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Luxemburgo faz alerta e escancara necessidade de psicólogos fixos na comissão técnica do Corinthians

Em coletiva após o ‘Majestoso’, o treinador afirmou que hoje o principal problema do time é o emocional

Diante de todo esse contexto, o trabalho dos psicólogos junto aos atletas se mostra cada vez mais necessário (Eurasia Sport Images/Getty Images)
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 16 de maio de 2023 às 10h33.

Última atualização em 16 de maio de 2023 às 10h55.

Pressão da torcida, trocas de treinadores, cobrança por resultados e títulos. Os jogadores de futebol, para conseguirem desempenhar em alta performance, precisam lidar com inúmeros fatores extracampo. Diante de todo esse contexto, o trabalho dos psicólogos junto aos atletas se mostra cada vez mais necessário.

O técnico Vanderlei Luxemburgo, por exemplo, declarou na coletiva de imprensa após o empate contra o São Paulo por 1 a 1, na Neo Química Arena, que o “maior problema do Corinthians está no emocional”.

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Este problema, no entanto, não aflige só o time paulista. Eduardo Cillo, psicólogo do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), entende que nem sempre os clubes brasileiros têm essa relação clara com um profissional de psicologia do esporte, por mais que as licenças da CBF tenham módulos e conteúdos relativos à psicologia.

“É interessante que, no Palmeiras, isso parece uma mudança importante e uma virada de chave. E foi justamente com a chegada do Abel Ferreira, um português. Então será que é algum tipo de coincidência? porque essa não tem sido a realidade no nosso país”, indaga Cillo.

Um exemplo claro de descontrole emocional aconteceu no jogo do Corinthians contra o Independiente del Valle, válido pela Libertadores. O volante Maycon, que falhou no segundo gol sofrido pelo alvinegro na partida, foi substituído no segundo tempo e chorou no banco de reservas.

Outros nomes importantes do elenco admitiram que a turbulência do clube fora de campo estava afetando diretamente o rendimento da equipe. O goleiro Cássio, um dos principais líderes do time, admitiu o sentimento na zona mista após o jogo: “Psicologicamente é difícil, já estamos no limite. Não tem nem o que falar, tem que ficar quieto, estamos perdendo”, desabafou o jogador.

O que dizem o especialistas?

Em um intervalo de 10 dias, o Corinthians teve quatro treinadores diferentes: Fernando Lázaro, Cuca, Danilo e, o atual, Vanderlei Luxemburgo. Cuca, inclusive, ficou menos de uma semana à frente da equipe. Desde que foi anunciado, o treinador sofreu muita rejeição por parte da torcida devido à condenação por violência sexual na Suíça na década de 1980.

“Eu não tenho dúvida nenhuma de que um profissional que fizesse parte do departamento de psicologia do Corinthians iria ajudar, principalmente se estivesse presente desde o começo. No dia a dia, o pessoal de psicologia estabelece vínculos com os atletas e, ao mesmo tempo, ajuda a comissão técnica na missão de criar um ambiente de equipe, confiante e capaz de enfrentar os desafios.

Se não existe esse profissional no departamento, o clube acaba tendo que cumprir essas funções através de outras pessoas, que nem sempre têm formação e experiência especializada na psicologia esportiva” explica Cillo.

No futebol brasileiro, porém, o trabalho dos psicólogos em prol da saúde mental tem conquistado, aos poucos, espaço nos clubes de alto rendimento, casos de Cuiabá, Fortaleza, Guarani e Sport.

Para Eryca Bastos, psicóloga das categorias de base do Dourado, assim como as habilidades técnicas e táticas precisam ser desenvolvidas diariamente, as habilidades psicológicas também precisam de atenção.

“Na prática, pelos treinos já realizados, os jogadores não deveriam errar, mas por que erram? Porque as questões emocionais estão diretamente ligadas ao rendimento esportivo. Se o atleta não estiver bem emocionalmente, atrapalha o desenvolvimento ao longo dos treinos e jogos.

Eles sofrem pressão por todos os lados, da família, dos amigos, do clube, da própria equipe, do time e da torcida adversária e até mesmo a pressão interna. Nesse sentido, é preciso cuidar do autoconhecimento, do manejo das emoções e de todas as habilidades psicológicas que podem ser treinadas e desenvolvidas para que o atleta esteja cada vez mais preparado para lidar com as adversidades”, conclui a especialista.

Rosângela Vieira, psicóloga do Sport, ressalta que a maior parte dos clubes estrangeiros trabalham com psicólogos em sua comissão, pois consideram essencial no dia a dia. "Infelizmente aqui no Brasil ainda existe muita resistência por parte de técnicos e dirigentes de clubes.

O fato de não existir psicólogos em todos os clubes do Brasil não é resistência dos atletas, afinal eles estão buscando fora do clube. Espero que um dia os clubes de futebol entendam que outros especialistas não têm capacidade de fazer o que nós fazemos. Cada um na especificidade, estudamos muito para compreender a mente humana e fazer nosso trabalho com ética e humanização”, conclui.

Na temporada passada, o Fortaleza contratou o psicólogo mexicano Christian Rodriguez, especialista em ciência do esporte para atletas de alto rendimento, que trabalhou no Huracán, Talleres e Newell's Old Boys, da Argentina, e seleção do México, para fazer parte da comissão técnica. No momento mais difícil do clube em 2022, quando ficou 20 rodadas consecutivas entre os quatro últimos colocados do Brasileirão, o profissional foi fundamental para desenvolver trabalhos coletivas e individuais para recuperar peças do elenco.

Para André Aroni, psicólogo esportivo do Guarani, mais do que um psicólogo na comissão técnica dos clubes, é necessário um profissional especialista no esporte. Ele explica o motivo:

“A grande diferença entre a psicologia clínica e a psicologia do esporte é que a segunda se mostra mais eficaz no auxílio ao atleta em atuar bem sob grandes pressões. Muito se fala sobre a saúde mental, mas existe alguma negligência em não considerar o rendimento esportivo como uma das dimensões mais importantes de sua saúde psíquica. Neste sentido, este profissional pode ensinar os atletas a definir metas de curto, médio e longo prazo, a autorregulação emocional, imagem mental, autoconversa, entre outras possibilidades”, conclui.

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