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Se prepare para o 'boom' de propriedades no metaverso em 2022

O interesse por terrenos no metaverso está apenas começando e não deverá se restringir ao blockchain da Ethereum, que domina o mercado atualmente

Propriedades no metaverso já movimentam milhões de dólares (Selman Keles/Getty Images)

Propriedades no metaverso já movimentam milhões de dólares (Selman Keles/Getty Images)

Coindesk

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Publicado em 28 de dezembro de 2021 às 10h00.

Última atualização em 28 de dezembro de 2021 às 10h55.

*Por Irina Karagyaur

Nesta mesma época no ano passado, se alguém tivesse dito: "Vou vender um lote de terreno virtual por 1 ETH", a maioria de nós teria dado risada. Agora, um ano depois, a maioria de nós está descobrindo que a piada somos nós.

Todo mundo no blockchain quer estar adiantado, à frente da curva. Para todos que acreditam que perderam a última corrida do ouro do blockchain, a dos terrenos virtuais, pense novamente. Um futuro mais eficiente e escalonável para a interseção de blockchain e imóveis está sendo construído enquanto falamos - e não está apenas restrito ao blockchain Ethereum.

O futuro dos NFTs (o padrão tecnológico para ativos digitais exclusivos, como obras de arte ou casas virtuais) é multi-chain, um caminho mais diverso que resolve as limitações do blockchain Ethereum e aprimora seu uso para apresentar oportunidades inimagináveis ​​que tocam vários cantos de cultura e comércio.

Neste futuro de múltiplos blockchains, veremos grandes oportunidades e diversos casos de uso possibilitados por redes alternativas como Solana, Tezos, Polkadot, Kusama, Cardano e muitos outros. Essas redes trazem respostas para escalabilidade, congestionamento de rede e a capacidade de realmente fracionar a propriedade, permitindo que tokens não fungíveis (NFTs) se tornem utilizáveis ​​e transferíveis no metaverso - saindo dos limites dos colecionáveis ​​digitais tradicionais - talvez até chegando ao mundo real.

Embora você possa não associar imediatamente um setor antigo como o imobiliário com o atual avanço tecnológico do blockchain, o potencial para que esse setor seja modernizado e tornado mais eficiente é poderoso - até mesmo inevitável.

Qualquer pessoa que já comprou ou alugou um imóvel está familiarizado com o processo inconveniente, demorado e caro. Existem contratos a assinar, pagamentos a serem feitos entre proprietário e inquilino, corretores imobiliários e, muitas vezes, advogados mediadores. Esses arranjos requerem várias transações, tempo e dinheiro.

Com imóveis virtuais em metaversos abertos, podemos implementar transações peer-to-peer e usar contratos inteligentes para automatizar e acelerar esses processos jurídicos. Contratos inteligentes podem ser programados para acionar ações instantaneamente e executar pedidos conforme necessário. Como resultado, os ativos imobiliários, como edifícios, ações ou fundos e dívidas ou patrimônio líquido, podem ser automatizados de novas maneiras e executados em minutos, em vez de semanas ou meses.

Os imóveis virtuais podem desbloquear liquidez por meio de mercados globais descentralizados que permitem ativos negociáveis ​​e que os ativos do metaverso sejam usados ​​como garantia extraível para alimentar métodos inovadores de empréstimo em finanças descentralizadas (DeFi).

Por meio do que esperamos ser um metaverso cada vez mais aberto, os usuários poderão um dia mover ativos digitais e NFTs para dentro e para fora de mundos virtuais. Talvez suas casas digitais possam ser usadas como garantia para empréstimos. Imagine se você pudesse penhorar um valioso pedaço de terreno virtual para adquirir um terreno físico?

Este mundo, ainda em fase de colonização, quase certamente precisará ser construído em mais lugares do que apenas na Ethereum, a rede de contratos inteligentes dominante.

Limitações da Ethereum

Desde o lançamento da Ethereum em 2015, os contratos inteligentes ganharam força em funcionalidade e inovação. Os tokens ERC-20 são o padrão mais comumente utilizado para a tokenização. Esses tokens codificam direitos de propriedade no código. O padrão ERC-721 e o mais avançado ERC-1155 - os padrões técnicos para NFTs - criam escassez digital. Há uma variedade de protocolos e tokens na Ethereum, formando a base para um metaverso aberto.

No entanto, a indústria está se expandindo rapidamente e os desenvolvimentos no Ethereum também existem em outras redes de blockchain. Embora as soluções de segunda camada da Ethereum (complementos que ajudam a rede a processar mais transações) funcionem bem, os novos blockchains tiveram um crescimento exponencial e prometem um novo terreno fértil. Um rico grupo de construtores criativos está olhando para além da Ethereum e das taxas exorbitantes da rede.

Como consequência, o desafio atual para a indústria é alcançar a interoperabilidade entre diferentes blockchains. Ao eliminar o “efeito silo” na indústria de blockchain, podemos finalmente alcançar a “adoção em massa”.

A Polkadot, um blockchain no qual estou financeiramente envolvido, é uma dessas redes alternativas para esse tipo de interoperabilidade. Devido à sua estrutura de propriedade avançada, pode permitir a transferência da propriedade diretamente para outros endereços, conceder ou proibir direitos de terceiros de usar uma propriedade para fins de exibição e facilitar a negociação de uma escritura ou título.

Corrida do ouro

Hoje há uma verdadeira corrida do ouro no metaverso, com jovens e celebridades como Snoop Dogg investindo milhões de dólares em imóveis virtuais. A Grayscale chamou isso de "oportunidade de um trilhão de dólares". É concebível que uma nova geração compre sua primeira casa (ou uma parte única dela) no metaverso.

Sem dúvida, há muito trabalho a ser feito neste espaço para concretizar esse futuro. Do jeito que está, os críticos dizem que as vendas atuais de imóveis virtuais à preços de arregalar os olhos são mais uma novidade impulsionada pelo hype e especulação, ao invés de algo que realmente representa a propriedade exclusiva. Outros argumentam que os imóveis - virtuais ou físicos - requerem um nível de diligência legal para garantir a segurança e a confiança entre compradores e vendedores.

Haverá também apreensão e crítica por parte do setor imobiliário tradicional, que pode não ver valor em romper com seu modelo antiquado, embora lucrativo.

Ainda assim, os NFTs imobiliários prometem a capacidade de democratizar a propriedade, um espaço que historicamente excluiu a maior parte do mundo. A GoBankingRates citou um analista de research da Grayscale Investments que observou que, historicamente, o valor imobiliário é amplamente influenciado pela proximidade de lojas, serviços e bairros atraentes. Resta saber se isso pode acontecer também no metaverso, onde os jogadores podem “se teletransportar ao redor do mundo, tornando a viagem instantânea e irrelevante para a avaliação”.

Com o passar do tempo, a lucratividade infectará o desenvolvimento de terras virtuais? Terras caras no The Sandbox ou Decentraland manterão seu valor? As pessoas de fora do mundo cripto verão os NFTs como uma nova ferramenta poderosa para propriedade, mesmo que você não consiga dormir dentro de um computador?

Do jeito que está, a infraestrutura NFT ainda é limitada. A tecnologia ainda não existe para permitir a verdadeira tokenização única de propriedades (especialmente na Ethereum, onde atualmente é quase impossível). Um novo paradigma precisará ser desenvolvido para fazer este setor avançar.

No ano que está por vir, a indústria verá uma injeção de bilhões na infraestrutura de NFT que oferecerá suporte a casos de uso alternativos e possibilitará um ledger, ou livro razão, visível que pode ser dividido ou expandido, facilitando uma representação única de ativos individuais, semelhante a arte e itens colecionáveis.

Os contratos inteligentes precisarão ser aprimorados para permitir velocidade, funcionalidade e escalabilidade. Há um grande trabalho sendo feito em alguns setores - como as “Nested NFT Palettes” que permitem relacionamentos de propriedade sofisticados entre os detentores de propriedade fracionada.

Regulações também estão em debate. Assim como as preocupações do setor imobiliário tradicional, que realmente poderia ser inovado por ativos de movimentação livre – sem estarem conectados a nenhum blockchain específico - que podem ser usados ​​no mundo real e no mundo digital.

Existem considerações sociais para fazer com que as pessoas valorizem a propriedade digital. Já está acontecendo. Mas este novo mundo tokenizado - este futuro multi-chain - levará tempo. Muito parecido com construir uma casa.

* Irina Karagyaur é head de crescimento do metaverso na Unique Network, embaixadora-chefe para a Europa Ocidental da rede Polkadot e também co-presidente regional de Londres na Foundation for International Blockchain e Real Estate Expertise.

Este é um conteúdo da CoinDesk. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

Texto traduzido por Mariana Maria Silva e republicado com autorização da Coindesk

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