Como saber se um fundo de investimento está realmente rendendo
Taxas, impostos e inflação são os três componentes que afetam o rendimento do produto: saiba como eles pesam e veja como descobrir o retorno líquido
Beatriz Quesada
Publicado em 15 de fevereiro de 2021 às 07h30.
Última atualização em 5 de agosto de 2022 às 14h20.
Ao aplicar dinheiro em um fundo de investimento , é possível acompanhar o retorno da aplicação na plataforma da corretora ou do banco. O problema? O número que aparece na tela não mostra o retorno real do investimento.
Isso porque o valor investido no fundo deixa de lado alguns fatores importantes. São eles: taxas, impostos e inflação .
As taxas e os impostos são cobrados durante a aplicação no fundo ou no momento do resgate, enquanto a inflação representa a desvalorização do poder de compra do dinheiro investido ao longo do tempo.
Taxas de administração e performance
A maior parte dos fundos de investimento cobra do investidor uma taxa de administração . É a forma de remunerar o gestor pelo trabalho de alocar o dinheiro do cotista.
Alguns fundos também contam com uma taxa de performance, que só é cobrada caso o gestor consiga bater suas metas de rentabilidade. Em geral, elas são definidas como percentuais acima de um benchmark (um índice de referência) -- o CDI é o mais comum deles no caso dos fundos de renda fixa.
Retiradas essas taxas, o investidor tem a chamada rentabilidade líquida do fundo. Esse valor normalmente já fica disponível na própria plataforma da corretora ou banco como “saldo líquido” da aplicação. Com esse número em mãos, o investidor pode verificar o efeito dos impostos sobre o retorno do seu investimento.
Impostos pagos no investimento em fundos
O dinheiro aplicado em fundos de investimento está sujeito a dois tipos de impostos: o Imposto sobre Operações Financeiras ( IOF ) e o Imposto de Renda ( IR ). O IOF só é cobrado em saques com menos de 30 dias de aplicação. Caso o cotista resgate o dinheiro antes desse prazo, a cobrança é feita por meio de uma tabela regressiva:
Dias | IOF | Dias | IOF | Dias | IOF |
1 | 96% | 11 | 63% | 21 | 30% |
2 | 93% | 12 | 60% | 22 | 26% |
3 | 90% | 13 | 56% | 23 | 23% |
4 | 86% | 14 | 53% | 24 | 20% |
5 | 83% | 15 | 50% | 25 | 16% |
6 | 80% | 16 | 46% | 26 | 13% |
7 | 76% | 17 | 43% | 27 | 10% |
8 | 73% | 18 | 40% | 28 | 6% |
9 | 70% | 19 | 36% | 29 | 3% |
10 | 66% | 20 | 33% | 30 | 0% |
Para os fundos de ações, a cobrança é feita no momento do resgate, descontando 15% dos rendimentos e já retendo esse valor na fonte. Já os fundos de investimento de renda fixa, cambial e multimercados contam com um sistema de tributação específico apelidado de come-cotas .Já os investidores que deixam o dinheiro no fundo por mais de um mês só precisam se preocupar com o IR.
O mecanismo cobra o imposto de forma antecipada através de cotas -- daí o apelido. Funciona assim: no último dia útil de maio e novembro, os gestores do fundo vão calcular quanto é devido de imposto, considerando a menor alíquota aplicável para cada fundo -- de 20% para fundos de curto prazo e de 15% para fundos de longo prazo.
Como se trata de uma cobrança antecipada, no momento do resgate o investidor paga apenas a diferença entre o valor devido e o que já foi pago. A tributação depende do momento em que o resgate for feito e varia entre os fundos classificados como de curto e longo prazo.
Os fundos de curto prazo -- com carteiras de prazo menor que 365 dias -- são tributados em 22,5% para aplicações de até 180 dias (cerca de seis meses). Para aplicações mais longas, a tributação fica fixa em 20%.
Já os fundos de longo prazo -- com carteiras de prazo maior que 365 dias -- são tributados de acordo com a tabela regressiva do Imposto de Renda:
- 22,5% para aplicações de até 180 dias (cerca de seis meses);
- 20% para aplicações entre 181 e 360 dias (de seis meses a um ano);
- 17,5% para aplicações entre 361 a 720 dias (de um a dois anos);
- 15% para aplicações mais longas que 720 dias (mais de dois anos).
Assim, o valor que os impostos vão abocanhar do investimento varia dependendo de cada aplicação.
Inflação
Retiradas as taxas e os impostos, é a vez da inflação. Algumas plataformas disponibilizam para seus clientes um comparativo entre o desempenho da carteira e o IPCA , índice de referência para inflação no Brasil -- o que já oferece alguma base. O problema é como as ferramentas contabilizam novas movimentações nos fundos.
“A maior parte das plataformas não calcula o processo muito bem: o aporte conta como rendimento, e o saque, como desvalorização. Para ter o rendimento real, seria preciso checar o valor da cota do fundo em cada janela de entrada e saída para saber a verdadeira valorização da cota no período”, explica Juliana Machado, especialista em fundos de investimento da EXAME Research .
Segundo Machado, a alternativa mais interessante para simplificar o trabalho é contar com os aplicativos agregadores de investimentos. Ferramentas como Gorila, Smartbrain, Kinvo e Flipper já calculam a rentabilidade considerando as janelas de investimento, em vez de oferecer uma média do retorno no período. Na sequência, o investidor pode comparar o retorno com a inflação e chegar ao retorno real de seu investimento.