No Dia da Árvore, empresas brasileiras usam tecnologia blockchain para salvar o planeta
Iniciativas que unem a tecnologia blockchain a conceitos de ESG crescem cada vez mais e desempenham papel importante na preservação ambiental
Mariana Maria Silva
Publicado em 21 de setembro de 2022 às 18h02.
Última atualização em 22 de setembro de 2022 às 10h56.
Nesta quarta-feira, 21, comemora-se o Dia da Árvore. Cada vez mais ameaçado, o meio ambiente desempenha um papel de extrema importância para a manutenção do planeta e agora pode contar com mais uma aliada neste processo de preservação: a tecnologia blockchain.
Desde a sua primeira aplicação em massa bem-sucedida com a criação do bitcoin, a tecnologia blockchain se desenvolveu de forma expressiva, passando a apresentar casos de uso presentes no dia a dia de pessoas em todo o mundo.
Uma das principais formas de se utilizar a tecnologia blockchain que vêm ganhando destaque nos últimos anos é a preservação ambiental. Levando em consideração seu caráter imutável e a confiabilidade dos dados inseridos no blockchain, plataformas do gênero se tornaram as preferidas de startups e de empresas do setor ESG para o registro de créditos de carbono, créditos de logística reversa e muitos outros.
Os tokens não fungíveis (NFTs), uma nova espécie de criptoativo que se destaca pela exclusividade e autenticidade em relação ao outros tokens, também foram explorados para o registro de árvores e pedaços de terra em preservação, por exemplo.
Iniciativas Blockchain + ESG
• Datum TI
Para comemorar este 21 de setembro, a Datum TI anunciou que presenteará todos os seus funcionários com mais de um ano na casa com um token referente a uma árvore de reflorestamento sustentável.
O programa Green Code Datum foi criado pela empresa, que fornece serviços de tecnologia da informação (TI) há mais de 20 anos para clientes como Arezzo, C&A, Lojas Marisa, Magalu, Banco Original, Santander e Vale.
“O princípio por trás da tokenização de árvores funciona com a geração de créditos de carbono de forma recorrente, como se os benefícios para a natureza fossem “dividendos”. Cada floresta onde as árvores são plantadas possui um documento jurídico, ambiental e imobiliário para que possam ser criados os tokens”, explicou a Datum TI em um comunicado.
Com a ação, a empresa espera avançar em três frentes: evolução das práticas ESG, início da jornada de descarbonização da operação e Web 3.0. Cada árvore foi plantada em Cana Verde, Minas Gerais.
• Pólen
Por outro lado, também existem no Brasil as empresas que utilizam a conexão entre a tecnologia blockchain e a preservação como o foco principal de seus negócios. É o caso da Pólen e da Ambify. Enquanto uma atua no mercado de créditos de logística reversa em blockchain, a outra atua com créditos de carbono.
As duas iniciativas são bastante parecidas, mudando apenas a sua área de atuação dentro do ecossistema de créditos ESG. A Pólen, por exemplo, utiliza o blockchain para fazer a certificação do processo de logística reversa, que envolve a triagem de resíduos e a auditoria de licenças cabíveis, garantindo a rastreabilidade do material reciclado para a comprovação exigida pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
Em parceria com a Greenpeople, marca carioca de sucos 100% naturais, chás e águas de coco, foram compensadas mais de 170 toneladas de embalagens. A iniciativa impediu a emissão de 6,33 toneladas de CO2na atmosfera, de acordo com dados apresentados pela empresa em um comunicado.
“De acordo com a PNRS, a Greenpeople só precisava compensar 22% da massa equivalente às embalagens que colocou no mercado. Mas eles quiseram realizar a compensação de 100%. Isso demonstra a importância que a empresa dá à preservação do meio ambiente e em agregar valor à sua marca para o consumidor", disse Renato Paquet, CEO da Pólen.
Além da parceria com a Greenpeople, a Pólen já atendeu 1,4 mil indústrias em nove países diferentes. No primeiro semestre de 2021, a empresa evitou a emissão de mais de 80 toneladas de CO2ao implementar a logística reversa via blockchain em parceria com a Embaré, fabricante de leite e produtos derivados.
• Ambify
Já a Ambify atua diretamente no setor de créditos de carbono. A startup utiliza a tecnologia blockchain para facilitar e democratizar o acesso à compensação ambiental. De forma simples, os créditos são fracionados para se tornarem mais baratos e acessíveis em uma plataforma desenvolvida para celular.
Na plataforma, é possível comprar os tokens ABFY, que correspondem, cada um, a 1 kg de CO2. De acordo com a empresa, a estratégia é engajar pessoas e empresas na construção conjunta de uma economia de baixo carbono, e tudo isso é proporcionado pela fracionalização de créditos de carbono.
Ao fracionar, a Ambify busca popularizar e democratizar o crédito de carbono, incentivando mudanças de comportamento e engajando pessoas comuns no combate às mudanças climáticas.
“O que se espera é acelerar a conscientização e a mudança de comportamento, de modo a fazer crescer o movimento pela preservação do nosso planeta de forma orgânica e natural”, diz o white paper da empresa, documento que revela todas as estratégias e formas que a Ambify vai utilizar para conquistar seus objetivos.
A empresa é ligada à Ambipar, primeira companhia de gestão ambiental listada na B3, bolsa de valores brasileira. Fundada em 1995, a Ambipar está em 18 países e tem mais de 300 bases de operações no mundo.
“A utilização da tecnologia blockchain almeja trazer transparência e registro de todos os créditos de carbono disponibilizados na plataforma. Em outras palavras, determinado crédito de carbono somente poderá ser criado e neutralizado uma única vez, o que garantirá a confiabilidade do sistema”, explica a Ambify em seu white paper.
• BITH11, da Hashdex
Ainda que a tecnologia blockchain possa ajudar uma série de iniciativas para a sustentabilidade, algumas redes podem agir com efeito contrário. É o caso da rede do próprio bitcoin, a primeira criptomoeda.
Por conta do mecanismo de consenso utilizado pelo blockchain do bitcoin para validar suas transações, o consumo de energia elétrica se torna muito elevado em um processo chamado de mineração.
Ele pode ser comparado ao consumo de pequenos países e recebe muitas críticas de grupos ambientalistas como o Greenpeace, que recentemente desenvolveu um projeto de US$ 1 milhão para convencer os desenvolvedores da rede a adotarem outro mecanismo, como fez a Ethereum, segundo maior blockchain do mundo depois do próprio bitcoin.
Pensando nisso, a Hashdex, uma das maiores gestoras cripto da América Latina, desenvolveu o BITH11, ETF de bitcoin “verde”. Dessa forma, a gestora responsável pelo HASH11, ETF cripto mais famoso do Brasil, é capaz de compensar a pegada de carbono dos bitcoins do fundo.
“O bitcoin tem um papel de reorganização societária e da organização de governança muito grande, e a parte que sempre foi muito questionada é a parte de consumo energético”, explicou Roberta Antunes, chief of growth da Hashdex, em entrevista à EXAME.
“Quando lançamos o bith11, resolvemos nos antecipar e entender que as pessoas têm uma preocupação com o futuro em termos de ESG. Por isso lançamos o BITH11, que é um fundo que zera 100% das emissões de carbono”, acrescentou Roberta.
A Hashdex possui uma parceria com o Carbon Credit Institute, da Alemanha, e já compensou mais de 3 toneladas de CO2apenas em 2022. O valor é o equivalente a cerca de 6,6 campos de futebol, esclareceu Roberta.
Siga o Future of Money nas redes sociais: Instagram | Twitter | YouTube | Telegram | Tik Tok