Empresas têm a responsabilidade de contribuir para o desenvolvimento da sociedade, afiram Eduardo Sirotsky Melzer, fundador da EB Capital (manusapon kasosod/Getty Images)
Rodrigo Caetano
Publicado em 17 de junho de 2021 às 16h44.
Última atualização em 18 de junho de 2021 às 08h20.
Quando o rico gasta o seu dinheiro, está movimentando a economia, o que gera empregos e beneficia os pobres. Ao pagar seus impostos, ele também contribui para melhorar a vida das pessoas – ainda que, proporcionalmente à própria renda, quanto mais se ganha, menos imposto se paga. Essa é a justificativa de muitos empresários para o fato de terem em suas mãos muito mais dinheiro do que a maioria. Mas, é suficiente?
A resposta é um sonoro “não”, ao menos na visão de Eduardo Sirotsky Melzer, cofundador e CEO da EB Capital, gestora que administra 3,5 bilhões de reais em ativos. “Não tenho nenhum interesse em multiplicar meu capital, se isso não estiver atrelado a um desenvolvimento social”, disse o investidor à EXAME.
“Enquanto o empresário ficar alienado, apontando o dedo e achando que está cumprindo seu papel pagando imposto e gerando emprego, não vamos evoluir”, completa Melzer.
A EB Capital nasceu com dois compromissos inegociáveis: retorno e propósito. O primeiro, dá sustentabilidade à própria empreitada, afinal, sem retorno não há negócio. O segundo, é a essência da estratégia de investimentos da gestora. Nenhum tostão é aplicado sem que se tenha a clareza do impacto socioambiental positivo do empreendimento.
“Levamos fibra ótica para o interior do Brasil”, explica Melzer, usando como exemplo a investida EB Fibra. “A maioria pensa que se trata de inclusão digital, mas não é. O que fazemos é inclusão social”. A fibra leva a internet, que leva informação, educação, entretenimento e a possibilidade de se conectar à economia e fazer negócios. “Sem isso, as pessoas ficam isoladas, à margem da sociedade”, define.
Os outros negócios da EB seguem a mesma linha. Há investimentos em educação técnica, e-commerce de ferramentas e, neste ano, a gestora lançou um novo fundo, de 1 bilhão de reais, focado em cidades inteligentes, agricultura sustentável, reciclagem, trabalho do futuro, saúde inclusiva e gestão de resíduos. Todas as áreas estão alinhadas com o conceito de desenvolvimento socioambiental.
“Não estou pensando em uma empresa para cinco anos. É para 50”, afirma. “Como vou conseguir essa longevidade sem me preocupar com temas de longo prazo? Terei clientes no futuro, haverá gente disposta a trabalhar para mim, manterei minha cadeia de fornecedores? São perguntas que todo empresário deve se fazer.”
Em 2019, Pedro Parente, ex-presidente da BRF e da Petrobras, entrou para a sociedade, que também conta com Fernando Iunes e Luciana Ribeiro. Parente e Melzer se conhecem há algum tempo, já que trabalharam juntos entre 2003 e 2009. Há um grande alinhamento ideológico entre os dois.
“Existe uma constatação que é preciso ter um capitalismo social, digamos assim. Não é descuidar da sustentabilidade financeira das empresas, mas sim agregar outros aspectos à atuação empresarial”, afirmou Parente em entrevista à EXAME, dias antes da conversa com Melzer.
“A empresa que pensa que seu único objetivo é gerar lucro vai ficar fora do mercado por falta de consumidores. Até mesmo para a sobrevivência da empresa, ela vai precisar se dedicar aos aspectos ambiental, social e de governança. Os dois primeiros são requerimentos da sociedade e são mais relevantes. O último é voltado para os investidores”, completou o sócio.
Na EB Capital, ESG é o modelo de negócios e propósito é a estratégia.
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