Painel com cotações na bolsa brasileira, a B3 (Germano Lüders/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 9 de abril de 2021 às 09h17.
Última atualização em 9 de abril de 2021 às 17h28.
Quadro geral do dia:
Descolado das bolsas americanas, o Ibovespa caiu nesta sexta-feira, 9, em meio a preocupações com o cenário interno em três frentes: instauração da CPI da Covid-19, impasse sobre o Orçamento para 2021, e dados de inflação. Na semana, contudo, o índice terminou no positivo, com valorização de 2,1%. No mercado de câmbio, as incertezas locais contaram contra o real hoje, que perdeu força frente ao dólar. Já no acumulado semanal, a moeda encerrou praticamente estável.
Na frente da pandemia, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso determinou na noite de ontem que o Senado tome providências para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, para investigar eventuais omissões do governo federal no combate à pandemia. O presidente Jair Bolsonaro reagiu afirmando que Barroso faz "politicalha" e "ativismo judicial".
A abertura da investigação chega no momento em que o Brasil enfrenta o momento mais grave da pandemia. O país registrou um novo recorde diário de mortes pela doença, que causou 4.249 óbitos e teve 86.652 novos casos confirmados, segundo dados do Ministério da Saúde.
No mercado, a notícia causou preocupação. "O Brasil tem necessidade de avançar no cronograma de vacinação e uma CPI cria mais uma burocracia, mais um ruído em momento em que precisamos de agilidade”, afirma Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de ações e derivativos do BTG Pactual digital (do mesmo grupo controlador da EXAME).
Outro ponto de atenção são as discussões sobre o Orçamento de 2021, aprovado em março pelo Congresso e classificado por analistas como “fictício” e “impraticável”. O presidente Jair Bolsonaro tem até o dia 22 de abril para sancionar o texto, que tem sido alvo de disputa entre a equipe econômica e o Congresso.
Já os dados de inflação no Brasil vieram abaixo das estimativas do mercado tanto para o IPCA quanto para o IGP-M. A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,93% em março frente ao mês anterior, enquanto a expectativa do mercado era de avanço entre 0,94% até 1,10% no mês, com mediana de 1,03%.
Ainda assim, o resultado é um avanço em relação ao mês anterior, que foi de 0,86%, e representa também um estouro do teto da meta, de 5,25%. O IPCA fecha o mês em alta de 6,10%.
Já a 1ª prévia do IGP-M referente ao mês de abril avançou 0,50% na comparação mensal, bastante abaixo do consenso do mercado de 1,91%. Com este resultado, a taxa acumulada em 12 meses passou de 29,83% para 30,70%.
Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, as previsões abaixo da expectativa não são motivo para comemorar. "Está claro que há um processo inflacionário de custos no Brasil e não há o que fazer no curto prazo. No entanto, o BC está querendo ancorar mais o longo prazo e para isso está jogando contra eventos importantes como a questão fiscal e a alta dos IGPs", afirma.
As ações das siderúrgicas CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5) lideraram os ganhos do Ibovespa na sessão, com altas de 4,94% e 3,50%, respectivamente. Analistas do Credit Suisse comentaram, citando informações de fontes, que as siderúrgicas brasileiras planejavam reajustar seus preços entre 8% e 15% esta semana.
Além de puxarem os ganhos hoje, os papéis de CSN e Usiminas encerraram também como a segunda e terceira maior valorização do Ibovespa na semana, acumulando ganhos de mais de 17%. A liderança ficou por conta de Yduqs (YDUQ3), que avançou 17,45% no período.
Destaque hoje também para Sabesp (SBSP3), que subiu 2,77% após a Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp) autorizar que a companhia realize uma revisão tarifária.
“Outro ponto importante é a recupeação do setor bancário. Os papéis sofreram bastante nos últimos dias e agora ajudam a segurar o índice”, argumenta Zanlorenzi. As ações dos grandes bancos avançam em torno de 1%.
Na ponta oposta do índice hoje, apareceram os papéis ligados ao varejo e consumo de Via Varejo (VVAR3) e Pão de Açúcar (PCAR3), com perdas de cerca de 3,4%, seguidos pelas distribuidoras Ultrapar (UGPA3) e BR Distribuidora (BRDT3), que caíram entre 2,2% e 2,4%. Na semana, as maiores quedas ficaram com Cosan (CSAN3), Lojas Renner (LREN3) e Engie (ENGI11), com desvalorizações de 3,9%, 3,3% e 2,9%, nesta ordem.
Nos Estados Unidos, os três principais índices fecharam em alta na sessão e na semana. O S&P 500 renovou pelo terceiro pregão seguido máxima histórica, com investidores de olho nas perspectivas de recuperação econômica do país . Na semana, subiu 2,7%, na melhor semana desde fevereiro. O Nasdaq avançou 3,1% e o Dow Jones, cerca de 2%.
Apesar do otimismo com a retomada econômica, o mercado segue atento aos sinais de inflação no país, que podem levar a um aumento na taxa de juros antes do esperado. Tal preocupação levou o rendimento dos títulos de 10 anos do Tesouro americano a também avançar nesta sessão.
O tema volta à pauta mesmo com a promessa do Federal Reserve (Fed, banco central americano) de que os juros devem continuar próximos a zero “por algum tempo” até que a economia e o mercado de trabalho americano se recuperem.
Jerome Powell, presidente do Fed, disse na quinta-feira que a instituição reagiria apenas se as expectativas de inflação começassem a “mover-se persistente e materialmente” acima dos níveis toleráveis. A tese do Fed foi corroborada por dados de solicitações de seguro desemprego nos EUA, que vieram inesperadamente altos, mostrando que a recuperação permanece incompleta.
Na Europa, as bolsas ficaram de olho no mercado americano e fecharam com desempenhos mistos após os ganhos da véspera. Ainda assim, o índice pan-europeu STOXX600 marcou a sexta semana consecutiva de ganhos, o maior ganho acumulado desde novembro de 2019.
Já os mercados asiáticos encerraram a semana em tendência de baixa após a divulgação de dados mostrando que a inflação ao consumidor e ao produtor chinês subiu em março em comparação com o ano anterior. O índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 0,4% em março, de -0,2% em fevereiro, e o índice de preços ao produtor (PPI) teve alta de 4,4% em março, de 1,7% no mês anterior.