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Alta do juro é oportunidade para diversificação, diz CEO da Necton

Marcos Maluf afirma que demanda do investidor por produtos fora da bolsa já mudou a base de ativos sob custódia e conta que sinergias com o BTG Pactual vão aumentar em 2022

Marcos Maluf, CEO da Necton: investidor procura cada vez mais por ativos que vão além da renda variável | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Luders/Exame)

Marcos Maluf, CEO da Necton: investidor procura cada vez mais por ativos que vão além da renda variável | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Luders/Exame)

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Marcelo Sakate

Publicado em 3 de janeiro de 2022 às 08h56.

Última atualização em 3 de janeiro de 2022 às 09h54.

A elevação acelerada das taxas de juros no país tem impactado os preços dos ativos e afetado em particular o investimento na bolsa, que experimentava uma fase inédita de crescimento. Mas o novo cenário de juros em dois dígitos também pode proporcionar oportunidades tanto para quem investe como para quem precisa captar recursos. É o que afirma Marcos Maluf, CEO e fundador da Necton Investimentos.

"O impacto [negativo] que pode haver no curto prazo acaba sendo compensado pela oportunidade de oferecer produtos de outra natureza, como os de renda fixa", disse Maluf em entrevista à EXAME Invest.

"Cada vez mais o investidor dá um passo além: começa com o Tesouro Direto, depois vai para um produto de renda fixa, outro de crédito privado, um fundo que misture renda variável e assim por diante."

Segundo ele, o crescimento da demanda por tais produtos, de crédito privado a fundos, fez a parcela dos ativos de renda variável na base de ativos sob custódia da Necton cair de 95% há três anos, quando a corretora foi criada a partir da fusão da Spinelli com a Concórdia, para 67%.

A Necton chegou ao início dezembro com cerca de 80.000 clientes, institucionais e de varejo, e mais de 21 bilhões de reais em ativos sob custódia, números que ficaram acima das expectativas definidas no começo do ano. Os valores seriam ainda maiores não fosse a forte desvalorização de ações no último ano.

O crescimento da base e da custódia de ativos que vão além da renda variável também é reflexo, segundo o CEO da Necton, das sinergias com o BTG Pactual (BPAC11). "Nosso arcabouço de produtos ficou muito mais robusto e completo."

A corretora é controlada pelo banco de investimento (do mesmo grupo da EXAME) desde abril de 2021, depois que a aquisição anunciada seis meses antes recebeu as aprovações necessárias dos órgãos reguladores.

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A Necton continua a operar de maneira segregada do banco, como já estava previsto, e se manteve no lado da Faria Lima no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Mas isso não significa que outras sinergias além das de produtos não estejam sendo exploradas: a Necton atua na captação e no atendimento a investidores principalmente institucionais, o que acaba complementando -- de forma independente -- a estratégia da plataforma digital, o BTG Pactual digital.

"Foi um ano bastante positivo. Mas isso é só o começo. As novas sinergias de tecnologia e sistema com o BTG Pactual vão potencializar ainda mais esses números. Em breve, os clientes poderão ter mais do que investimentos", disse.

Confira abaixo a entrevista editada com o CEO da Necton Investimentos, Marcos Maluf:

De que maneira o aumento das taxas de juros para dois dígitos afeta o desenvolvimento do mercado de capitais no país? 

Trabalhamos com os nossos clientes sempre pensando em oportunidades. Para quem enxerga o longo prazo, elas continuam a existir. Há boas empresas na bolsa com preços absolutamente descontados, por causa de ruídos políticos que fazem a ação não refletir a conta econômica das companhias.

Para o investidor que não está acostumado com essa volatilidade, que acabou de sair da poupança ou da renda fixa, o mais relevante é compor o patrimônio. Taxas de juros de médio e longo prazo a 12% também são uma excelente oportunidade. Por essa razão é tão importante que o investidor tenha diversificação.

Portanto eu vejo esse processo de aumento dos juros de maneira positiva: o impacto [negativo] que pode haver no curto prazo acaba sendo compensado pela oportunidade de oferecer produtos de outra natureza, como os de renda fixa.

Além disso, não achamos que o financial deepening [processo de sofisticação financeira do mercado e do investidor] vai se alterar. As taxas de juros mais baixas são uma tendência no mundo. Daqui a pouco as taxas sobem para 11% a 12% ao ano no Brasil, mas depois recuam para 6% ou 7%.

Esse movimento de diversificação já está acontecendo na Necton?

Sem dúvida. Nós sempre tivemos muita força no mercado de renda variável, que já respondeu por 95% da nossa base de custódia. Mas, com o aumento da taxa de juros, o número de clientes que procuram por outros produtos cresceu bastante. Hoje 67% da nossa base de custódia vem de renda variável, e não porque ela deixou de crescer, mas porque outros produtos avançaram mais.

Isso é reflexo também de uma mudança que fizemos para que os investidores possam enxergar a Necton como uma corretora na qual podem ter todos os seus ativos, sejam ETFs, fundos, renda fixa, renda variável ou uma combinação deles. Em breve, com as sinergias com o BTG, os clientes poderão ter mais do que os investimentos.

Conseguimos rapidamente nos adaptar às necessidades dos clientes, seja ele um investidor que começa com títulos do Tesouro Direto, pensando em planejamento de longo prazo, ou outro que só faz operações em bolsa.

Com as taxas de juros próximas de dois dígitos, temos que estar prontos para mostrar para os nossos clientes quais são as melhores oportunidades.

Falando sobre colocar o cliente no centro das atenções: a Necton tem se engajado em temas como a diversidade, uma causa não tão presente no mercado financeiro. Como avalia os resultados até aqui?  

Prezamos muito pela diversidade, de raça, de gênero, de idade, de orientação sexual, em oferecer oportunidades para todas essas pessoas. Temos profissionais que nunca haviam trabalhado no mercado financeiro. São valores muito importantes para a Necton e sempre tivemos todo o apoio do BTG Pactual para continuar assim.

Buscamos também ser uma corretora que respeita o perfil de quem investe. Uma investidora é em geral mais detalhista, com olhar no longo prazo, mais conservadora. Esse perfil tem crescido na nossa base. Cerca de 40% dos nossos clientes são mulheres. É um número muito parecido com o de mulheres em cargos de liderança na Necton.

Como foi o primeiro ano da Necton com o BTG Pactual como controlador?

Foi um ano muito positivo. Conseguimos trazer soluções melhores para os nossos clientes. Somos a primeira corretora de agronegócio e muito relevante na parte institucional de renda fixa. E crescemos na frente de pessoa física. Nosso arcabouço de produtos ficou muito mais robusto e completo. O cliente da Necton passou a ter acesso às ofertas das quais o BTG é coordenador líder ou tem exclusividade e isso contou a favor da diversificação de sua carteira.

Passamos a oferecer um acesso maior à informação para os clientes, como nas reuniões com o Mansueto Almeida, economista-chefe do banco, além de que entrevistas que fazemos, como com o ex-presidente Michel Temer.

E do lado institucional, continuamos a operar segregados do banco, mas contamos com a robustez financeira do BTG Pactual. Em 2022 vamos ter mais sinergias de tecnologia e de sistemas, melhorando ainda mais a experiência de usuário e mantendo a nossa independência, o nosso atendimento e a nossa forma de se comunicar com o cliente. Vamos ter o conteúdo da melhor equipe de Research da América Latina em uma linguagem fácil e acessível.

Há um ano, o senhor dizia que havia três pilares para o crescimento da Necton: atendimento, conteúdo e curadoria. Como a corretora evoluiu nessas frentes?  

Mais do que dobramos de tamanho para dar suporte aos nossos clientes. Costumamos falar que não segmentamos o cliente: deixamos que ele próprio escolha sua segmentação.

Se ele quer se servir pelo nosso aplicativo, ler um relatório por conta própria ou acessar uma área logada exclusiva, ele pode fazer tudo isso sem falar com um assessor. E pode fazer isso gastando o mínimo possível.

Mas se ele quiser conversar, mesmo que pouco recurso investido, ele consegue. Nós acreditamos que, com atendimento, o investidor consegue ir mais longe. Daí a importância de construir uma companhia junto com o cliente, e não para o cliente, porque conseguimos saber quais as soluções de investimento e de usabilidade que ele quer.

Acreditamos que o atendimento vai ser um diferencial competitivo. Mas vamos deixar as portas abertas para quem quiser consumir o nosso conteúdo de forma digital e optar por não contar com o atendimento.

As nossas áreas de conteúdo tanto político como econômico, lideradas pelo André Perfeito, são muito importantes para os nossos clientes, tanto o institucional como o de varejo. Cada um com a sua linguagem e a sua preocupação. Fomos apontados como instituição top 1 em câmbio pelo Banco Central e nos mantivemos no top 3 em taxas de juros.

E o que esse investidor médio mais procura hoje em termos de informação?  

O investidor se sofisticou muito nestes três anos da Necton. Mas sempre temos a preocupação de não fazer isso com o discurso. Ele tem que ser atraente, não pode afastar o investidor. É uma mudança de hábitos de anos.

Quando a pessoa tinha dinheiro, ela preferia deixar na poupança do que conversar com o gerente do banco ou a corretora, porque era uma conversa complicada, com termos sofisticados. O profissional que trabalha no mercado financeiro precisa entender que nossa função é servir os clientes. Não precisa mostrar que sabemos falar difícil.

Comecei a usar as redes sociais como CEO da Necton em 2021 e percebi isso nas interações com clientes que elogiaram a maneira acessível como eu procuro falar com eles, com uma linguagem mais fácil de entender.

E do ponto de vista de produto? O que pode cair no gosto do brasileiro ocupando uma parte do espaço deixado pela renda variável?

O fato de o investidor ficar mais sofisticado não significa que ele sai da poupança e passa a contar com um portfólio completo. Às vezes, nem é o perfil dele. Mas só de mudar para um Tesouro Direto já muda muito a rentabilidade. Olhando por esse prisma, os últimos três anos foram transformadores na indústria de investimentos no país.

Cada vez o investidor dá um passo a mais: começa com o Tesouro Direto, depois vai para um produto de renda fixa, outro de crédito privado, um fundo que misture renda variável e assim por diante.

E ele também vai perceber que o grande barato da renda variável é se tornar acionista de fato das empresas. Ele pode consumir seus produtos e serviços, vai buscar conhecer os números da empresa e se orgulhar de fazer parte do crescimento dela. E não apenas comprar uma ação hoje para vender amanhã.

Nas redes sociais, muitas pessoas já me pedem dicas de como começar a investir pensando em objetivos específicos, e não apenas a dica da ação do momento para comprar e vender.

E qual a sua visão para o mercado e a economia em 2022, que é um ano eleitoral? O senhor está preocupado?

Tenho uma visão otimista. Estamos às vésperas de uma eleição presidencial que deve ocorrer 100% dentro do esperado, de forma democrática e tranquila como em anos anteriores. É compreensível que os ruídos políticos tenham assustado o investidor, especialmente o estrangeiro, mas enxergo um ano melhor, com um quadro fiscal mais favorável.

Vai ser um cenário desafiador, assim como foi 2021, que teve a inflação acima do que gostaríamos. O Banco Central está fazendo a sua parte, as taxas de juros estão subindo e isso deve levar o câmbio um pouco para baixo, atraindo investimento. Esperamos que isso não afete tanto os empreendedores e que o país continue a crescer.

Se conseguirmos trazer a inflação mais perto do centro da meta [de 3,5%] em 2022, seja com o remédio da taxa de juros ou do câmbio, podemos ter perspectivas bem melhores.

Vale lembrar que passamos por uma pandemia e ninguém sabia como agir nessa situação. Na parte da economia, saímos melhor do que entramos da pandemia.

Quais são os principais riscos que o senhor enxerga?

O principal risco é o imprevisível, como uma quarta onda da pandemia. Ninguém gostaria que acontecesse, mas isso precisa estar no radar. Nos demais fatores de risco, os remédios já foram dados. A inflação, por exemplo, já deve começar a cair no acumulado em doze meses no início do ano. Temos que trazer a inflação para perto da meta o mais rápido possível, porque ele tira o poder de compra e a capacidade de investimento da população e das empresas.

A política não me preocupa tanto. Já tivemos presidentes mais progressistas, outros mais liberais, e o país seguiu em frente. Espero que haja mais pacificação nos próximos meses, será algo importante.

Na sua avaliação, o mercado exagerou na dose ao precificar nos ativos as incertezas fiscais e políticas?  

O mercado sempre tenta prever os próximos trimestres ou a perpetuidade. Temos falado nos últimos meses que o múltiplo do preço/lucro versus o valor das empresas na bolsa está absolutamente descontado.

Acho que o mercado colocou na conta alguns fatores: a inflação e as taxas de juros altas. E a antecipação das eleições de forma muito prematura. Vamos lembrar que as duas últimas eleições presidenciais foram imprevisíveis e contaram com o imponderável. Em 2018, teve a facada no candidato Jair Bolsonaro, enquanto o ex-presidente Lula deixou de concorrer em cima da hora. Na eleição anterior, houve a queda do avião do então governador de Pernambuco, o Eduardo Campos.

E começamos desta vez a discutir eleição um ano antes. Por essa razão eu digo que a eleição não é o driver que me preocupa, apesar de reconhecer que é um fator que traz volatilidade para o mercado.

Mas nós temos boas empresas para investir, empreendedores com boas ideias, evolução regulatória, como no caso do Banco Central independente, meios de pagamento, o Pix... precisamos enxergar também as boas oportunidades. Na medida em que houver mais clareza sobre os problemas e a situação, os preços dos ativos vão começar a se recuperar.

O senhor destacou a importância da experiência do cliente para a Necton. Pensando no mercado, o que o investidor brasileiro pode esperar para daqui a três a cinco anos?

O mercado vai se desenvolver muito mais e ganhar mais alternativas. Quando eu comecei no mercado, se quisesse investir em uma empresa de petróleo, só havia a Petrobras. E assim por diante. Hoje é possível investir em empresa de nutrição animal e de plano de saúde, para dar dois exemplos. O investidor consegue diversificar na própria bolsa e novas empresas vão abrir o capital. Cada vez mais o investidor terá opções para diversificar os seus investimentos.

Na parte de renda fixa, o mercado de capitais se desenvolveu muito com a mudança recente no papel do BNDES, porque esse ajuste permitiu a criação de novas formas de captação para as companhias. E isso tem levado o investidor a se aproximar das empresas e a ter novas opções de ativos, seja de grandes empresas até o produtor rural. O mercado busca cada vez mais alternativas de ativos, de músicas de um artista a clubes de futebol.

E esses ativos estão disponíveis ao investidor de varejo. São paradigmas sendo quebrados: antigamente se falava que o mercado financeiro era apenas para grandes investidores. A Necton veio para mostrar que não é mais assim, para chegar também para a pessoa que tem poucos recursos. O BTG fez esse movimento de vir para o varejo também.

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