Por uma dívida nacional mais sustentável, países emergentes querem emitir títulos verdes
As propostas visam vincular a nova dívida junto ao Banco Mundial e principais credores do mundo a metas de biodiversidade e emissões de carbono
Maria Clara Dias
Publicado em 25 de fevereiro de 2021 às 17h25.
Última atualização em 26 de fevereiro de 2021 às 12h29.
Países de mercados emergentes planejam emitir os primeiros títulos atrelados à natureza como parte das negociações com o Banco Mundial e principais credores soberanos para tornar sua dívida mais sustentável.
As propostas visam vincular a nova dívida a metas de biodiversidade e emissões de carbono, de acordo com Simon Zadek, presidente da Finance for Biodiversity Initiative, que publicou os planos na quinta-feira. O Paquistão pode ser o primeiro a emitir esses títulos com desempenho atrelado à natureza.
O debate para tornar a dívida soberana mais verde, que envolve EUA, China, Reino Unido e Alemanha, ocorre quando a mitigação da mudança climática e os gastos para a recuperação após a pandemia estão no topo da agenda dos governos. Entre as ideias estão os planos de um centro de consultoria para conectar emissores e credores, em um momento de crescente demanda de investidores por ativos ambientais.
“Este ano oferece uma oportunidade histórica de colher dividendos duplos ao alinhar o alívio da dívida soberana com a natureza e os resultados climáticos”, disse Zadek, que anteriormente liderou uma força-tarefa de finanças verdes para as Nações Unidas. “A única razão pela qual precisamos dessa plataforma é porque os bancos de investimento não conhecem muito o assunto.”
As propostas do grupo ligariam o custo do pagamento da dívida a metas quantificadas de biodiversidade e de redução de emissões, o que significa que os emissores teriam que pagar menos juros se atingissem os objetivos. Os países também podem pagar a dívida usando créditos de carbono.
O Paquistão deve usar este sistema para emitir neste ano o chamado título com desempenho atrelado à natureza em uma oferta de até 1 bilhão de dólares, de acordo com Malik Amin Aslam, assessor para mudança climática do primeiro-ministro Imran Khan. O governo do Paquistão tem sido um grande usuário de carvão para geração de energia, mas pretende usar energia mais verde e plantar quase 10 bilhões de árvores até 2023.
“Poderíamos realmente vincular nossa pensão de dívida soberana ao nosso desempenho baseado na natureza”, disse Aslam em entrevista. “É uma situação ganha-ganha, porque nos ajuda a fazer o que queríamos, mas ao mesmo tempo cria um novo instrumento para financiar todo o processo.”
Já existe uma corrida de governos do mundo todo para emitir níveis recordes de títulos verdes, que se concentram principalmente no financiamento de projetos de energia limpa. A Polônia emitiu os primeiros títulos verdes soberanos em 2016, dizendo que usaria parte dos recursos para seus parques naturais.
“Existem trilhões em fundos de pensão, que têm implorado por novos produtos”, disse Kevin P. Gallagher, professor de política de desenvolvimento global da Universidade de Boston e coautor de um estudo sobre o alívio de dívida verde.
As novas propostas visam integrar a natureza e o clima à dívida soberana de maneira mais sistêmica, inclusive com agências de classificação de risco e bancos de investimento que assessoram governos sobre suas dívidas. A Finance for Biodiversity Initiative também conversou com credores e gestores de ativos para explorar os melhores projetos para esses títulos com desempenho atrelado à natureza.
“Os investidores realmente querem incentivar os países a serem ambiciosos e para que existam consequências para que realmente cumpram as metas”, disse Fiona Stewart, especialista em setor financeiro do Banco Mundial, acrescentando que as conversas estão em andamento.