A vitória dos conservadores

O mercado acionário brasileiro estava eufórico no fim de 2005 e no início deste ano. As cotações das ações subiam sem parar, estimuladas tanto pelo enorme fluxo de recursos de investidores internacionais quanto pelo inédito interesse das pessoas físicas por empresas que abriam seu capital ou faziam novos lançamentos em bolsa. Esse clima de festa foi subitamente interrompido em maio. A percepção dos investidores estrangeiros sobre o comportamento das taxas de juro nos Estados Unidos piorou drasticamente, provocando vendas de ações e pesados prejuízos ao redor do mundo. Nesse cenário, os administradores de recursos que obtiveram os melhores desempenhos foram aqueles que souberam avaliar com precisão quanto risco estavam dispostos a correr. Foi o caso da Bradesco Asset Management (Bram), empresa de administração de recursos do maior banco privado brasileiro.

O conservadorismo na medida certa garantiu ao Bradesco o prêmio de melhor gestor de fundos de ações de 2006. Doze dos 82 fundos do banco que foram analisados nesta edição do Guia EXAME de Investimentos Pessoais são carteiras de ações. Desses, quatro foram premiados com cinco e quatro estrelas, levando o Bradesco ao primeiro lugar. O conjunto de fundos do banco obteve rentabilidade de 49% em 12 meses, levemente acima da média da categoria e do Índice Bovespa. "Fomos muito cautelosos ao tomar nossas decisões de investimento", diz Herculano Alves, gestor responsável pelos fundos de ações do Bradesco. Aos 53 anos, esse economista formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e com mestrado em economia pela Fundação Getulio Vargas está na empresa desde 1998. Antes, trabalhou no ABN Amro e no Unibanco.

A estratégia de gestão do banco nos 12 meses dividiu-se em dois momentos distintos. Até o início de 2006, a filosofia foi apostar em empresas que poderiam ganhar com a perspectiva de queda nos juros internos ou com a alta nos preços do petróleo. "Investimos em ações de bancos e em papéis da Petrobras", diz Alves. "Juros menores sempre estimulam a concessão de crédito e melhoram os riscos dos bancos." A estratégia mudou radicalmente entre fevereiro e março. "Na ponta do lápis, não havia razões para acreditar que a bolsa subiria tanto quanto a maioria dos analistas acreditava", diz Alves. Os analistas do Bradesco refizeram as contas e reduziram a projeção do Índice Bovespa do máximo de 50 000 para cerca de 42 000 pontos. "Naquele momento, estávamos menos otimistas que a média do mercado", diz Robert John van Dijk, principal executivo da Bram.

Esse ceticismo refletiu-se em um movimento de redução do peso de ações que já haviam subido muito (e que, para o resto do mercado, prometiam novas altas), trocando-as por papéis menos arriscados. Resultado: os fundos do banco foram menos prejudicados quando as cotações desabaram, em maio. Naquele momento, com os preços baixos, Alves foi às compras. "Aproveitamos para aumentar nossas posições em boas empresas voltadas ao mercado interno, como Duratex e Gerdau", diz ele. As duas ações deverão apresentar bons resultados devido aos prognósticos positivos para a construção civil. Para os próximos meses, Alves permanece otimista com as ações de bancos. Segundo ele, o setor deve ser beneficiado com a continuidade do movimento de expansão do crédito. Ele também acredita no crescimento de empresas de serviços voltadas exclusivamente para o mercado brasileiro, como a Lojas Americanas. "As perspectivas são boas e queremos aproveitá-las", diz. Cautelosamente, é claro.