Cuba: retirada da lista de terrorismo reflete nova fase diplomática entre EUA e Havana (Mandel NGAN/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 14 de janeiro de 2025 às 19h38.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, decidiu “remover Cuba” da lista de países “patrocinadores do terrorismo”, informou uma autoridade sênior da Casa Branca nesta terça-feira, 14. A decisão veio após o anúncio do governo cubano de que libertaria 553 prisioneiros, e ocorre a menos de uma semana da posse de Donald Trump, que poderá revertê-la.
“Uma avaliação foi concluída e não temos informações para apoiar a designação de Cuba como um Estado patrocinador do terrorismo”, disse a autoridade, que preferiu anonimato. “[É] um gesto de boa vontade para facilitar a libertação de pessoas detidas injustamente [em Cuba]”.
A Casa Branca notificará o Congresso ainda nesta terça-feira sobre a intenção de retirar a designação, explicou a fonte. Segundo o alto funcionário, Washington se coordenou “com uma série de atores, incluindo a Igreja Católica”, com o objetivo de criar “um ambiente” favorável à libertação dos defensores dos direitos humanos, especialmente daqueles “detidos injustamente durante os protestos de julho de 2021”.
“Acreditamos que o número de pessoas que serão libertadas será significativo”, afirmou. Ainda nesta terça-feira, Cuba anunciou que libertará 553 prisioneiros “por diversos crimes” após o anúncio dos EUA sobre sua exclusão da lista de países patrocinadores do terrorismo.
“Nos primeiros dias de janeiro, o presidente Díaz-Canel enviou uma carta ao Sumo Pontífice na qual comunicou a decisão de conceder liberdade a 553 pessoas punidas no devido processo por vários crimes”, informou o Ministério das Relações Exteriores de Cuba.
O alto funcionário da Casa Branca não entrou em detalhes, mas destacou que a libertação dos prisioneiros ocorrerá “em um período de tempo relativamente curto”. Alguns detentos serão liberados “antes do final do governo Biden, em 20 de janeiro”.
De acordo com a autoridade, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva pediu diretamente a Joe Biden que removesse Cuba da lista de terrorismo. Além disso, o governo colombiano enviou uma nota diplomática aos EUA descrevendo a ajuda de Cuba nas negociações de paz e solicitando sua exclusão da designação.
“Outros aliados, incluindo a UE, Espanha, Canadá, Colômbia, Chile e muitos outros, pediram que Cuba fosse retirada da lista”, explicou a fonte. Ele também destacou o diálogo entre Cuba e a Igreja Católica em relação aos prisioneiros políticos como fator decisivo para a decisão.
Ainda assim, há incertezas sobre a durabilidade dessa medida, já que o governo de Trump, que assume em breve, pode reverter a decisão. O presidente eleito escolheu figuras conhecidas por sua postura dura contra Cuba, como o senador Marco Rubio, filho de imigrantes cubanos e um defensor de sanções ao governo da ilha.
Por mais de seis décadas, Washington manteve um embargo comercial contra Cuba, que foi reforçado por Trump durante seu primeiro mandato (2017-2021). O republicano também incluiu novamente Cuba na lista de patrocinadores de terrorismo, medida que dificulta transações e investimentos devido ao risco de sanções.
Desde sua chegada à Casa Branca, Biden prometeu revisar a política em relação a Cuba. Contudo, as manifestações antigovernamentais na ilha em julho de 2021, que resultaram em uma morte e centenas de prisões, fizeram o governo americano adotar uma postura mais cautelosa. Além de Cuba, os Estados Unidos mantêm outras três nações em sua lista de patrocinadores estatais de terrorismo: Coreia do Norte, Irã e Síria.