Fundos ESG se multiplicam e já podem ser acessados com R$ 10
Novo fundo lançado pela Plural Asset derruba barreira de entrada no segmento. Entre julho do ano passado e julho deste ano, fundos ESG cresceram 26%
Rodrigo Caetano
Publicado em 1 de dezembro de 2020 às 15h36.
A Plural Asset acaba de lançar seu primeiro fundo ESG . O Plural ESG Crédito Privado 45 irá investir em ativos de renda fixa , como debêntures, green bonds, CDBs e títulos públicos, que serão selecionados a partir de socioambientais e financeiros. Parte da taxa de administração (20%) será revertida para entidades do terceiro setor, entre elas o Instituto Guga Kuerten, a Associação de Mulheres Empreendedoras do Brasil e o projeto Amazônia 4.0, idealizado pelo cientista Carlos Nobre .
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Nobre fará parte do “comitê de notáveis” que dará suporte às decisões tomadas pela gestora. Os outros integrantes do grupo serão Alice Kuerten, que foi diretora da Fundação Catarinense de Educação Especial e hoje comanda o Instituto Guga Kuerten, e Cristiana Pereira, ex-diretora da B3 e fundadora da ACE Governance, consultoria especializada em governança e mercado de capitais.
Para selecionar os ativos, a Plural desenvolveu filtros positivos e negativos. O trabalho teve auxílio da Sitawi Finanças do Bem, entidade que atua na criação de fundos filantrópicos e é certificadora de green bonds no país. Os filtros excluem mineradoras que ofereçam risco às comunidades, empresas que tenham ao menos 20% da receita proveniente de carvão térmico, e empresas com rotatividade de funcionários superior a 20% (exceto por companhias de varejo, cuja dinâmica de contratação é de maior rotatividade).
Com taxa de administração de 0,75%, o fundo permite aplicações a partir de R$ 10. O objetivo é democratizar o acesso a investimentos ESG, que ainda são vistos como um nicho voltado a investidores de grande porte.
O ESG está bombando
Neste ano, os fundos ESG se multiplicaram no mercado. No Brasil, em termos de volume, o segmento ainda não é relevante. Mas vem crescendo rapidamente. Os fundos registrados como Ações Sustentabilidade/Governança pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) possuem um patrimônio somado de 543,1 milhões de reais. Entre julho de 2019 e julho deste ano, essa categoria registrou um crescimento de 26%, de acordo com relatório produzido pela Exame Research.
Entre as novidades, está o ESGB11, do banco BTG (que faz parte do grupo que controla a EXAME). É o primeiro fundo de índice (ETF) do mercado brasileiro que segue os princípios de investimento responsável. O fundo replica a carteira do índice S&P/B3 Brasil ESG (SPBRESBP), recém lançado pela bolsa brasileira e desenvolvido pela S&P Dow Jones, em parceria com o próprio BTG. Fazem parte do índice 96 ações de 93 empresas, todas brasileiras — o BTG tem 2 anos de exclusividade para o uso do índice.
A gestora vítreo também entrou no segmento este ano. O fundo Vitreo FoF ESG Carbono Neutro é voltado para o investidor comum, com um valor mínimo de investimento de 1.000 reais, e se trata de um fundo de fundos, ou seja, investe em uma carteira de fundos com estratégia ESG. O produto reúne fundos de gestoras como Brasil Capital, Constellation, Fama, Indie Capital e JGP e traz um diferencial em sua taxa de administração, de 0,75% e sem taxa de performance.
Confira outros fundos ESG disponíveis no mercado
Fama Investimentos
Fundo recomendado: FAMA FIC FIA
Pioneira na adoção do conceito, a Fama adota uma estratégia para os fundos de ações com viés fundamentalista e critérios ESG rigorosamente incorporados à avaliação das empresas investidas. Em uma live transmitida pela EXAME, o fundador da gestora, Fabio Alperowitch, refutou a ideia de que o ESG está ligado à filantropia. “Muita gente tem a impressão que esse modelo significa abrir mão de retorno por uma causa e é justamente o contrário: você está incrementando o seu retorno no tempo, porque ESG é a melhor ferramenta que eu conheço para identificar empresas de qualidade e gestão de riscos”, afirmou Alperowitch.
Constellation
Fundos recomendados: CONSTELLATION FIC FIA / CONSTELLATION COMPOUNDERS ESG FIA
A Constellation adota o ESG, formalmente, desde 2019. O objetivo de abraçar o conceito é melhorar a performance dos fundos no longo prazo, reduzir o risco e, principalmente, motivar as empresas a se desenvolverem em termos socioambientais e com zelo pela governança. A gestora usa o ESG para delimitar o escopo da sua atuação e estabelece, por exemplo, a necessidade de todos os analistas terem no bolso um questionário extenso para as empresas, a fim de determinar o grau de aplicação das melhores práticas socioambientais e de governança das candidatas. Essa avaliação é revisada periodicamente.
JGP
Fundos recomendados: JGP STRATEGY FIC FIM / JGP ESG FIC FIA
A conversão da JGP ao modelo veio do jeito mais dolorido: com prejuízo na prática. A gestora tinha uma grande posição em Vale na época do acidente em Brumadinho e amargou perdas relevantes. Somado a isso, ela passou a sofrer pressão de um dos seus investidores, o familly office SKP, para adotar investimentos responsáveis. O escritório, que administra a fortuna de algumas famílias, por sua vez, vinha sendo pressionado por seus clientes. Após estudar o tema durante um ano e meio, a JGP passou a acreditar que quando a mudança nas companhias é feita de dentro para fora e é bem sucedida, “consegue conciliar o retorno financeiro com o papel de fomentar o bem da sociedade.”
Brasil Capital
Fundo recomendado: BRASIL CAPITAL 30 FIC FIA
Mais do que integrar o ESG em um produto específico, a Brasil Capital quer adotar o conceito como a estratégia principal de investimentos em todos os fundos. A gestora espera que, à medida que as ferramentas de avaliação do investimento responsável sejam incorporadas, haja melhora na relação de risco e retorno. A Brasil Capital também adota uma estratégia de contato constante com as empresas investidas. Segundo o sócio Ary Zanetta, são cerca de 2.500 interações por ano. O objetivo disso é obter uma visão holística das empresas, que vai além do que está nos documentos apresentados à CVM.