Lula na COP27: para fazer o que não fez na área social, presidente quer ouvir a sociedade civil
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva ouviu a demanda de negros, indígenas, mulheres e cientistas em evento para 120 brasileiros na COP27. Em seguida, petista fez promessas como retomada das conferências nacionais
Marina Filippe
Publicado em 17 de novembro de 2022 às 07h53.
De Sharm el-Sheikh, no Egito
Retomar as conferências nacionais para que o povo tenha participação nas decisões de políticas públicas é o que pretende Luiz Inácio Lula da Silva, presidente eleito que marca presença na COP27, a Conferência das Partes para mudanças climáticas. Na manhã desta quinta-feira, 17, em evento para a sociedade civil, Lula afirmou que visa criar 74 Conferências Nacionais. "A juventude, os povos negros, as mulheres e os indígenas precisam nos dizer o que querem. Eu não posso dizer por eles. Esse é o último ano que algum brasileiro vai se ver separado das condições oficiais dos estados brasileiros", afirmou.
No evento promovido peloBrazil Action Climate Hub, espaço organizado peloInstituto Clima e Sociedade (iCS), o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e o Instituto ClimaInfo, na COP27, Lula sentou ao lado de representantes de grupos socialmente minorizados e buscou mostrar que quer fazer o que não conseguiu em gestões anteriores.
"Conheci um quilombo em 2006 quando eu era presidente e até hoje esse espaço não foi legalizado. A democracia nem sempre permite que as coisas sejam fáceis. Por isso, voltei para fazer o que eu não fiz da outra vez. O Brasil não dá certo se não incluir a sociedade nas decisões". Ele, que assumiu uma postura de cobrança no discurso realizado na quarta-feira, 16, falou também de colaboração. "Não adianta só cobrar, vocês vão ter que ajudar a fazer".
Leia também:
- Lula na COP27: nova agenda ambiental prevê aliança com agro, governança global e ONU renovada
- De executivas a ativistas: Janja se une a mulheres na COP27 e visa atuação para equidade de gênero
Na ocasião, o petista reforçou a ideia de que a ONU precisa de renovação. "A ONU precisa mudar, com países africanos no conselho de segurança, por exemplo. Se não houver uma ONU forte não serão levantadas as questões do clima da forma necessária".
Lula também seguiu com promessas como a criação do ministério dos povos originários. "Dizem que os indígenas têm 14% da terra do Brasil, mas na verdade elas são do governo brasileiro". Na parte da tarde, petista deve fazer outra reunião, focando nessas questões.
Outros pontos abordados foram a recriação de polos de cultura, projetos para equidade salarial, aumento do salário mínimo acima da inflação e apoio ao agronegócio que prioriza práticas sustentáveis. "Não precisamos derrubar um metro de árvore para aumentar a produção de soja. As terras degradas podem ser recuperadas".
A participação da sociedade civil brasileira
Em uma sala para 120 pessoas, que entraram por ordem de chegada, o presidente eleito ouviu, ao lado de Janja e Fernando Haddad, por quase uma hora as demandas de organizações como a Coalizão Negra por Direitos que, representada por Douglas Belchior, entregou uma carta pedindo enfrentamento ao racismo e justiça climática.
“No Brasil, a população negra está diretamente afetada pelos impactos das mudanças do clima nas cidades, e no campo estamos vivendo a emergência climática. Mais de 60% da população negra no país está diretamente impactada pelos eventos extremos do clima devido às condições de moradia, alimentação, saúde, acesso à terra urbana e rural, trabalho e renda, mobilidade e localização…”, diz trecho do documento.
Thuane Nascimento, do Perifa Connection, afirmou que a discussão de perdas e danos é "para ontem". "Estamos numa realidade de desapropriação por muito tempo, e precisamos de urgência climática". Já Cíntya Feitosa, do Instituto Clima e Sociedade (iCS) e do Brazil Climate Action Hub, reforçou como o evento foi pensando para que todas as diversidades fossem representadas.
A Amazônia também foi pauta dos participantes. "Os povos indígenas fizeram combates pela proteção da natureza, e vão continuar fazendo, mas é preciso assegurar uma luta justa", disse Puyr Tembé, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).
Para Adalberto Val, cientista da Amazônia, é necessário que o governo seja capaz de criar mecanismos para que os pesquisadores que estão fora do Brasil retornem. "Pesquisadores da Amazônia que conseguiram estudar no governo Lula não encontram boas condições de trabalho no país. É preciso trazê-los de volta para que a ciência e o conhecimento ancestral andem juntos".