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BTG Asset Day: Revisão da meta de inflação impõe risco de desancoragem nas expectativas do mercado

Mudar a meta levando em conta a inflação de hoje teria como objetivo levar o Banco Central a cortar os juros

BTG Asset: uma mudança de meta não surte efeitos imediatos, exige uma resposta da economia em prazos maiores (Arquivo/Agência Brasil)

BTG Asset: uma mudança de meta não surte efeitos imediatos, exige uma resposta da economia em prazos maiores (Arquivo/Agência Brasil)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 2 de março de 2023 às 10h56.

*Juliana Machado

A discussão sobre revisar a meta de inflação no Brasil pode até se amparar de forma legítima na histórica dificuldade de cumprir o número, mas o problema desse debate está na motivação. Isso porque mudar a meta levando em conta a inflação de hoje teria como objetivo levar o Banco Central a cortar os juros. No entanto, uma mudança de meta não surte efeitos imediatos, exige uma resposta da economia em prazos maiores, além de fazer com o que os agentes econômicos passem a ter e precificar novas expectativas – neste caso, para cima, já que elevar a meta indica uma tolerância com uma inflação maior. A conclusão é do economista-chefe da BTG Asset, Tiago Berriel, e da sócia e economista Stefanie Birman durante o evento BTG Asset Day, organizado com a rede de assessores do banco.

Para Berriel, o debate sobre alterar a meta aconteceu – de forma drástica – em outras economias, como Argentina e Turquia. Mesmo nos EUA, o presidente do Fed (BC americano), Jerome Powell, teve o desafio de defender e sustentar a meta durante o processo de desinflação pelo qual passa a economia americana, já que uma mudança prejudicaria o processo por gerar justamente a desancoragem das expectativas. “Estamos criando um custo danado sem nenhum benefício, esse é o resultado”, disse. “Não quer dizer que não podemos questionar a meta de inflação, isso é válido, mas é contraprodutivo fazer isso enquanto estamos distante da meta atual e durante o processo de desinflação.”

“Muitos perguntam como o Brasil pode ter uma meta de inflação de 3% se essa é a meta em países desenvolvidos. A questão é que, no mundo, não estamos discutindo para onde está indo a dívida pública ou para saber quem será o próximo presidente do BC. Esse é o contexto que ajuda a aumentar o risco de fazer um movimento desse”, afirma Birman. Ela explica que o custo de combater a inflação no curto prazo, por meio de juros elevados, é para permitir que, no longo prazo, as taxas com maior vencimento e a taxa neutra do Brasil sejam mais baixas e controladas. “Olhar um ano ou um dois anos é míope nesse sentido, a ideia é ter previsibilidade.”

O evento contou também com a apresentação de André Esteves, sócio sênior do BTG Pactual, que destacou a importância do trabalho dos assessores em um mercado financeiro mais complexo e com investidores com demandas também mais específicas. “Temos todas as condições de pagar juros menores do que 6,5% no Brasil, mas, do ponto de vista histórico, houve redução desse juro estrutural, fruto do trabalho qualificado e técnico com mais alternativas de investimento que se multiplicaram e com um ambiente regulatório muito mais profissional”, afirmou.

O encontro BTG Asset Day contou ainda com um painel dedicado ao crédito privado, outro para fundos multimercado e a renda fixa e, finalmente, para o mercado de ações. No painel voltado para crédito, o sócio responsável pelas estratégias do segmento no banco, Eduardo Arraes, e os gestores Guilherme Mattioli e Luis Bolfoni discutiram alguns dos temas mais relevantes no setor, como a situação de Americanas e Light. “A boa notícia é que continua sendo algo específico de dois casos na indústria. Em geral, os fundos de crédito são de qualidade muito boa e com possibilidade de renegociação”, disse Arraes. “Tirando construção civil e varejo, temos uma visão até melhor.”

No painel de multimercados, os profissionais afirmaram que excessos fiscais e deslocamentos de oferta e demanda local acabaram criando distorções e oportunidades nos ativos. Brasil, Chile e México têm, nesse contexto, os mercados mais atrativos, enquanto Colômbia se encontra em situação mais delicada. No BTG Macro HF, um dos fundos que traduz o pensamento macro da asset, a tese é de um processo de desinflação global mais lento do que o que o mercado vinha acreditando, com altas de juros consequentemente maiores. A visão considera, ainda, a reabertura de China e uma Europa crescendo mais e de forma mais consistente do que o esperado, mesmo diante da guerra na Ucrânia.

Finalmente, Laercio Henrique e Rafael Fonseca, ambos gestores da franquia de fundos BTG Absoluto, abordaram os desafios da gestão de ações no momento do juro alto, afirmando que a inflação vem convergindo para a meta, mas que há sinais do governo na direção da expansão fiscal, o que reforça a deterioração das expectativas dos agentes. “É o cenário mais difícil que já vivenciei em 15 anos de carreira”, disse Laercio. Nesse ambiente, o gestor vem preferindo manter pares long & short na carteira, com foco em empresas resilientes, geradoras de caixa, com crescimento de receita e lucro consistente. Nesse grupo, citam as companhias do setor de consumo essencial e evitam nomes do consumo discricionário.

*Juliana Machado é analista CNPI de fundos de investimento e integra o time de análise e seleção de fundos do BTG Pactual. Antes, atuou na área de análise de fundos da Exame, para onde escreve regularmente. É jornalista de formação, pós-graduada em economia brasileira e escreveu por quatro anos para o Valor Econômico.

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