Estudo aponta que, no Brasil, 41,8% dos jogadores de futebol negros já sofreram racismo
As discriminações, que incluem insultos, 'piadas' ou 'ataques', ocorreram majoritariamente nos estádios
Agência de notícias
Publicado em 1 de setembro de 2023 às 09h01.
Aproximadamente 41,8% dos jogadores de futebol ou trabalhadores negros do futebol do Brasil disseram ter sido vítimas de racismo durante o exercício de sua atividade relacionada ao esporte popular, segundo uma pergunta divulgada nesta quinta-feira.
As discriminações, que incluem insultos, “piadas” ou “ataques”, ocorreram majoritariamente nos estádios (53,9%), nas redes sociais (31,4%), nas sedes ou centros de treinamento dos equipamentos (11,4%) e, em menor medida, nos hotéis (3,3%).
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O problema também aparece para a população indígena, entre os quais 31,6% afirmaram ter sofrido com situações parecidas, enquanto 52% dos participantes da pesquisa afirmaram ter visto algum caso, segundo os resultados de uma consulta realizada pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol.
— Os dados da investigação certificam nossa desconfiança de que o futebol brasileiro está longe de ser um lugar democrático e respeitoso das diferenças — disse Marcelo Carvalho, diretor da ONG, citado em um comunicado.
O relatório foi realizado a partir de uma consulta on-line com 508 trabalhadores (28% mulheres) das duas primeiras categorias do futebol masculino e feminino, além de membros da comissão arbitral.
A pesquisa-voluntária e anônima foi realizada entre julho e agosto de 2023, com apoio da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e da empresa esportiva Nike. A enquete pede por mais “campanhas educativas e mais rigor nos castigos”.
“Vamos trabalhar ainda mais para excluir estas e outras práticas discriminatórias do futebol, seja dentro ou fora dos campos. Não podemos tolerar o racismo, o medo e a discriminação”, afirmou o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, citado em uma nota.
O preconceito racial é delicado no Brasil, onde 56% dos 203 milhões de habitantes são identificados como negros ou “afrodescendentes”.
A CBF ampliou as penas pelos atos discriminatórios no futebol, com sanções que vão desde multas até a possibilidade das equipes perderem pontos.
Contexto sul-americano
Faltando 26 partidas para o final das Copas Libertadores e Sul-Americana — quartas de final, semifinal e a grande decisão —, as denúncias de racismo nas competições organizadas pela Conmebol já ultrapassaram todas as registradas nas duas competições em 2022.
No total, no ano passado foram 12 casos, e neste ano, antes do início das quartas de final, o total já chega a 18 denúncias. Os dados são do Observatório Racial da Discriminação no Futebol.
Nos últimos dois anos, ainda com as competições em andamento nesta temporada, já são 30 casos. Entre 2014 a 2021, o número total foi de 39 denúncias, e Brasil e Argentina concentram a maioria. Cada país tem 15 registros, seguidos de Uruguai (sete) e Paraguai (seis).
Os times que mais aparecem são o Indepediente e o Boca Juniors, da Argentina, e o Olimpia-PAR, com dois casos registrados em cada clube.
“Temos um crescimento de denúncias de racismo em competições sul-americanas principalmente ligadas a jogadores brasileiros. Isso se dá pelo debate que fazemos no Brasil. Se olharmos para o futebol brasileiro, as denúncias também aumentaram.
Principalmente pela conscientização que temos aqui. Temos discutido muito o racismo na sociedade e essa conscientização se reflete no futebol. Temos jogadores e torcedores denunciando, todos mais atentos e entendendo que o racismo não é só insulto, xingamento. O torcedor brasileiro é mais atento”, afirma Marcelo Carvalho, diretor-executivo do Observatório.
Para Marcelo, no entanto, apesar de ser positivo que haja mais denúncias, as punições ainda não são suficientes. Desde o ano passado, a Conmebol aumentou a multa de US$ 30 mil (cerca de R$ 148 mil) para US$ 100 mil (R$ 493 mil) para os casos de racismo.
Há duas semanas, a entidade anunciou uma parceria com o Observatório para monitorar os episódios e criar um plano de ação para efetivamente combater os casos, além de reforçar a punição. Somente 8 dos 18 casos registrados neste ano foram julgados, com os envolvidos punidos