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Jornalista
Publicado em 12 de junho de 2024 às 18h03.
Última atualização em 13 de junho de 2024 às 13h30.
O financiamento para a economia de baixo carbono é chave para o sucesso da transição energética. Neste contexto, agentes financeiros têm um papel relevante e já vêm atuando para acelerar a migração para fontes cada vez menos poluentes.
Sob a mediação de Rodrigo Caetano, editor ESG da Exame, Aneliza Crnugelj, head of debt & ESG Advisory do Santander, Luiz Awazu Pereira da Silva, professor e ex-gerente geral do Banco de Compensações Internacionais (BIS), e Gabriel Azevedo, diretor geral de estratégia no BID, debatem como os bancos de desenvolvimento e o mercado de capitais favorecem a transição justa.
O tema faz parte da programação do Summit ESG 2024, promovido pela Exame, a maior publicação de negócios do Brasil. Os encontros fazem parte da agenda do “Mês do ESG 2024”.
Cisne verde
Awazu, que cunhou a expressão "cisne verde" em uma publicação do BIS como um conceito que se contrapõe à ideia de cisne negro, trouxe em 2008 essa visão de eventos catastróficos muito raros. Como a ciência atesta, se nada for feito, os eventos vão acontecer, o que influencia na análise e na modelagem de risco.
Como explica o estudioso, as mudanças climáticas têm efeito sobre a inflação no médio e longo prazo por conta do seu efeito na agricultura, por exemplo. "Também há efeitos sobre a estabilidade financeira pelos efeitos devastadores de eventos climáticos extremos", destaca o professor. É o caso das enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul e seus custos financeiros e impactos na vida da população.
"Os ativos não estão sendo bem precificados e é preciso que haja essa clareza sobre os riscos contidos nos balanços e, ao mesmo tempo, se preparar para uma economia de baixo carbono", alerta Awazu.
A transição vai depender de um levantamento minucioso dos riscos e uma boa precificação, além de um preparo dos investimentos necessários para viabilizá-la. Neste contexto, os atores financeiros são fundamentais, por meio da coordenação com os atores que participam do processo de combate às mudanças climáticas - incluindo governo, setor privado, sociedade civil - para garantir o financiamento adequado para a neutralidade das emissões de carbono, com a participação pública e privada.
"Do lado do setor privado, há aí a oportunidade de desenvolver uma série de produtos financeiros 'investíveis' por investidores institucionais e privados, como o desenvolvimento do mercado de bônus verde", pontua o ex-gerente geral do BIS.
As projeções apontam para a necessidade de investimentos da ordem de 5% do PIB global por ano, até 2050, para atingir a meta de emissões líquidas zero. Mas, como lembra Azevedo, do BID, além do desafio de financiamento, há problemas quanto a forma de colocar os recursos à disposição do movimento de transformação de uma nova economia. As oportunidades são imensas e há espaço para diferentes agentes. Mas os avanços vão depender de uma coordenação precisa de toda a cadeia, diz.
"É fundamental que o setor financeiro, seja ele de bancos multilaterais ou setor privado, acelere o processo de desenvolvimento de produtos que se prestem aos interesses e às necessidades dos diversos investidores", pontua Azevedo. Sem isso, avalia, os recursos podem não atender as demandas.
No papel de ajudar os clientes na estruturação de títulos temáticos - verdes, sustentáveis -, a head of debt & ESG Advisory do Santander explica como o banco tem atuado para atender a demanda dos clientes em projetos que contribuam com a descarbonização. "Tem de ser viável, ter 'bancabilidade', ao mesmo tempo que tem o instrumento e o disclosure corretos sem o risco de greenwashing", resume.
Aneliza destaca o papel da taxonomia verde - forma de classificação de empreendimentos e atividades econômicas de acordo com seus impactos ambientais, sociais e climáticos, de forma que os recursos disponíveis para financiamento sejam voltados prioritariamente para atividades que se sustentam a longo prazo a reduzir o financiamento de atividades danosas ao planeta e às populações.
Segundo a executiva do Santander, a taxonomia daria uma régua comum, ja que o Brasil tem particularidades distintas de outros países. Hoje, ainda é preciso olhar com muito cuidado para os "casos não óbvios e mais difíceis e segurar nas mãos do cliente para uma transição".
Nas condições atuais, completa a head do banco, é preciso seguir um passo a passo no apoio a projetos de descarbonização, o que que leva tempo e demanda investimentos.
O Summit ESG da Exame é considerado o maior evento ESG da imprensa nacional e promove debates que refletem a cobertura constante da Exame sobre os principais temas sociais e ambientais de interesse global.
Neste ano, serão realizados 21 painéis, organizados em oito blocos temáticos. Os temas abordados serão: Cadeias de Produção Sustentáveis, Inclusão e Empoderamento Econômico, Transição para uma Economia de Baixo Carbono, Financiando a Transição, Bioeconomia e Agro Sustentável, Soluções para a Transição Energética, Economia Circular e Adaptação e Transição Justa.
A cada semana, dois blocos serão veiculados, sempre às terças e quintas. Cadastre-se aqui para conhecer os detalhes da programação.