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A captação das empresas na bolsa em 2022: o que esperar das ofertas?

Nos três primeiros meses deste ano, já foram feitas sete operações conhecidas como follow-on, com captação de cerca de R$ 11 bilhões

Executivos e sócios da Viveo na cerimônia de estreia na B3 em 2021: um dos 46 IPOs realizados no último ano (Cauê Diniz/B3/Divulgação)

Executivos e sócios da Viveo na cerimônia de estreia na B3 em 2021: um dos 46 IPOs realizados no último ano (Cauê Diniz/B3/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 29 de abril de 2022 às 06h20.

O ano de 2021 ficará marcado na história do mercado de capitais brasileiro quando se observam, entre outros pontos, os dados de novas empresas listadas na B3. Ao todo, 46 companhias realizaram suas ofertas iniciais de ações, os chamados IPOs, movimentando cerca de R$ 65 bilhões, volume recorde na bolsa. Dado o cenário atual, com guerra na Ucrânia, ainda os reflexos da pandemia de Covid-19, alta de taxa de juros e volatilidade comum em anos eleitorais, ouvimos com frequência a seguinte pergunta: o mercado de IPOs seguirá aquecido neste ano?

O cenário mais provável é que tenhamos um número menor de IPOs neste ano. As condições de mercado atuais despertam nos empresários o receio de que a volatilidade acabe impactando o sucesso da abertura de capital, seja em termos de cronograma, tamanho da operação ou preço de venda das ações. Mas isso não significa que 2022 será um ano de poucas oportunidades na bolsa.

Se os IPOs serão mais raros, o mesmo não pode ser dito dos follow-ons, ofertas subsequentes de ações realizadas por empresas que já abriram capital. Nos três primeiros meses do ano, já foram feitas sete operações do tipo, com captação de cerca de R$ 11 bilhões.

Outra pergunta que costumamos ouvir com frequência é: por que as ofertas iniciais de ações perdem embalo, mas as subsequentes não?

Há diversos fatores que explicam isso. O primeiro deles é que preparar um IPO leva mais tempo – na maioria dos casos, ao menos seis meses – entre a tomada de decisão, planejamento, organização da empresa e a execução da oferta. E esse tempo maior de preparação não é uma peculiaridade do mercado brasileiro.

O empresário tem de olhar não para o mercado de hoje, e, sim, para como ele poderá estar seis meses adiante. Nesse ínterim, muita coisa pode acontecer, desde uma disparada da taxa básica de juros ou o aumento do risco-país até uma pandemia ou mesmo uma guerra. Tudo isso altera o cenário econômico e o ambiente de investimentos.

Por outro lado, um follow-on requer uma janela de tempo bem menor, de duas ou três semanas, até se concretizar. A empresa já é uma companhia aberta e cumpre com as obrigações da CVM (Comissão de Valores Mobiliários); ela precisa de tempo apenas para divulgar a operação para o mercado, conversar com investidores e precificar a oferta. Em um prazo mais curto, a companhia fica menos exposta aos riscos do mercado.

O segundo fator é o risco de preço. Quando uma empresa começa o processo de IPO, ela tem uma expectativa sobre o quanto vale; porém os bancos e os investidores podem ter avaliações diferentes. Assim, a incerteza sobre o preço que será definido para a oferta se torna maior.

Já em um follow-on, a empresa já sabe o quanto vale, pois o preço de suas ações é definido todos os dias pelo mercado. E esse preço não costuma oscilar de maneira radical no período de 10 a 20 dias da precificação da oferta.

Outro ponto é que, olhando para a performance das suas ações, a empresa consegue ter um termômetro da satisfação dos investidores. Se o preço não estiver dentro das expectativas, a empresa provavelmente preferirá não captar recursos por meio de uma oferta de ações. Por outro lado, se os papéis estiverem operando em um nível alto, essa pode ser uma boa oportunidade para se capitalizar por meio de um follow-on.

A Alpargatas, por exemplo, passou mais de cem anos como uma empresa listada, sem ter precisado captar recursos no mercado por meio de ofertas subsequentes de ações. Nos últimos dez anos, ao abraçar uma estratégia de internacionalização e aquisição de outras empresas, passou a demandar mais capital. E, recentemente, viu no follow-on uma ótima solução para custear seu projeto de expansão. Ela poderia ter se financiado por meio de emissão de dívidas, com crédito bancário ou caixa próprio, mas optou por fazer uma oferta subsequente.

Quando uma empresa faz o IPO, está apenas iniciando uma jornada, na qual ela se prepara, abre capital, capta recursos e executa sua estratégia. Mas a história não termina ali. A vida depois da chuva de papel picado, que simboliza sua estreia na bolsa, passa a contar com novas dinâmicas e processos.

A parte boa disso é poder aproveitar o mercado para fazer novas captações de recursos quando for necessário – algo fora do alcance das empresas sem capital aberto na B3. E isso pode ser bastante relevante na execução da estratégia da companhia.

*Rogério Santana é diretor de relacionamento com empresas na B3.

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