresça de tal forma a permitir que as empresas – mesmo as campeãs – apresentem uma performance espetacular neste ano.

Digo as campeãs porque as empresas que estão listadas na bolsa em geral são as melhores de seus respectivos setores. Normalmente estão mais capitalizadas e têm mais acesso a crédito. São companhias com mais musculatura para passar por momentos difíceis e, inclusive, para capturar participação de mercado de outros concorrentes que sejam mais frágeis.

Os ativos brasileiros não devem surpreender a não ser que ocorra uma virada muito significativa de cenário, como a inflação desacelerando mais rapidamente ou o PIB miraculosamente continuar acelerando. Outra opção de ganhos para o mercado local seria o surgimento de uma terceira via nas eleições.

Como o senhor enxerga o cenário eleitoral para este ano? De que maneira uma terceira via poderia contribuir positivamente?

Desde o momento em que o STF devolveu os direitos políticos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil passou a viver uma prévia do ano eleitoral. O cenário efetivamente só começa a ficar claro em meados de abril com as convenções partidárias, quando se conhece realmente quem são os candidatos, como as alianças estão sendo construídas e talvez apareça algum plano de governo. Nesse momento, teremos um pouco mais de clareza de quais serão as equipes econômicas para fazer uma avaliação mais profunda.

De toda forma, seria interessante ter uma terceira via viável – que conseguisse chegar ao segundo turno – que não fosse nem o atual presidente Jair Bolsonaro nem o ex-presidente Lula, que estão em extremos. Não parece ser o que vai acontecer. O cenário que se desenha é a de uma eleição polarizada entre Lula e Bolsonaro.

O senhor comentou que a chegada de uma terceira via poderia diminuir a volatilidade nas bolsas. Nas últimas semanas, houve o aceno do ex-presidente Lula a Geraldo Alckmin, com reflexos positivos no câmbio e no Ibovespa. O aceno dos presidenciáveis na direção do centro pode impactar essa dinâmica?

A caminhada para o centro no caso dos candidatos tem um potencial de diminuir as tensões para as eleições, uma vez que um cenário muito polarizado em extremos gera mais tensões.

Mas sempre foi expectativa de que o discurso deveria começar a caminhar mais para o centro no momento em que as candidaturas fossem definidas efetivamente nas convenções partidárias.

O que ocorre é que o aceno do Lula para ter Alckmin como vice traz a expectativa de caminhada ao centro até antes do que seria de se esperar em um ambiente eleitoral normal. Pode diminuir a volatilidade antes do esperado.

Enquanto o mercado brasileiro vive um cenário de alívio, os índices americanos registram fortes perdas. Diante das novas expectativas do mercado de que o aperto monetário do Fed seja mais duro do que o esperado no último ano, quais são as projeções para a bolsa americana?

As expectativas de um aperto monetário mais duro, já começando inclusive com alta agora em março, muda a projeção, diminui o espaço de crescimento de ativos mais arriscados e cria um ambiente mais desafiador para que as bolsas performem bem.

Vai depender muito de qual a velocidade da elevação de juros e até onde o Fed vai subir a taxa. Mas o fato de Jerome Powell ter sido mais duro nas mensagens recentes certamente mudou o plano de fundo e tornou a vida mais difícil para os ativos de risco neste ano.

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