Só 10% dos criadores de conteúdo LGBTI+ se sentem representados por campanhas, diz pesquisa
Estudo traz uma reflexão sobre o oportunismo de se levantar a bandeira da representatividade apenas no mês do orgulho LBGTI+
Repórter de ESG
Publicado em 28 de junho de 2023 às 07h00.
De acordo com o estudo Mês do orgulho LGBTQIAP+ 2023, realizado pela Squid, empresa de tecnologia e dados que atua no setor de marketing de influência, apenas 10% dos criadores de conteúdo LGBTI+ se sentem muito representados pelas campanhas publicitárias. Apesar da representatividade da comunidade estar crescendo, lesbicas, gays, bissexuais, pessoas trans e intersexo, por exemplo, ainda lutam para encontrar espaços em campanhas publicitárias. O estudo ouviu mais de 550 criadores de conteúdo LGBTI+, deles, 58% eram homens cis, 58% brancos, 41% millenials, 70% do sudeste brasileiro e 46% com até 50k de seguidores.
O levantamento da Squid traz uma reflexão importante sobre o oportunismo de algumas marcas ao levantarem a bandeira da representatividade apenas no contexto do mês de julho, conhecido como mês do Orgulho LGBTI+. Segundo a pesquisa, cerca de ⅓ dos respondentes afirmam só participar das campanhas publicitárias no mês do Orgulho, e outros ⅓ afirmam receber mais oportunidade em junho do que em qualquer época.
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O estudo ainda afirma que 36,9% dos criadores de conteúdo LBGTI+ são convidados para campanhas apenas em junho, enquanto cerca de 35% são convidados para campanhas o ano todo e 28% deles recebem muito mais campanhas no mês do Orgulho, se comparado ao restante do ano.
Relacionamento a longo prazo
A pesquisa da Squid ainda cita o Censo de Criadores de Conteúdo do Brasil, lançado em 2023. Segundo ele, para os criadores de conteúdo (ou creators, no inglês), marcas que oferecem um relacionamento a longo prazo, indo além da lógica de um post e três stories, são extremamente relevantes – onde a identificação é valor super importante.
Já a Squid afirma que, segundo o estudo, 72% dos influenciadores LBGTI+ conseguem mais ou exclusivamente parcerias e campanhas no mês do Orgulho. Dentre os quatro principais motivos para trabalhar com marcas, estão: posicionamento em defesa da diversidade o ano todo, apoio da marca a diversidade como um todo (incluindo raça, gênero, sexualidade, classe social, idade, entre outros), trabalhar com criadores e pessoas LGBTI+ ao longo do ano e quando a marca reverte parte dos lucros para apoio a comunidade LBGT+.
Quando perguntados sobre os motivos para desconsiderar a atuação junto a uma marca, os entrevistados comentaram: o envolvimento em polêmicas relacionadas a qualquer movimento social, marcas sem funcionários LGBTI+, marcas que realizam campanhas em junho mas não tem compromisso efetivo com a comunidade.
Trabalho junto às marcas
Segundo a pesquisa, é essencial falar de diversidade o ano todo. Mas, o estudo ainda afirma que não há um equilíbrio na representação dos grupos, por exemplo, os homens gays recebem maior espaço de visibilidade do que lésbicas e pessoas trans, por exemplo.
A ideia aqui seria oferecer um espaço mais igualitário para todos os recortes da comunidade LGBTI+ e contar com a sua participação como uma “inclusão contínua”, diz a pesquisa. De forma a contar as narrativas de membros da comunidade em campanhas diversas como Dia das Mães, Dia dos Pais e Dia dos Namorados, por exemplo. “Essa presença contínua é mais significativa do que levantar a bandeira de forma pontual”, afirma a Squid.
Mas, quando a pesquisa questionou quais marcas tinham tido uma ação publicitária positiva, a campanha mais lembrada foi a da marca Boticário no Dia dos Namorados. Boticário, Avon, Natura, Burger King, Doritos e Amstel são as marcas mais lembradas pelos criadores de conteúdo LGBTI+.“A melhor forma de atuar com a comunidade LGBTQIAP+ é contratar pessoas que fazem parte dela ao longo de todo o ano, e para atuar nas mais diversas campanhas e momentos”, afirma o estudo.
Muito mais do que uma ação pontual
A pesquisa reforça a importância do mês do Orgulho para gerar movimento e, principalmente, visibilidade para a comunidade LGBTI+. No entanto, atuar com diversidade deve ir além dos lucros e reconhecimento momentâneo, afirma a Squid. Para o levantamento, o mês de junho é relevante para reforçar compromissos e não criar campanhas pontuais– reforçando a contratação de criadores de conteúdo da comunidade para os diversos processos criativos.
É essencial incluir pessoas da comunidade de maneira orgânica ao longo do ano. “Incluir representantes de diferentes orientações sexuais, identidades de gênero, etnias, idades e habilidades é fundamental para promover uma verdadeira inclusão e dar espaço a todas as vozes e vivências”, conclui o levantamento.
Por que o mês do Orgulho é comemorado em junho?
Era 28 de junho de 1969, quando frequentadores do Bar Stonewall Inn, em Nova York, se rebelaram contra as batidas policiais. O bar era amplamente conhecido por ser frequentado por pessoas LGBTI+, pessoas essas que sofriam com as batidas policiais e até mesmo agressões nas operações. Então, a data deu origem ao Dia do Orgulho.