Gestores estão evitando o Brasil. Como você pode fazer o mesmo?
Todo bom investidor sabe que não só a diversificação (inclusive geográfica) é essencial como agora mandatória para preservar os retornos da carteira
Juliana Machado*
Publicado em 11 de novembro de 2021 às 08h06.
Última atualização em 13 de novembro de 2021 às 06h41.
O momento do mundo não é dos melhores para os emergentes que não fazem o dever de casa. No cenário internacional, o choque inflacionário e a ruptura nas cadeiras de produção no pós-pandemia levaram as economias desenvolvidas a dar início a uma gradual retirada de estímulos, com os Estados Unidos na largada.
Para países em desenvolvimento, é uma jogada dura: se lá fora os juros começam a subir, isso afeta o fluxo de recursos para esses mercados, que não têm outra alternativa senão acompanhar o caminho.
O problema é quando as políticas adotadas do lado doméstico também jogam contra – o exato ponto em que estamos aqui no Brasil. Aí, não apenas os preços se ajustam à realidade no exterior como também vão precisar se ajustar a um cenário de riscos adicionais.
Os contratos de juros futuros, muito sensíveis às expectativas dos agentes de mercado, disparam, incorporando o aumento no prêmio de risco; o dólar se valoriza contra o real, numa tradicional dinâmica de busca por proteção; e a bolsa de valores, claro, desaba, já que os juros são usados em boa medida para calcular o “valor justo” das ações das empresas (juro maior indica risco maior, portanto o “desconto” aplicado nas ações é maior).
A conclusão? Tenha mais proteções, diversificação e posições internacionais. Ao menos é o que fica claro se observamos as cartas mensais dos principais gestores de recursos brasileiros, compilado que fiz para o meu último relatório Funds Report , em que analiso e abordo temas importantes da indústria de fundos.
E esse é um tema importante: os gestores de fortunas estão evitando o Brasil. Não, o Brasil não vai acabar. Mas todo bom investidor sabe que não só a diversificação (inclusive geográfica) é essencial como agora mandatória para quem quer preservar os retornos da carteira.
Algumas casas encaram a alta dos juros futuros como exagerada, de modo que elas podem até mesmo ter um ajuste ao longo do tempo. Mas é praticamente uma unanimidade entre as grandes casas: o risco cresceu demais desde que o atual governo começou a jogar a toalha em relação ao compromisso com o teto de gastos, de olho no saldo político de ter um programa social para chamar de seu antes das eleições presidenciais. É uma novela que o mercado não quer ver de novo, mas que costuma ser reprisada a cada quatro anos.
Não vou adentrar aqui o que nos reserva o futuro das eleições, se esse ou o próximo governo são e serão melhores. O que me interessa mais é saber o que o investidor, sobretudo os pequenos, pode fazer face ao aumento das incertezas. Tenho alguns bons palpites, que listo a seguir:
• Tenha multimercados na carteira. Multimercado não é estratégia, portanto fique ciente de que é preciso pesquisar e entender o que exatamente o fundo faz. Apenas gosto de lembrar que são momentos como esse, de estresse, que fazem valer a gestão ativa dos bons gestores de multimercado. Alguns fundos macro, por exemplo, têm sido muito bem-sucedidos em entregar retorno neste momento, de mercados aos quais a pessoa física não têm acesso fácil (commodities, moedas e bolsas globais, por exemplo). Essa é uma classe que sempre foi criticada (com razão) por seu pífio desempenho, mas não se engane: é preciso saber escolher, mas contar com bons gestores que operem todos os mercados é uma mina de ouro;
• Tenha proteção. Quem tem um perfil mais arrojado terá mais proteções na carteira, tradicionalmente na figura do dólar e do ouro, para equilibrar o nível de concentração em ações; quem tem um perfil mais conservador e, portanto, carrega menos posições na bolsa, talvez nem tenha proteções na carteira de início. O importante é sempre lembrar que o investimento em moedas fortes, estruturalmente, costuma ajudar muito na diversificação, essencial para enfrentar crises e multiplicar o patrimônio;
• Tenha posições internacionais. A diversificação deve ser feita não só em classes de ativos mas também em geografias. Hoje, você pode contar com fundos para isso, mas a maioria dos grandes produtos está disponível apenas para investidores qualificados (que tenham mais de R$ 1 milhão em investimentos). No entanto, até que as regras mudem (alô, CVM!), já existem alternativas baratas, seja via ETFs (fundos de índices), seja via fundos de BDR (recibos lastreados em ações estrangeiras e negociados no mercado local).
Lembre-se: um investidor é, antes de tudo, um tradutor de expectativas. Se a sua expectativa é sobreviver não importa o momento, rode menos no seu patrimônio e invista mais tempo em processos sólidos, que te permitam construir uma boa carteira para navegar pelo longo prazo.
Se quiser ler o relatório completo e ver o que os nossos gestores favoritos têm a dizer, clique neste link.
*Juliana Machado é analista CNPI e integra o time de análise de fundos de investimento do BTG Pactual digital. É jornalista formada pelo Mackenzie, com pós-graduação em economia brasileira pela Fipe-USP. Atuou com análise e seleção de fundos de investimento na EXAME e escreveu por quatro anos para o Valor Econômico, nas áreas de governança corporativa e bolsa de valores. Escreve para a EXAME Invest quinzenalmente.