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Ações de bancos médios evaporam diante da crise

Crédito escasso e caro tira rentabilidade das instituições financeiras

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2010 às 20h47.

Quem acreditou no potencial dos bancos médios e no ano passado participou das ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) hoje amarga perdas que chegam a quase 80% do valor aplicado. O resultado é reflexo da fuga dos investidores estrangeiros da Bolsa, que levou as ações a despencarem mais que o triplo do Ibovespa no período. Nos IPOs, os investidores de outros países foram os que mais compraram ações dos bancos médios, chegando a embolsar 88% dos papéis ofertados. "Mas, quando a crise apertou, foram os primeiros a deixar o mercado, vendendo suas ações a qualquer preço", diz Marco Aurélio Barbosa, analista-chefe da corretora Coinvalores.

O desempenho dos bancos na Bovespa

Oscilação desde a estréia *
Oscilação no ano (%)*
Valor de mercado (R$ mil) (20/10/08)
Valor de mercado (R$ mil)
(28/12/2007)
Paraná Banco-76,79-61,30348.309927.079
ABC Brasil-75,56-70,80447.6261.607.384
Bicbanco-74,35-71,00820.6463.023.871
Banco Pine-73,26-69,50452.9941.617.682
Banco Cruzeiro do Sul-70,97-59,60653.4811.720.833
Sofisa-69,17-73,10549.2432.100.366
PanAmericano-68,00-62,60804.3142.236.997
Daycoval-67,06-65,901.245.4403.795.893
Indusval-66,34-68,70253.270838.500
Santander-45,9017.739.53431.864.435
Banco do Brasil-43,5042.200.21375.268.858
Unibanco-39,0020.220.44334.626.433
Itaú-30,3073.271.723110.105.680
Bradesco-30,2079.046.887114.995.734
* Até 20/10/2008
Fonte: Economática

As instituições brasileiras, embora nunca tenham trabalhado com o segmento subprime (hipotecas de alto risco), estão sentindo no caixa o impacto da crise financeira que levou gigantes internacionais à lona. A escassez de recursos no mercado colocou os bancos médios em situação bastante delicada - e sem previsão de melhora. Levantar dinheiro para conceder crédito consignado, financiar veículos ou emprestar a micro e pequenas empresas ficou cada vez mais caro, apesar dos esforços do Banco Central para manter a liquidez. "Com um custo de captação em torno de 120% do CDI, emprestar com bom lucro passou a ser uma tarefa árdua", diz Jayme Alves, analista da Gradual Investimentos.

Diferentemente dos grandes bancos, as instituições de médio porte não oferecem serviços de conta corrente, recebem investimentos ou comercializam seguros e títulos de capitalização. Seu caixa, portanto, depende das captações nos mercados externo e interbancário e de instrumentos como os Certificados de Depósito Bancário (CDBs). Como a crise não é só de crédito, mas também de confiança, até as negociações de CDBs não estão sendo fáceis. "Os investidores preferem os títulos dos grandes bancos, ainda que a rentabilidade seja um pouco menor", afirma Luis Miguel Santacreu, analista da agência de classificação de risco Austin Rating.

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As dificuldades não são poucas, mas na visão dos especialistas também não são suficientes para derrubar os bancos brasileiros. Os recursos obtidos com os IPOs, segundo Barbosa, garantem boa parte das operações. "As instituições vão crescer menos daqui pra frente, terão sua rentabilidade reduzida, mas não vão quebrar", diz.

Ações anti-crise

Nas últimas semanas, o Banco Central anunciou uma série de medidas para minimizar o impacto da crise financeira no país. Por meio de mudanças nas regras do depósito compulsório - o dinheiro que os bancos são obrigados a manter junto ao Banco Central - foram liberados 160 bilhões de reais para que os bancos mantenham suas operações de crédito. Assim, o governo esperava destravar o sistema financeiro, garantindo os empréstimos a empresas e consumidores.

A medida provisória editada nesta quarta-feira (22/10), entretanto, levantou dúvidas quanto à eficácia dessas ações. Por meio dela, o governo autorizou o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a comprar total ou parcialmente instituições privadas. Ou seja: abriu caminho para uma possível estatização do sistema bancário brasileiro. "Isso não quer dizer que os bancos privados estão à beira da falência, nem que os estatais vão sair comprando. É apenas uma salvaguarda, um recado do Banco Central dizendo que não vai deixar o sistema quebrar", afirma Barbosa.

"Os bancos brasileiros já passaram por crises muito mais fortes que essa e se saíram muito bem. Nosso histórico de inflação e crises transformou o sistema financeiro no Brasil num dos mais sofisticados do mundo", destaca Jayme Alves. Na avaliação da Austin Rating, os bancos brasileiros apresentam sólida capacidade de solvência e a medida do governo de permitir a compra de privados por estatais irá fortalecer e proteger as instituições de pequeno e médio porte. "Por isso, um movimento de fusões e aquisições deverá acontecer somente se fizer parte das estratégias dos bancos. É uma questão de oportunidade de negócio", diz Santacreu.

E os estrangeiros parecem já ter encontrado essas oportunidades. No dia 3 de outubro, o fundo JP Morgan Writefriars elevou sua participação no banco Indusval para 8,51% do capital total, passando a deter 22,88% das ações preferenciais e se tornando o maior acionista da instituição. Em seguida, foi a vez de investidores representados pela Banca Privada D’Adorra - instituição com sede em um principado entre a Espanha e a França - comprarem 7,5% das ações preferenciais do PanAmericano, o banco controlado pelo empresário Silvio Santos.

No Brasil, ao menos por enquanto, as instituições estão preferindo adquirir carteiras de crédito, incentivadas pelas medidas do Banco Central. Bradesco, Itaú, Unibanco e Santander foram às compras, mas não informaram quanto investiram nas aquisições nem os nomes dos bancos vendedores. Já a Nossa Caixa comprou as carteiras de três bancos por 2,23 bilhões de reais. E todas as instituições admitem estudar novos negócios. Afinal, nos momentos de crise sempre surgem grandes oportunidades.

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