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A Itália é uma ameaça para o mercado financeiro?

Para pesquisador, problema do país é “feito em casa” e pode ser solucionado sem o risco de contágio

Senado italiano: o plano de ajuste, que foi retocado e endurecido nos últimos dias, deverá permitir ao país alcançar o déficit zero em 2014 (Alberto Pizzoli/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 18 de julho de 2011 às 12h31.

São Paulo – Os mercados financeiros estão mais seletivos após o aumento das preocupações com a situação fiscal de alguns países europeus, explica o pesquisador e economista italiano, Paolo Manasse. Segundo ele, os investidores não estão mais penalizando os títulos da dívida dos governos em conjunto e agora agem individualmente.

“O que parece é que o mercado financeiro está se tornando mais seletivo. Eles não estão em pânico. Estão discriminando melhor entre a dívida boa e a ruim. Não estão ameaçando todos países”, destaca Manasse em entrevista para EXAME.com. O economista leciona na Universidade de Bolonha, na Itália, e também foi consultor do FMI, OCDE e o Banco Mundial.

Em seu estudo “O medo de contágio na Europa”, o economista revela que a correlação entre os juros dos títulos gregos e outros, como a Itália, reduziu bastante. “As evidências são de que os efeitos do contágio da Grécia foram importantes há alguns meses, o que afetou os juros e os spreads com o CDS (Credit Default Swaps) na Europa. Mas o efeito ficou menos importante”, analisa.

Itália

Manasse explica que o problema italiano, por exemplo, é “feito em casa”. Ou seja, não tem ligação com um contágio da Grécia e pode ser resolvido sem a ajuda do Banco Central Europeu (BCE) ou do Fundo Monetário Internacional (FMI). O Parlamento italiano aprovou na semana passada um plano de austeridade fiscal que prevê a redução de 40 bilhões de euros no déficit orçamentário, que chegou a 4,6% do PIB no ano passado, até 2014. A dívida pública italiana chegou a um recorde de 1,89 trilhão de euros em maio.

O problema é que a Itália terá eleições gerais em 2013, durante a implementação dos cortes aprovados nesta semana. O líder da oposição, o democrata Pierluigi Bersani, disse que caso o seu partido ganhe o pleito irá provavelmente alterar os termos do plano. “Se chegarmos ao poder, iremos manter os objetivos de déficit, mas alteraremos a composição do orçamento”, disse Bersani.

“O plano não tem muito crédito porque atrasa os cortes mais dolorosos de gastos para 2013 e 2014. O mercado questiona a habilidade de um governo tão fraco em aplicar o plano tão perto de uma nova eleição. Por isso, o risco de percepção cresce e o juro pedido para os títulos italiano também”, aponta Manasse. Ele ressalta que o governo precisaria agir ainda em 2011 e 2012 de forma a convencer os investidores.

“Se o governo não reagir de uma forma convincente haverá um rebaixamento do rating e um forte aumento do juro na Itália. E um corte na nota do país seria terrível”, alerta. As agências Moody’s e Standard and Poor’s alteraram a perspectiva do rating de neutra para negativa, o que pode indicar uma possível redução nos próximos meses.

"Com um pano de fundo de taxas de juros mais altas e crescimento econômico fraco, o governo pode ter dificuldades para gerar os superávits primários necessários para colocar a relação dívida/PIB e os encargos com juros numa tendência sólida de queda", disse a Moody’s em nota publicada em 17 de junho. “O governo tem a possibilidade de resolver isso agora. E o que ele precisa é antecipar os cortes e não adiá-los por dois anos. Isso resolveria o problema porque não é um contágio, mas sim um feito em casa. Um aumento no juro pode ser devastador e tornar o país insolvente”, conclui o especialista.

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São Paulo – Os mercados financeiros estão mais seletivos após o aumento das preocupações com a situação fiscal de alguns países europeus, explica o pesquisador e economista italiano, Paolo Manasse. Segundo ele, os investidores não estão mais penalizando os títulos da dívida dos governos em conjunto e agora agem individualmente.

“O que parece é que o mercado financeiro está se tornando mais seletivo. Eles não estão em pânico. Estão discriminando melhor entre a dívida boa e a ruim. Não estão ameaçando todos países”, destaca Manasse em entrevista para EXAME.com. O economista leciona na Universidade de Bolonha, na Itália, e também foi consultor do FMI, OCDE e o Banco Mundial.

Em seu estudo “O medo de contágio na Europa”, o economista revela que a correlação entre os juros dos títulos gregos e outros, como a Itália, reduziu bastante. “As evidências são de que os efeitos do contágio da Grécia foram importantes há alguns meses, o que afetou os juros e os spreads com o CDS (Credit Default Swaps) na Europa. Mas o efeito ficou menos importante”, analisa.

Itália

Manasse explica que o problema italiano, por exemplo, é “feito em casa”. Ou seja, não tem ligação com um contágio da Grécia e pode ser resolvido sem a ajuda do Banco Central Europeu (BCE) ou do Fundo Monetário Internacional (FMI). O Parlamento italiano aprovou na semana passada um plano de austeridade fiscal que prevê a redução de 40 bilhões de euros no déficit orçamentário, que chegou a 4,6% do PIB no ano passado, até 2014. A dívida pública italiana chegou a um recorde de 1,89 trilhão de euros em maio.

O problema é que a Itália terá eleições gerais em 2013, durante a implementação dos cortes aprovados nesta semana. O líder da oposição, o democrata Pierluigi Bersani, disse que caso o seu partido ganhe o pleito irá provavelmente alterar os termos do plano. “Se chegarmos ao poder, iremos manter os objetivos de déficit, mas alteraremos a composição do orçamento”, disse Bersani.

“O plano não tem muito crédito porque atrasa os cortes mais dolorosos de gastos para 2013 e 2014. O mercado questiona a habilidade de um governo tão fraco em aplicar o plano tão perto de uma nova eleição. Por isso, o risco de percepção cresce e o juro pedido para os títulos italiano também”, aponta Manasse. Ele ressalta que o governo precisaria agir ainda em 2011 e 2012 de forma a convencer os investidores.

“Se o governo não reagir de uma forma convincente haverá um rebaixamento do rating e um forte aumento do juro na Itália. E um corte na nota do país seria terrível”, alerta. As agências Moody’s e Standard and Poor’s alteraram a perspectiva do rating de neutra para negativa, o que pode indicar uma possível redução nos próximos meses.

"Com um pano de fundo de taxas de juros mais altas e crescimento econômico fraco, o governo pode ter dificuldades para gerar os superávits primários necessários para colocar a relação dívida/PIB e os encargos com juros numa tendência sólida de queda", disse a Moody’s em nota publicada em 17 de junho. “O governo tem a possibilidade de resolver isso agora. E o que ele precisa é antecipar os cortes e não adiá-los por dois anos. Isso resolveria o problema porque não é um contágio, mas sim um feito em casa. Um aumento no juro pode ser devastador e tornar o país insolvente”, conclui o especialista.

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