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O Rock In Rio marcou uma geração sedenta por liberdade, agora se volta para o impacto socioambiental

Roberta Medina, vice-presidente da Rock World e filha do fundador, fala à EXAME sobre as ações levantadas pelo festival, que busca ser exemplo de sustentabilidade

“Tudo que fizemos de sustentabilidade até hoje não tem uma legislação que obrigue. Foi por iniciativa própria e entendendo que isso faz a marca mais forte e torna a empresa financeiramente mais saudável. Buscamos mostrar isso como exemplo para o mercado”, disse Roberta Medina, vice-presidente da Rock World (Divulgação/Divulgação)
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 10 de agosto de 2024 às 07h00.

Última atualização em 12 de agosto de 2024 às 14h46.

O Rock In Rio marcou uma geração de brasileiros. Qual pai ou mãe de um jovem da geração Y, ou Z, não se lembra das milhares de vozes que acompanharam Freddie Mercury em “Love of My Life”? Em 1985, ano da primeira edição do festival de música, o Brasil vivia a ditadura militar. O megaevento surgiu para dar voz a uma juventude que clamava por liberdade de expressão, e por novas perspectivas econômicas. Foi o estopim de uma revolução cultural e social no país.

Quatro décadas depois, o Rock In Rio se tornou uma potência do mercado bilionário de grandes festivais de música, estimado em cerca de 30 bilhões de dólares globalmente. E para honrar sua gênese transformadora, a Rock World, empresa controladora da marca, quer fazer do festival um modelo de atuação sustentável, para servir de exemplo a toda indústria. À frente desse processo, está Roberta Medina, vice-presidente da companhia, filha de Roberto Medina, o fundador. “São as nossas escolhas, enquanto empresários, que minimizam o impacto negativo do festival e maximizam os positivos”, disse Medina à EXAME.

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“Ser” e “fazer” um mundo melhor: esses são os dois verbos mágicos que guiam as frentes de sustentabilidade do Rock In Rio, conta Medina. O maior festival de música do mundo celebra sua 25ª edição em 2024 e desde 2001, levanta seu propósito “Por um mundo Melhor”, na busca de soluções positivas para impactar o planeta. Segundo Medina, “o Ser” é o mais importante: é o propósito,a forma de se estar no mundo, uma verdade interna genuína.

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Já o “fazer” diz respeito ao que extrapola os sete dias de evento: as ações sociais e ambientais que realizam e apoiam, como plantar árvores ou ajudar no desenvolvimento das favelas brasileiras. “Tudo que fizemos até hoje não tem uma legislação que obrigue. Foi por iniciativa própria e entendendo que isso faz a marca mais forte e torna a empresa financeiramente mais saudável também. Buscamos mostrar isso como exemplo para o mercado”, destacou Medina.

“Para falarmos de sustentabilidade desde o início, entendemos que precisávamos agir e foi então que começou o nosso apoio financeiro a causas sociais. O pilar econômico e o “S” estão desde a largada da criação do festival, na sua razão de ser”, explicou Medina. Foi só em 2006 que o ambiental veio para somar e a marca se tornou neutra em carbono, em um momento que o mundo ‘esquentava’ as conversas sobre mudanças climáticas.

O Rock In Rio 2024 reúne mais de 700 mil pessoas e contará com sete palcos, mais de 750 artistas e 500 horas de experiências (Gerdau/Divulgação)

Desde então, a cada edição uma bandeira diferente é escolhida para ser apoiada: de 2016 a 2019, aceleraram ações em prol da preservação da Amazônia e em 2017, lançaram o “Espaço Favela” dentro da cidade do rock, como uma resposta para enfrentar as crises de violência no Rio de Janeiro. “Foi o momento em que decidimos colocar luz naquilo que tem de bom nas favelas”, destacou Medina.

Em 2021, a empresa resolveu partilhar suas metas ESG para 2030 e lançou seu primeiro relatório alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU – e que atende às normas ISO 20121 -- é uma certificação internacional voluntária para gestão sustentável de eventos, criada pela International Organization for Standardization. “Antes do ISO, era como um movimento ativista interno. Íamos conquistando um de cada vez e o pilar ambiental talvez seja o mais difícil e com maior resistência, enquanto o social é mais fácil. Com a certificação, isso acabou. Tivemos de entrar em auditoria, documentar e abraçar os compromissos”, disse Medina.

Destaques da agenda sustentável em 2024

Este ano, os focos serão três: no curto prazo, o combate à fome, em parceria com a Ação da Cidadania, que irá doar 1,5 milhão de pratos de comida -- em um primeiro momento, direcionados para o sul do país em razão das enchentes. No médio prazo, há algumas iniciativas, com destaque para o Favela 3D, que visa transformar a vida de mais de 250 famílias do Morro da Providência, na região carioca do Burraco e Sessenta. O projeto, lançado em 2023, já recebeu investimentos de 7,5 milhões de reais e visa a capacitação e a empregabilidade de pessoas em situação de vulnerabilidade.

No longo prazo, vem a emergência climática. “Percebemos que todo o resto não dá conta se não atuarmos no tema do clima. O que fazemos é cuidar de como o próprio Rock in Rio é feito, com buscas constantes de soluções para minimizar as emissões e aumentar a eficiência, com o objetivo de influenciar a indústria e provocar a cadeia produtiva”, complementou.

Nesta edição,que contará com sete palcos, mais de 750 artistas, 500 horas de experiências durante sete dias, garantir a sustentabilidade é peça-chave.Uma das grandes metas do evento é ser lixo zero e em 2024, um dos avanços é a utilização do copo reutilizável – crucial na geração de resíduos. Utilizado pela primeira vez no Brasil no festival The Town em 2023, a expectativa é que, com a solução, se passe de 81% de reciclagem para 93% -- evitando que os resíduos parem no aterro.

“O copo já vinha sendo usado em alguns países. Mas quando a gente quis trazer para o Rock in Rio, a Anvisa não deixava. Depois, os operadores estavam desconfortáveis. E em seguida houve questionamentos sobre a qualidade do material e a variedade de bebidas. Eram vários entraves. Foi só na COP do ano passado que o jogo virou”, conta Medina.

Segundo ela, a ideia é incentivar o consumidor a utilizá-lo ao comprar a segunda bebida, e se caso quiser trocá-lo por um ano, ele volta para a operação. Na edição de Lisboa, Portugal, o evento adotou o copo já em 2018.  “Na Europa, as entidades são obrigadas a operar de determinada forma na reciclagem, de acordo com legislação. Há entidades obrigadas a fazer esse trabalho. No Brasil, só acontece graças aos catadores. Temos de avançar muito”, disse Medina.

Como outra grande evolução da edição, Medina também destaca o consumo de energia para a rede, que bateu 65% ligada à matriz energética do Brasil, predominantemente renovável. “Ainda estamos tentando que eles abasteçam e garantam energia verde, mas como a cidade do Rock conta com um terreno da prefeitura, há alguns entraves”, disse. Além disso, a Neoenergia vai instalar 43 postes alimentados a painéis fotovoltaicos.

Todos os credenciados que entram na cidade do Rock (mais de 25 mil), também passam por uma formação em sustentabilidade. “A ideia é espalhar conhecimento para mudar a própria cadeia”. Além disso, todos os stakeholders, parceiros e mais de 92 patrocinadores precisam estar alinhados e de acordo com as normas ambientais, sociais e de governança da certificação ISO.“É bonito de ver. Quem olhar para o estande de ativação das marcas durante o evento, vai ver que quase todas estão falando de algum impacto socioambiental. É um território onde elas passam a se sentir confortáveis, de falar desses temas – porque é coerente”, acrescentou.

A executiva destaca as ações de Itaú e Doritos em diversidade, a doação do aço 100% reciclável do palco pela Gerdau, a parceria com a Gerando Falcões, Gerdau Volkswagen, Yuool no projeto Favela 3D e a Heineken com o ‘Green Your City’.

Nos últimos anos, o foco também tem sido muito nas pessoas – com diversos parceiros plurais e investimentos em acessibilidade e inclusão. Entre os parceiros deste ano que trabalham a diversidade, estão oInstituto Glória, ID-BR, Livre de Assédio, Casa Brasil, Grupo Conexão G e Pró Medula. Pela primeira vez, o evento também abre as portas para a “Babilonia Feira Hype” e reúne cerca de 100 marcas e empreendedores visando estimular o comércio local.

Para Medina, o pilar que mais avançou é o de governança. De qualquer forma, ela garante que o festival está comprometido com a melhoria contínua e em buscar soluções a cada ano. Para isso, ela acredita na potência da juventude.

“Os jovens têm tudo para ser melhores que nós nessa missão. Eu desejo que essa noção concreta de interdependência vá ficando cada vez mais clara e que cada um assuma seu papel no mundo. Essa geração não tem apego ao modelo passado. E, por isso, pode evoluir mais rápido. Pode ser extremamente tola ou extremamente sábia, a vantagem é estar sendo impactada com a conversa do coletivo mais rápido”, concluiu Medina.

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