Gestores de fundos de crédito apontam oportunidades no mercado
Painel da CEO Conference, promovida pelo BTG Pactual, discutiu novos produtos e riscos a serem observados no mercado de crédito em tempos de juros mais elevados
Marília Almeida
Publicado em 23 de fevereiro de 2022 às 06h00.
Última atualização em 23 de fevereiro de 2022 às 07h40.
Onde estão as melhores oportunidades em fundos de crédito? A multiplicação de fintechs pode ajudar a expandir a concessão de crédito no país? E como aproveitar esses ativos para investimentos?
Essas questões foram tratadas por gestores de fundos de crédito no painel "Juros em alta: riscos e oportunidades no mercado de fundos de crédito", nesta terça-feira, dia 22, no primeiro dia da CEO Conference. O evento, organizado pelo BTG Pactual (BPAC11), tem como objetivo discutir tendências macroeconômicas e tecnológicas.
Sergio Goldstein, gestor da mesa de crédito estruturado da Itaú Asset, disse que há soluções interessantes no mercado para reduzir o risco de inadimplência, a maior ameaça quando se trata de fundos de crédito.
Uma delas é oferecer empréstimos para a classe C e D e, em caso de inadimplência, bloquear o celular do tomador de crédito. Outra é analisar, via satélite, quanto o fazendeiro está plantando, uma forma de conceder mais crédito rural.
O executivo defendeu ser necessário ter "mais do que um bom robô de crédito e um processo de contratação rápida".
Daniel Lemos, CEO e fundador da Riza Asset, concordou que é necessário olhar com cuidado alguns pontos, como a capacidade de administrar passivos no longo prazo. "Processos de cobrança eficientes também são importantes. Ainda sentimos falta disso no mercado. São pontos que irão separar quem vai sobreviver e quem não vai."
Eduardo Arraes, sócio da BTG Asset, apontou que a casa prefere se concentrar em fintechs com histórico ou que tenham grandes investidores por trás do negócio.
Já o foco da asset do Itaú é buscar oportunidades no setor de energia solar. "É um segmento no qual o crédito parece ser concedido da forma certa: você troca uma conta de luz alta por uma parcela de financiamento menor."
Otimismo em 2022
Arraes, da BTG Asset, lembrou que a pandemia da covid-19 foi um forte teste para os fundos de crédito no país. E que não houve fundos fechados na crise. A inadimplência também preocupou, mas também não foi registrado default de empresas que são emissoras de títulos de crédito.
As companhias brasileiras encerraram 2021 com o menor nível de alavancagem em uma década, uma média de 1,2x. Todo esse histórico e ajustes auxiliam os fundos a navegar por 2022, que promete ser um ano mais desafiador, com eleições no país. "Agora, além de mais participantes no mercado, o aumento de pessoas físicas ajuda a dar bastante liquidez aos fundos."
Goldstein, da Itaú Asset, reforçou o otimismo de Arraes. "É possível dividir as empresas vencedoras das que precisam de mais fôlego. Vai vir tormenta e algumas vão precisar de mais fôlego para passar por ela. Mas vemos muitas reduzindo custos e aumentando eficiência, o que fará diferença agora, em um ano mais duro", afirmou.
As oportunidades do mercado
Na conclusão do painel, os gestores apontaram quais são suas apostas na seara de fundos de crédito.
Arraes apontou que, nos últimos anos, a BTG Asset buscou uma maior diversificação não apenas de produtos mas também indexadores. "O mercado tinha um foco muito grande no CDI e muitos fundos sofreram quando o índice de referência para aplicações de renda fixa atingiu a mínima histórica. Agora existem opções de fundos indexados à inflação e até ao dólar."
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Outra aposta da BTG Asset, disse Arraes, são fundos de debêntures incentivadas. "Nosso Fi-Infra tem o diferencial de ser um fundo listado, semelhante a um fundo imobiliário. O produto oferece isenção fiscal no ganho de capital, tem liquidez, diferentemente de outros tipos de fundos de crédito, e oferece bons retornos".
Goldstein reforçou a aposta e disse acreditar que fundos de infraestrutura oferecem mais incentivos do que fundos imobiliários. "Há muitos projetos que não existiriam nos anos em que o BNDES financiava tudo, em razão de política de governo da época".