Empresas têm passado por grandes processos de mudanças para se encaixarem nas métricas ESG (Thithawat_s/Getty Images)
Durante a pandemia, temas relacionados aos riscos empresariais ganharam força. O maior deles, com certeza, foi o ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança). Cada vez mais presente nas empresas, o ESG tem se tornado essencial por permitir que as empresas ganhem relevância e um maior acesso aos investidores e às linhas de crédito.
Uma pesquisa realizada pela Deloitte, chamada Agenda 2021, mostrou que 54% das empresas não têm indicadores de gerenciamento de impacto social, um dos pilares do ESG. Por outro lado, mais de um quarto dessas empresas pretende adotá-los ainda este ano.
De acordo com o sócio-líder da Deloitte para ESG e Riscos Empresariais, Anselmo Bonservizzi, o maior investimento das empresas deve ser feito no “E” (quesitos ambientais), e depois no “S” (quesitos sociais). “Essa questão do que vem primeiro é meio trick. Não estou diminuindo a importância dos critérios de governança, mas dá para investir teoricamente menos nisso, colocando pessoas bem qualificadas, e elas vão saber fazer as escolhas corretas”, diz.
“Sou muito partidário do investimento nos temas sociais... o Brasil precisa do ‘S’, como nação. Simplesmente deixar rolar não vai resolver o problema da diversidade, por exemplo, não vai nos levar a outros patamares. A gente, de fato, tem que patrocinar isso e fazer acontecer”, complementa o especialista.
Desde que o tema ESG começou a ser mais levantado no Brasil, iniciou-se uma corrida das empresas para serem vistas como adeptas dessas boas práticas. Existe, porém, um longo processo a ser percorrido. E há muitas empresas que, na tentativa de serem vistas executando boas práticas, acabam cometendo um grande erro: o Greenwashing, que seria, na tradução livre para o português, a "lavagem verde".
Como a própria tradução já diz, é uma apropriação indevida das práticas ESG por meio do markentig das empresas. Ou seja, uma determinada companhia acaba maquiando sua imagem através da comunicação de alguma ação supostamente sustentável ou social quando, na verdade, aquela ação existe mais para auto promovê-la do que para se encaixar em padrões sociais/ambientais.
“Existem muitas empresas que fazem Greenwashing. Todo mundo acordou ESG da noite para o dia, de alguma maneira, né? Existem empresas que, genuinamente, já vinham fazendo várias ações legais, e continuam fazendo, mas outras, eventualmente, fazem uma iniciativa pequena e já acham que é ESG”, pontua Bonservizzi.
Segundo Bonservizzi, o fator Greenwashing “não sobrevive”. Para ele, uma empresa nunca vai conseguir manter, por tanto tempo, a aparência diante de ações pequenas, para parecer estar alinhada às práticas ESG.
As empresas têm passado por grandes processos de mudanças para se encaixarem nas métricas ESG. Não é fácil para uma companhia que nunca pensou nessas práticas adotá-las do dia para a noite. Bonservizzi explica como é dado o processo de entrada de uma empresa nos padrões ESG.
“A primeira fase a gente chama de preparação. É uma questão, primeiro, que envolve aspectos culturais, então ela precisa estar convencida, de fato, a iniciar essa jornada. Depois, ela precisa escolher suas batalhas no ESG, reconhecer que nem tudo é aplicável ao seu negócio. Uma empresa de serviços, por exemplo, tem um perfil mais relacionado a pessoas, então, embora o meio ambiente seja importante, a concentração de esforços vai ficar no ‘S’, no ‘G’, e o ‘E’, talvez, tenha uma relevância menor nesses negócios”, diz.
Também é preciso ficar de olho no investimento que será feito. “Quando decido fazer uma coisa, vou, normalmente, ter um custo relacionado a isso. Essa é a parte mais sensível”, complementa.
Conhecer sobre a empresa que você aplica seu dinheiro sempre foi importantíssimo, antes mesmo das métricas ESG começarem a ser mais pautadas no dia a dia. Por isso, os investidores sérios sempre se preocuparam em conhecer sobre os critérios de governança e sustentabilidade das companhias em que investem.
“Se você vai investir em determinada empresa, você começa a conhecê-la pela governança. O ‘G’ vem na frente de todo mundo porque ele define o que você vai fazer no ‘E’ e o que fará no ‘S’. Então a governança é um fator que o investidor já deve conhecer”, diz Bonservizzi.
Outro ponto importante é avaliar se o negócio, de fato, faz sentido para você. Mesmo porque, no final do dia, o que o investidor busca é um retorno sobre um determinado ativo. “Ele aceita correr os riscos do mercado, mas não aceita que uma empresa esteja com sua performance prejudicada por causa de ações contra os critérios ESG”, conclui Bonservizzi.