10 pontos para o investidor avaliar em 2013, segundo a S&P
A Standard & Poor’s traçou perspectivas sobre o que pode afetar a classificação de crédito das empresas latino americanas em 2013
Da Redação
Publicado em 13 de dezembro de 2012 às 05h00.
São Paulo - A agência de classificação de risco Standard & Poor’s respondeu a 10 questões principais sobre as perspectivas para a América Latina em 2013.
De forma geral, a o cenário que a agência projeta para a região inclui um crescimento econômico de cerca de 3,5% em 2013, o que ainda dá suporte a expectativa de uma relativa estabilidade da qualidade de crédito.
Já em um cenário um pouco mais pessimista, eventos no exterior podem alterar o atual quadro latino-americano e afetar os ratings de algumas empresas. Veja as perspectivas para 10 aspectos da economia e dos mercados latino americanos:
1. Como a Europa e a China estão afetando o crescimento econômico da América Latina?
O Brasil é o maior responsável pela queda de mais de 1 ponto percentual no crescimento do PIB da região. A economia brasileira foi fortemente afetada com a crise no continente europeu e no gigante asiático, uma vez que os dois são os dois maiores parceiros de negócio do país. A indústria brasileira é competitiva globalmente e o sentimento de negócios é altamente influenciado pelos acontecimentos mundiais.
Por outro lado, o México, segunda maior economia, é predominantemente um exportador de manufaturados para os EUA (destino de 80% das exportações) e está blindado contra a crise na Europa e na China .
2. O que uma queda nos preços das commodities pode significar para a região?
As economias sul americanas são mais expostas à commodities que as de outros países da América Latina, basta olhar o quanto das exportações desses países é exclusivamente de commodities: na Venezuela, 95%, no Peru 75%, Argentina, Chile e Colômbia tem 66% e o Brasil tem 60% de suas exportações voltadas para esses produtos.
Com tamanha exposição, uma virada nos preços das commodities teria um impacto duplo nesses países: tanto as receitas de exportação, como a demanda doméstica diminuiriam.
A S&P destaca, no entanto, que não está incluída no cenário base uma grande queda nos preços. Além disso, como a região exporta uma grande variedade de commodiites que vai de petróleo a metais e agricultura, é pouco provável que todos os setores sejam afetados ao mesmo tempo.
No caso de uma recessão global, os preços dos alimentos não tendem a cair tão acentuadamente como alguns metais ou o petróleo, o que fornece alguma estabilidade para os países exportadores de produtos agrícolas, como a Argentina e o Brasil.
3. As reservas internacionais da América Latina são suficiente para lidar com choques externos?
Segundo a agência, a região está muito mais forte no que se refere à equilíbrio do que esteve no passado.
Na última década, as reservas internacionais cresceram acentuadamente na região, passando de 160 bilhões de dólares em 2002 para 800 bilhões de dólares em 2012. No Brasil, por exemplo, as reservas saltaram de 40 bilhões de dólares para 370 bilhões de dólares no período.
A S&P diz que apesar de estar em uma posição muito mais forte no geral, a região deve permanecer disciplinada em relação à como e quando usar suas reservas. Além disso, a agência destaca que países com ratings mais baixos são mais vulneráveis a choques externos.
4. Quais são as perspectivas para Venezuela e México após as eleições deste ano?
Segundo a agência, no caso venezuelano, o resultado da eleição – na verdade, reeleição do presidente Hugo Chavez -, não modificou nenhuma avaliação ou pressuposto essencial ao rating do país. As análises já incorporam um grande grau de incerteza política que se equilibra com o balanço sólido para obter o B+.
A S&P espera continuidade nas intervenções no setor público em diferentes partes da economia, o que vai continuar a restringir o investimento e o crescimento a médio prazo. Destaca-se também a probabilidade de o governo promover a desvalorização da moeda nacional para compensar os 4 anos de inflação de 30% ao ano.
Já o México é o caso oposto, com sua combinação de um histórico político estável, gestão macroeconômica prudente e vulnerabilidades fiscais e externas moderadas. A agência espera que o governo de Enrique Peña Nieto, presidente eleito, tenha sinais políticos mais concretos.
Segundo a S&P, uma elevação de rating é possível se forem vistos sinais mais fortes de médio prazo para as finanças públicas e para as perspectivas de crescimento, o que poderia acontecer se o governo por em práticas políticas que fortaleçam a receita independente de petróleo ou que encoraje mais investimento doméstico.
5. Como uma queda acentuada nos preços das commodities afetaria as empresas da região?
A expectativa da S&P é de que os produtores de commodities mantenham um perfil financeiro conservador a fim de sustentar a sua credibilidade durante ciclos de preços mais baixos. Em geral, empresas que possuem grau de investimento são menos sensíveis a uma queda dos preços das commodities, o contrário ocorre com as classificadas como grau especulativo.
No caso das empresas mineradoras, apesar do enfraquecimento do preço do metal devido ao enfraquecimento global e em especial da China, não foram realizadas ações de rating. Segundo a S&P, na maioria dos casos, essas empresas têm forte liquidez e fluxo de caixa positivo graças aos baixos custos do negócio.
Já no caso das empresas de papel e celulose, várias ações de rating foram realizadas, mas nem todas foram motivadas pelos baixos preços da celulose. A maioria das empresas está implementando ou concluindo grandes expansões de capacidade e ainda estão altamente alavancadas.
Os produtores de alimentos enfrentaram uma alta dos preços dos grãos por conta da forte seca que afetou a produção americana. Essas empresas, que tiveram seus primeiros semestre prejudicados, conseguiram amenizar o impacto em seus ratings com maiores demandas no mercado doméstico.
6. Liquidez é um grande risco para as empresas da região?
Os bancos nacionais e os investidores são as principais fontes de financiamento das empresas latino-americanas. No entanto, a agência espera que eles ofereçam prazos mais curtos em 2013, e, em alguns casos, os bancos podem não estar dispostos a emprestar para empresas altamente alavancadas.
Sendo assim, o refinanciamento de curto prazo da dívida deve continuar a ser a principal ameaça para os emissores corporativos regionais, particularmente aqueles das categorias inferiores de rating, e, nesse sentido, a liquidez será um fator determinante da estabilidade do rating.
Os setores que tem mais empresas com restrições de liquidez são os de materiais de construção (40% têm liquidez menor que a adequada ou fraca), de produtos químicos (36%), de telecomunicações e mídia (32%) e de construtoras (32 %).
7. Como as mudanças de regulação recentes afetam a posição de crédito das concessionárias brasileiras?
De forma geral, as recentes mudanças na regulamentação prejudicam a qualidade de crédito de empresas de energia elétrica brasileiras. Mas, segundo a S&P, o impacto vai depender de como as mudanças são significativas para cada concessão específica,e como as empresas estão se preparando estas mudanças, implementando estratégias apropriadas para mitigar as tarifas mais baixas.
8. Como os projetos de infraestrutura são financiados na América Latina?
Os empréstimos dos bancos continuam a ser a principal fonte de recursos para as operações de financiamento de projetos na América Latina. Historicamente, a maior parte dos financiamentos era feita em dólares americanos de credores internacionais, mas os bancos regionais e os mercados de capitais vêm aumentando sua parcela de participação no financiamento de infraestrutura.
As operações são geralmente financiadas com uma mistura de cerca de 25% de capital próprio com 75% com dívida. Desses 75%, 60% são sob a forma de empréstimos bancários, os outros 20% vem de instituições financeiras internacionais, tais como bancos de desenvolvimento como o BNDES , ou organizações multilaterais de crédito, como a Corporação Andina de Fomento (CAF). Os 20% restantes são financiados através de bônus no mercado de capitais.
9. A expansão do crédito vai continuar na América Latina?
A S&P vê sinais de excesso de aquecimento no sistema financeiro latino americano e espera que os reguladores tenham atenção à exposição a empréstimos bancários e tomem medidas para assegurar que os bancos mantenham os padrões de qualidade de ativos.
Embora espere que o crescimento do crédito nesses países vá diminuir, a S&P acredita que é provável que se mantenha a uma taxa de 15% a 20%, o que pode levar os bancos a estarem sujeitos a maiores riscos.
10. Os bancos europeus podem por suas filiais latino americanas em perigo?
As filiais latinas americanas de bancos europeus têm sido pouco afetadas pela crise financeira que atingir o continente. Segundo a S&P, isso ocorre porque as subsidiárias vêm tendo boas performances em duas estratégias de negócios focadas localmente.
A agência destaca ainda que nas avaliações de ratings das subsidiárias não são incorporadas as situações dos bancos pais. No geral, a S&P não espera mudanças de classificação em filiais bancárias locais decorrente de uma potencial deterioração na qualidade de crédito dos bancos europeus.
São Paulo - A agência de classificação de risco Standard & Poor’s respondeu a 10 questões principais sobre as perspectivas para a América Latina em 2013.
De forma geral, a o cenário que a agência projeta para a região inclui um crescimento econômico de cerca de 3,5% em 2013, o que ainda dá suporte a expectativa de uma relativa estabilidade da qualidade de crédito.
Já em um cenário um pouco mais pessimista, eventos no exterior podem alterar o atual quadro latino-americano e afetar os ratings de algumas empresas. Veja as perspectivas para 10 aspectos da economia e dos mercados latino americanos:
1. Como a Europa e a China estão afetando o crescimento econômico da América Latina?
O Brasil é o maior responsável pela queda de mais de 1 ponto percentual no crescimento do PIB da região. A economia brasileira foi fortemente afetada com a crise no continente europeu e no gigante asiático, uma vez que os dois são os dois maiores parceiros de negócio do país. A indústria brasileira é competitiva globalmente e o sentimento de negócios é altamente influenciado pelos acontecimentos mundiais.
Por outro lado, o México, segunda maior economia, é predominantemente um exportador de manufaturados para os EUA (destino de 80% das exportações) e está blindado contra a crise na Europa e na China .
2. O que uma queda nos preços das commodities pode significar para a região?
As economias sul americanas são mais expostas à commodities que as de outros países da América Latina, basta olhar o quanto das exportações desses países é exclusivamente de commodities: na Venezuela, 95%, no Peru 75%, Argentina, Chile e Colômbia tem 66% e o Brasil tem 60% de suas exportações voltadas para esses produtos.
Com tamanha exposição, uma virada nos preços das commodities teria um impacto duplo nesses países: tanto as receitas de exportação, como a demanda doméstica diminuiriam.
A S&P destaca, no entanto, que não está incluída no cenário base uma grande queda nos preços. Além disso, como a região exporta uma grande variedade de commodiites que vai de petróleo a metais e agricultura, é pouco provável que todos os setores sejam afetados ao mesmo tempo.
No caso de uma recessão global, os preços dos alimentos não tendem a cair tão acentuadamente como alguns metais ou o petróleo, o que fornece alguma estabilidade para os países exportadores de produtos agrícolas, como a Argentina e o Brasil.
3. As reservas internacionais da América Latina são suficiente para lidar com choques externos?
Segundo a agência, a região está muito mais forte no que se refere à equilíbrio do que esteve no passado.
Na última década, as reservas internacionais cresceram acentuadamente na região, passando de 160 bilhões de dólares em 2002 para 800 bilhões de dólares em 2012. No Brasil, por exemplo, as reservas saltaram de 40 bilhões de dólares para 370 bilhões de dólares no período.
A S&P diz que apesar de estar em uma posição muito mais forte no geral, a região deve permanecer disciplinada em relação à como e quando usar suas reservas. Além disso, a agência destaca que países com ratings mais baixos são mais vulneráveis a choques externos.
4. Quais são as perspectivas para Venezuela e México após as eleições deste ano?
Segundo a agência, no caso venezuelano, o resultado da eleição – na verdade, reeleição do presidente Hugo Chavez -, não modificou nenhuma avaliação ou pressuposto essencial ao rating do país. As análises já incorporam um grande grau de incerteza política que se equilibra com o balanço sólido para obter o B+.
A S&P espera continuidade nas intervenções no setor público em diferentes partes da economia, o que vai continuar a restringir o investimento e o crescimento a médio prazo. Destaca-se também a probabilidade de o governo promover a desvalorização da moeda nacional para compensar os 4 anos de inflação de 30% ao ano.
Já o México é o caso oposto, com sua combinação de um histórico político estável, gestão macroeconômica prudente e vulnerabilidades fiscais e externas moderadas. A agência espera que o governo de Enrique Peña Nieto, presidente eleito, tenha sinais políticos mais concretos.
Segundo a S&P, uma elevação de rating é possível se forem vistos sinais mais fortes de médio prazo para as finanças públicas e para as perspectivas de crescimento, o que poderia acontecer se o governo por em práticas políticas que fortaleçam a receita independente de petróleo ou que encoraje mais investimento doméstico.
5. Como uma queda acentuada nos preços das commodities afetaria as empresas da região?
A expectativa da S&P é de que os produtores de commodities mantenham um perfil financeiro conservador a fim de sustentar a sua credibilidade durante ciclos de preços mais baixos. Em geral, empresas que possuem grau de investimento são menos sensíveis a uma queda dos preços das commodities, o contrário ocorre com as classificadas como grau especulativo.
No caso das empresas mineradoras, apesar do enfraquecimento do preço do metal devido ao enfraquecimento global e em especial da China, não foram realizadas ações de rating. Segundo a S&P, na maioria dos casos, essas empresas têm forte liquidez e fluxo de caixa positivo graças aos baixos custos do negócio.
Já no caso das empresas de papel e celulose, várias ações de rating foram realizadas, mas nem todas foram motivadas pelos baixos preços da celulose. A maioria das empresas está implementando ou concluindo grandes expansões de capacidade e ainda estão altamente alavancadas.
Os produtores de alimentos enfrentaram uma alta dos preços dos grãos por conta da forte seca que afetou a produção americana. Essas empresas, que tiveram seus primeiros semestre prejudicados, conseguiram amenizar o impacto em seus ratings com maiores demandas no mercado doméstico.
6. Liquidez é um grande risco para as empresas da região?
Os bancos nacionais e os investidores são as principais fontes de financiamento das empresas latino-americanas. No entanto, a agência espera que eles ofereçam prazos mais curtos em 2013, e, em alguns casos, os bancos podem não estar dispostos a emprestar para empresas altamente alavancadas.
Sendo assim, o refinanciamento de curto prazo da dívida deve continuar a ser a principal ameaça para os emissores corporativos regionais, particularmente aqueles das categorias inferiores de rating, e, nesse sentido, a liquidez será um fator determinante da estabilidade do rating.
Os setores que tem mais empresas com restrições de liquidez são os de materiais de construção (40% têm liquidez menor que a adequada ou fraca), de produtos químicos (36%), de telecomunicações e mídia (32%) e de construtoras (32 %).
7. Como as mudanças de regulação recentes afetam a posição de crédito das concessionárias brasileiras?
De forma geral, as recentes mudanças na regulamentação prejudicam a qualidade de crédito de empresas de energia elétrica brasileiras. Mas, segundo a S&P, o impacto vai depender de como as mudanças são significativas para cada concessão específica,e como as empresas estão se preparando estas mudanças, implementando estratégias apropriadas para mitigar as tarifas mais baixas.
8. Como os projetos de infraestrutura são financiados na América Latina?
Os empréstimos dos bancos continuam a ser a principal fonte de recursos para as operações de financiamento de projetos na América Latina. Historicamente, a maior parte dos financiamentos era feita em dólares americanos de credores internacionais, mas os bancos regionais e os mercados de capitais vêm aumentando sua parcela de participação no financiamento de infraestrutura.
As operações são geralmente financiadas com uma mistura de cerca de 25% de capital próprio com 75% com dívida. Desses 75%, 60% são sob a forma de empréstimos bancários, os outros 20% vem de instituições financeiras internacionais, tais como bancos de desenvolvimento como o BNDES , ou organizações multilaterais de crédito, como a Corporação Andina de Fomento (CAF). Os 20% restantes são financiados através de bônus no mercado de capitais.
9. A expansão do crédito vai continuar na América Latina?
A S&P vê sinais de excesso de aquecimento no sistema financeiro latino americano e espera que os reguladores tenham atenção à exposição a empréstimos bancários e tomem medidas para assegurar que os bancos mantenham os padrões de qualidade de ativos.
Embora espere que o crescimento do crédito nesses países vá diminuir, a S&P acredita que é provável que se mantenha a uma taxa de 15% a 20%, o que pode levar os bancos a estarem sujeitos a maiores riscos.
10. Os bancos europeus podem por suas filiais latino americanas em perigo?
As filiais latinas americanas de bancos europeus têm sido pouco afetadas pela crise financeira que atingir o continente. Segundo a S&P, isso ocorre porque as subsidiárias vêm tendo boas performances em duas estratégias de negócios focadas localmente.
A agência destaca ainda que nas avaliações de ratings das subsidiárias não são incorporadas as situações dos bancos pais. No geral, a S&P não espera mudanças de classificação em filiais bancárias locais decorrente de uma potencial deterioração na qualidade de crédito dos bancos europeus.