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Os fundos ESG e sustentáveis se mostram mais resilientes nas crises. Mas, o investidor deve entrar nesse mercado de maneiro consciente (Witthaya Prasongsin/Getty Images)
Rodrigo Caetano
Publicado em 30 de julho de 2020 às 17h17.
Última atualização em 30 de julho de 2020 às 18h07.
O mercado financeiro só fala de ESG. A sigla, do inglês meio ambiente, social e governança, se tornou a nova queridinha da Faria Lima. A premissa básica desse tipo de investimento é que, ao considerar os diversos aspectos socioambientais da atuação de uma empresa, o investidor seleciona as companhias mais eficientes e se protege de externalidades. A pandemia mostrou que a estratégia funciona.
Empresas e fundos de investimentos ESG, em diversos mercados globais, demonstraram maior resiliência aos efeitos recessivos da covid-19. Um levantamento feito pela BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, aponta que 94% dos produtos de investimento sustentáveis, seguidores dos princípios ESG, tiveram performance melhor do que seus pares, no primeiro trimestre deste ano.
A gestora, cujos ativos somam mais de 7 trilhões de dólares, também comparou os mesmos índices com outras crises. Em 2015, durante a queda do preço do petróleo e o choque nos emergentes, 78% dos investimentos ESG ficaram acima da média; em 2018, quando o FED, o banco central americano, alterou a sua política monetária, o percentual foi de 75%. De janeiro até junho, 88% dos índices relacionados ao conceito estão com desempenho melhor do que o mercado.
No Brasil, não é diferente. Os fundos de ações classificados como sustentáveis pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), acumulam alta superior a 11% (até 21 de julho), o melhor desempenho entre todas as categorias. Desde janeiro, eles acumulam queda de 5,7%, a segunda menor, só perdendo para os fundos de ações livres. Os fundos focados em valor/crescimento acumulam queda de 8,65%.
Em termos de captação, no entanto, os fundos sustentáveis perdem feio. Nos últimos 12 meses, foram apenas 105 milhões de reais, ante 16,9 bilhões dos fundos focados em crescimento e 63,5 bilhões dos fundos de ações livres. É notável a falta de interesse dos investidores, considerando o bom desempenho dos investimentos sustentáveis.
Para Juliana Machado, especialista em fundos de investimento da Exame Research, os fundos ESG estão indo melhor porque filtram a capacidade coordenada da empresa de atuar de forma sistêmica. “É sobre economia de custos, eficiência de gastos, um ecossistema mesmo”, afirma Machado. “No fim, a preocupação socioambiental se reflete em empresas mais eficientes e, consequentemente, valiosas.”
Então, por que não há uma corrida para os fundos ESG, já que, teoricamente, eles selecionam melhor os investimentos? A questão está no tempo. A premissa básica do conceito é a sustentabilidade plena, que vai garantir a perenidade do negócio e a preservação do capital a longo prazo. “Não faz sentido, na minha visão, manter um foco no curto prazo quando se fala em ESG”, diz Machado. “O mais relevante é verificar o real interesse da empresa em construir um negócio de menor impacto.”
Talvez sequer faça sentido falar em fundos ESG e não ESG. “Eu não acredito nisso. É a gestora que é ou não é. Ou segue os princípios em todos os produtos, ou não está fazendo nada”, afirma Fábio Alperowitch, sócio da Fama Investimentos, pioneira no conceito -- a gestora já era ESG antes de existir o ESG.
A Fama possui apenas um fundo, totalmente aderente aos princípios. Seu patrimônio líquido é de quase 2,5 bilhões de reais e a rentabilidade, nos últimos 12 meses, foi de 7,04%. Alperowitch diz que os fundos ESG tiveram performance melhor durante a crise, mas, compará-los com outros tipos de investimentos, agora, não é a melhor estratégia. “Muitos setores que estão fora do nosso radar, como petróleo e aviação, sofreram perdas gigantescas”, afirma. “Em algum momento, vão se recuperar e, então, o ESG vai ficar em baixa.”
Para iniciar no universo ESG, o investidor deve construir sua metodologia de análise baseada nos princípios socioambientais e de governança. As empresas podem ir bem ou mal em diferentes aspectos ao mesmo tempo, como, por exemplo, no caso de uma mineradora, atividade essencialmente não sustentável, que tenha mais mulheres do que homens na alta administração, característica de uma companhia alinhada com o ESG. “É essa análise mais aprofundada que importa, o que só se constrói com paciência”, diz Alperowitch. “Com a popularidade do tema, surgirão muitos impostores.”
Juliana Machado segue a mesma linha. “Se formos pensar, essa coisa de ‘bombar’ tem a ver com nosso zeitgeist. Numa pandemia, todos nós queremos algo mais humano, justo, acessível e igualitário. Mas, isso não garante que as empresas ou os investidores entrem de maneira idônea. Praticar o ESG não é tão simples”, afirma a especialista. “Tem de ter paciência e um bom filtro dentro de casa”. Por mais que os fundos ESG estejam bombando e o investidor deva entrar nesta onda, tem de ser pelo motivo e do jeito certo.