CVM alerta: está de olho em fundos com risco além do previsto
Autarquia alerta para o uso de estratégias que fogem do próprio perfil do fundo e para o uso de ferramentas que driblem os limites de exposição do patrimônio a ativos de risco
Bianca Alvarenga
Publicado em 10 de março de 2021 às 06h23.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) publicou um ofício em que alerta gestores para o descumprimento dos limites de concentração de ativos em fundos de investimento e para a falta de conformidade entre o risco dos ativos em carteira com a própria classe do fundo.
O Ofício Circular 03/21 é um "puxão de orelha" principalmente em gestores que estão usando estratégias que fogem do perfil regulamentar do fundo. A própria CVM citou o exemplo de fundos multimercados com estratégia long biased ou long and short e que não comunicam adequadamente o investidor sobre o risco das posições em ações.
Outro exemplo são os fundos de ações que estão aumentando a alavancagem em outras categorias, como juros e câmbio, "desviando" sua finalidade inicial e o grau de risco da carteira.
"Orientamos administradores e gestores de fundos de investimento a dedicar especial atenção ao monitoramento de fundos da classe ações que porventura possam adotar, de forma recorrente, estratégias alavancadas [...] que gerem exposições de grande magnitude nos mercados de câmbio, juros e outros distintos do mercado de ações, a ponto de descaracterizar o risco associado", diz a CVM no ofício.
A "advertência" da autarquia também serve para gestores que estão usando ferramentas de alavancagem (em derivativos, por exemplo) para expor o patrimônio do fundo a ativos estrangeiros. Os fundos destinados ao varejo devem deter, no máximo, 20% da carteira aplicada no exterior.
As estratégias para aumentar a exposição a ativos de outros países se tornaram mais comuns nos últimos meses em razão da recuperação mais ágil de ativos na Europa e, principalmente, nos Estados Unidos. Um fundo de previdência de varejo do Itaú recorreu a essa exposição para tentar potencializar os ganhos. É importante dizer que a CVM não identificou nenhum fundo nominalmente.
"Identificamos em nossa rotina de supervisão [...] riscos associados a processos inadequados de monitoramento dos limites de concentração em fatores de risco que caracterizam a classe de cada fundo, [...] com potencial de que fundos possam adotar estratégias de investimento que levem a uma exposição a fatores de risco distintos daqueles definidos em seus mandatos e divulgados aos investidores", alertou a CVM, em nota.
O "puxão de orelha" é um aviso aos gestores de que a autarquia está vigilante. "O ofício não tem efeito prático. É para lembrar que, no caso de inobservância das regras, a CVM pode aplicar sanções", explica Juliana Machado, especialista em fundos de investimento da EXAME Invest Pro.