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6 fatores que devem definir o rumo dos mercados em 2021

Recuperação econômica e estímulos internacionais devem contribuir para novas altas na bolsa, mas incertezas fiscais ainda dominam cenário interno

Joe Biden: presidente eleito dos Estados Unidos terá em mãos decisões com grandes impactos sobre o mercado (The Washington Post / Colaborador/Getty Images)

Joe Biden: presidente eleito dos Estados Unidos terá em mãos decisões com grandes impactos sobre o mercado (The Washington Post / Colaborador/Getty Images)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 6 de janeiro de 2021 às 13h31.

Última atualização em 11 de janeiro de 2021 às 15h36.

Com novas máximas históricas registradas pela bolsa brasileira neste início de ano, 2021 começa em tom de otimismo no mercado. Parte da esperança deriva de fatores internacionais, como o início da vacinação, a continuação de estímulos monetários e fiscais nas principais economias do mundo e um esperado arrefecimento da guerra comercial entre China e Estados Unidos

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Mas, ainda que a expectativa seja a de mais um ano positivo para o Ibovespa, com projeções de 128.000 pontos a 140.000 pontos até o fim do ano, questões internas devem seguir como pontos de instabilidade. 

Veja a seguir 6 fatores que devem definir os rumos dos mercados nos próximos meses, segundo analistas:

1. Vacinas

Vacina covid-19 AstraZeneca/Oxford

Vacina da AstraZeneca: Reino Unido foi o primeiro país a utilizar doses fora de testes (GEOFF CADDICK/Getty Images)

Com novas medidas de restrições sendo adotadas no mundo inteiro para conter a segunda onda do coronavírus, o sucesso das vacinas deve ter papel fundamental sobre a direção das bolsas de valores neste ano. Embora uma série de países já tenha iniciado seus planos de vacinação, os números de infecções seguem aumentando a níveis próximos do pico da doença e restam dúvidas sobre se as vacinas já desenvolvidas serão eficazes contra a nova cepa do vírus.

“Sem vacina, volta a insegurança que vimos no ano passado, com mais lockdowns sendo decretados. E isso levanta a questão de até que ponto os governos e bancos centrais conseguiriam suportar a economia”, diz Charles Susskind, sócio-fundador da CMS Invest

No Brasil, porém, a preocupação em cima da vacina é ainda maior, tendo em vista a falta de clareza sobre o plano nacional de vacinação, que passa pelas dificuldades de distribuição até a falta de seringas. “A logística da vacina está se mostrando bastante desafiadora. Se esse ‘gargalo’ se mostrar ainda mais complexo, poderemos ter atrasos relevantes no cronograma de vacinação e, consequentemente, uma frustração na aceleração da atividade econômica”, afirma em relatório Bruno Lima, analista-chefe da EXAME Research.

2. Crise fiscal

Plenário- Sessão Solene

Apoiado por Rodrigo Maia, Baleia Rossi pode se tornar o próximo presidente da Câmara (Luis Macedo/Agência Câmara)

Os entraves para o início da vacinação no Brasil e o constante avanço do coronavírus no mundo estão aumentando as preocupações sobre a sustentabilidade do quadro fiscal do país. Segundo Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset, esses temores estiveram presentes logo no primeiro pregão de 2021, quando o dólar teve sua maior apreciação desde setembro do ano passado. 

“Com o avanço da pandemia no mundo inteiro, existe a possibilidade de extensão do auxílio emergencial e até uma prorrogação do estado calamidade pública. Isso fez o real ter um desempenho pior que seus pares”, comentou.

Mas além da falta de espaço para mais gastos, a continuidade do bom momento no mercado brasileiro depende também da aprovação de reformas que ajudem a equalizar a situação fiscal brasileira. “Havia a expectativa de que a reforma administrativa e tributária andassem, mas tudo ficou para 2021”, comenta Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos.

Sinais do sucesso ou insucesso da agenda de reformas devem surgir já no início do ano, com as eleições para a presidência do Senado e da Câmara. “Com a vitória de Baleia Rossi na Câmara (apoiado pelo atual presidente Rodrigo Maia) as negociações devem ser mais longas, enquanto com um candidato pró-governo, como o Arthur Lira, fica muito mais fácil”, diz Susskind.

3. Estímulos fiscais e monetários

Jerome Powell, presidente do Fed chega para uma coletiva de imprensa após a reunião do Comitê em Washington. 11 de dezembro de 2019. REUTERS / Joshua Roberts

Jerome Powell: presidente do Fed deverá dar continuidade à política de estímulos por meio de juros baixos e recompra de títulos (Joshua Roberts/Reuters)

Os estímulos fiscais e monetários, fundamentais para a retomada dos mercados a partir de abril de 2020, devem seguir presentes em 2021, ao menos nas principais economias do mundo. Embora a tendência seja de uma diminuição gradual do volume repassado por governos e bancos centrais, a vitória de Joe Biden nos Estados Unidos - com o Congresso a seu favor - deve dar um fôlego ainda maior para os pacotes. 

“Isso gera uma liquidez importante no mercado financeiro, além de acelerar a retomada da atividade econômica”, diz Carvalho. Segundo ele, a continuação dos estímulos por meio de projetos de infraestrutura na China também deve ajudar a manter apreciado o valor de commodities, em especial o minério de ferro, que já está acima da marca de 150 dólares por tonelada, bem além dos da cotação de 90 dólares do início de 2020.

Mas, segundo Lima, há sérios riscos de os estímulos não serem suficientes para engatar a recuperação econômica de forma sustentável e ainda gerarem efeitos colaterais indesejados. “O pior cenário seria inflação sem aceleração da atividade econômica, o que levaria a um aumento de juros global, e tenderia a valorizar o dólar”, explica. 

4. Fim do auxílio emergencial

Paulo Guedes: após gastos com auxílios, ministro da Economia inicia ano em busca de controle fiscal (Cristiano Mariz/Arquivo Abril)

Enquanto as principais economias do mundo como a americana e a britânica deram continuidade a programas de estímulo neste ano, a frágil situação fiscal brasileira deve limitar a atuação do governo nesta frente. 

Sem auxílios previstos para 2021, o mercado espera alguma desaceleração, principalmente, do varejo, que bateu recorde de vendas em 2020 impulsionado pelo “coronavoucher”. 

“O auxílio emergencial fez com que muitas famílias tivessem um aumento do poder de compra em 2020 - e não apenas uma reposição de renda. Isso ajudou a esquentar o varejo. Com o fim do auxílio, devemos ver uma redução significativa desse poder de compra, o que deve esfriar o setor”, conta Susskind.

5. Volta da inflação

inflação, supermercado – reinaldo canato-veja

Inflação dos alimentos pressionou IPCA em 2020 / Reinaldo Canato/ VEJA (Reinaldo Canato/VEJA)

Pressionada pela alta do dólar, a inflação voltou a dar as caras a partir do segundo semestre do ano passado - e, mesmo com a economia ainda abatida pelos impactos do coronavírus, fechou o ano acima do centro da meta de 4%, em 4,23%. 

Com a volta da inflação, crescem no mercado as expectativas sobre elevação de juros neste ano, quebrando o ciclo de queda iniciado ainda em 2016. 

“Temos que ver como a inflação vai reagir no mundo e no Brasil e qual impacto isso terá sobre os juros. No exterior, vai demorar mais para uma alta de juros, mas no Brasil nenhum economista vê a taxa de 2% como sustentável. É até saudável discutir uma alta de juros, principalmente se tiver um crescimento mais forte”, diz Mauro Morelli, sócio da Davos.

No boletim Focus, a mediana das projeções aponta para uma elevação da taxa Selic de 1 ponto percentual até o fim do ano, passando de 2% ao ano para 3%. No entanto, os juros futuros precificam alta somente para o segundo semestre do ano.

6. Guerra comercial 

Com expectativa de alta de 7,9% do PIB em 2021, China segue em busca soberania mundial

Com expectativa de alta de 7,9% do PIB em 2021, China segue como ameaça à soberania mundial dos Estados Unidos (Kevin Lamarqu/Reuters)

Bastante presente durante o governo Trump, a guerra comercial entre China e Estados Unidos deve continuar durante o governo Biden, mas sem o mesmo tom de antes, na opinião de analistas. “Com o Biden deve haver menos geração de conflito, o que não quer dizer que ele não defenderá os interesses americanos, mas será forma menos conflituosa com mais negociação, o que é bom para o mercado”, diz Susskind.

Embora as expectativas sejam de um esfriamento nas tensões, pouco após ser eleito presidente dos Estados Unidos, Biden chegou a afirmar em entrevista ao The New York Times que, ao menos no primeiro momento, não pretende tirar as tarifas adicionais de 25% impostas sobre metade dos produtos importados da China. Na mesma entrevista, Biden também chegou a dizer que lutaria “como um inferno” para atrair investimentos para a “América primeiro” - termo bastante usado por seu adversário Donald Trump.

Se Biden adotará a postura pacífica de Barack Obama, de quem foi vice-presidente por 8 anos, ou se dará continuidade - mesmo que à sua maneira - à guerra iniciada por seu antecessor, só o tempo dirá. 

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