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Espaço de trabalho colaborativo no escritório da Pepsico: espaços estão sendo reformulados para facilitar reuniões e interações (Pepsico/Divulgação)
Rodrigo Caetano
Publicado em 7 de outubro de 2020 às 16h46.
Última atualização em 20 de outubro de 2020 às 16h10.
Trabalhar a hora que quiser, de onde estiver. Essa é a nova política da Pepsico, fabricante de bebidas e salgadinhos. Desde 1º de outubro, o funcionário administrativo da empresa pode escolher a maneira mais conveniente de cumprir a jornada de trabalho, contanto que faça suas tarefas entre às 5 da manhã e às 10 da noite -- fora deste horário, a lei trabalhista exige adicional noturno. É possível, inclusive, trabalhar de outra cidade ou de outro Estado.
Segundo Letícia Dias, diretora de remuneração e benefícios da Pepsico, o objetivo não é apenas permitir que as pessoas trabalhem de casa. “Quem quiser trabalhar da empresa, pode. Não estamos impondo restrições”, afirma Dias. “Também não pretendemos reduzir espaço físico. A ideia é dar uma outra função ao escritório.” Os espaços estão sendo repensados para serem mais propícios a reuniões, encontros e celebrações.
A jornada continuará a ser de oito horas, com uma hora de almoço. Para a maioria dos funcionários administrativos, no entanto, não há um controle efetivo das horas trabalhadas. Apenas os funcionários de fábrica e de vendas “batem cartão”. Para eles, a empresa está concedendo outros benefícios, como a possibilidade de tirar três folgas adicionais no ano, sob qualquer pretexto.
Além da jornada flexível, a Pepsico instituiu novas políticas de licença maternidade ou parental, que já é de seis meses. Agora, o retorno ao trabalho, após a licença, será feito de forma gradual, com um período de adaptação em que o profissional trabalha apenas meio período. Também será possível tirar uma licença não remunerada de 12 meses para se dedicar ao cuidado de alguém da família, mantendo o plano de saúde e o seguro de vida, e recém-casados poderão desfrutar de cinco dias de folga.
A Pepsico já tinha uma política liberal em relação ao horário de trabalho, mas a pandemia acelerou a transição para o modelo totalmente flexível. “Conseguimos respostas para algumas dúvidas que ainda impediam a mudança”, afirma Dias. A principal delas diz respeito à necessidade de contato físico para integração e colaboração entre as pessoas. “Na verdade, o retorno que recebemos aponta que a colaboração até aumentou com as pessoas de casa”, relata a diretora.
Foram precisos alguns ajustes tecnológicos, no entanto. A equipe de tecnologia trabalhou para resolver gargalos de infraestrutura, para acabar com a lentidão em alguns sistemas, e melhorar a segurança dos dados. Para permitir o uso compartilhado dos espaços, a Pepsico desenvolveu um aplicativo para as pessoas reservarem uma estação de trabalho nas diversas unidades. “Pode trabalhar da fábrica ou de um ponto de venda. Na verdade, até encorajamos que os colaboradores conheçam o dia a dia da operação”, afirma a executiva.
A ideia de conciliar trabalho remoto com presencial é uma tendência que vem ganhando força no pós-pandemia. No Google, os escritórios também estão sendo adaptados para o modelo híbrido. “Eu vejo o futuro definitivamente sendo mais flexível”, afirmou Sundar Pichai, presidente da companhia, em entrevista para a revista Time. “Nós acreditamos que o contato pessoal, estar junto e ter senso de comunidade é super importante quando temos de resolver problemas difíceis ou criar algo novo. Então não vemos isso mudando, e não achamos que o futuro é apenas 100% remoto”
O home office também gerou estresse em muitos profissionais. De acordo com uma pesquisa encomendada pela Microsoft e realizada pela empresa de análises Harris, 33% das pessoas que estão trabalhando remotamente dizem que a falta de separação entre trabalho e vida pessoal está impactando negativamente seu bem-estar.
A Harris ouviu mais de 6 mil pessoas ao redor do mundo, em 8 países, incluindo o Brasil. Os brasileiros foram os que responderam ter a maior sensação de burnout: 44% dos respondentes disseram que a pandemia aumentou esse sentimento de exaustão. Na sequência, vêm Singapura (37%), Estados Unidos (31%), Índia (29%) e Austrália (28%).
Para Dias, da Pepsico, a questão está muito associada à cultura da empresa. “Não dá para pensar em instituir uma política de flexibilização do trabalho, se a empresa não dá liberdade e autonomia para os colaboradores”, diz a executiva. “Nós fizemos porque já tínhamos isso enraizado. As empresas que estão começando agora, já saem em desvantagem.”