Juro alto fecha a torneira de recursos nos bancos e o setor imobiliário pede mais crédito
Grande encarecedor do crédito imobiliário atualmente são os saques observados na poupança nos últimos meses
Repórter Exame IN
Publicado em 11 de abril de 2023 às 17h45.
Última atualização em 11 de abril de 2023 às 18h02.
A Selic a 13,75% também está sendo um remédio amargo para o setor imobiliário. Os juros básicos mais altos e o cenário macroeconômico, com mais famílias endividadas, têm diminuido a oferta de financiamento para compra de imóveis. Nesse contexto, a taxa de juro do financiamento imobiliário ficou mais alta, chegando a dois dígitos.
O grande encarecedor do crédito imobiliário, no entanto, são os saques observados na poupança nos últimos meses. Em janeiro e fevereiro, a retirada de recursos da caderneta de poupança bateu recorde. Em março, esse saldo negativo diminui, sendo de R$ 6,09 bilhões. No entanto, no acumulado do ano, essa retirada já é a maior desde 1995, segundo dados Banco Central, chegando a R$ 51,23 bilhões.
Saques da poupança deixam crédito imobiliário mais caro
A poupança principal fonte de captação dos bancos para oferecer crédito a quem está comprando um imóvel. Diante da retirada de recursos da caderneta, os bancos começaram a ter de buscar fontes mais caras, como letras de crédito (LCIs e LIGs) e certificados de recebíveis, os CRIs.
Diante disso, tanto Santander, quanto Itaú e Bradesco elevaram os juros do crédito imobiliário. Líder no crédito imobiliário e com as menores taxas, a Caixa também anunciou aumento no começo de abril.
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"A caderneta de poupança tem uma taxa de juros que trava em TR +6,17%, com isso o banco tem um spread e pode manter uma taxa de juros menor que 10% em situações normais. A poupança artificialmente ela traz a taxa de juros para abaixo de dois dígitos e taxa de juros abaixo de dois dígitos é uma condição que se tem no mundo inteiro para ter um gatilho no mercado imobiliário", disse Luiz França, presidente daAssociação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias, a Abrainc, em evento promovido nesta terça-feira, 11. Nos últimos doze meses, porém,o saldo na caderneta é negativo.
Setor sugere reduzir os montantes destinados aos depósitos compulsórios
As incorporadoras tem tentado convencer o Banco Central a ceder 5% dos recursos destinados aos depósitos compulsórios.Dos recursos dos bancos, 65% tem que ser destinado ao crédito imobiliário, 15% fica como recurso livre e 20% deposita junto ao Banco Central, que é remunerado na mesma taxa que o poupador recebe. "O que estamos propondo é que o BC libere 5% desse compulsório e destine ao crédito imobiliário, mas somente aos imóveis novos, que são os que geram emprego. Isso traria uma injeção no mercado de R$ 38 bilhões de reais", explica França.
Segundo ele, bancos têm dito que esse ano o montante de financiamento, que foi na ordem de R$ 185 bilhões no ano passado, deve ficar entre R$ 140 bilhões e R$ 150 bilhões. "Com essa injeção, estabilizamos. Para o mercado é fundamental que o BC faça essa liberação de compulsório para os imóveis novos para que as pessoas possam se financiar numa taxa de juros um pouco mais comportada."
Ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, sócio da Consultoria Tendências, também diz que o compulsório poderia ser reduzido. "Hoje, os bancos têm processos e governanças de gestão de liquidez e de risco de mercado muito mais apurados. Então não há necessidade desse nível de compulsório em geral e especialmente sobre as cadernetas de poupança. O BC poderia tranquilamente reduzir os depósitos de poupança." Ele argumenta que o Brasil está precisando de alavancas de crescimento e que, por isso, funciona a ideia de direcionar isso aos imóveis novos, que geram empregos na construção civil.