Fórum Brasil Diverso: empresas reconhecem seu papel na inclusão econômica da população negra
Encontro, que debate presença negra entre os líderes de grandes empresas, tem presença de nomes como Antonia Quintão, presidente de Geledés, e Luana Ozemela, vice-presidente do iFood
Repórter de ESG
Publicado em 10 de setembro de 2024 às 09h00.
Última atualização em 2 de outubro de 2024 às 11h01.
Nos dias 31 de outubro e 1º de novembro, acontece a décima edição do Fórum Brasil Diverso, evento que discute fórmulas para garantir a inserção e promoção da população negra no mercado de trabalho. A edição deste ano aborda o passado, presente e futuro das ações afirmativas e políticas de inclusão.
Pestana conta que o Fórum foi criado há 10 anos a partir de uma provocação dele às grandes empresas. “Ajudei a instaurar a Lei de Cotas na cidade de São Paulo, o que foi importante para aumentar a diversidade na prefeitura, mas são apenas 200 mil contratos de trabalho. As grandes empresas, com um impacto muito maior, não tinham programas de diversidade ”, explica.
A partir dessa constatação, Pestana organizou um encontro com CEOs e líderes dessas companhias para entender o que era feito e qual a presença de diversidade entre seus funcionários. O resultado foi alarmante: apenas 4,6% dos diretores das grandes empresas se declaravam negros. Assim, surgiu a ideia de realizar um evento com grandes líderes que debatessem formas de promover a mudança no panorama racial no mercado de trabalho brasileiro.
O avanço das discussões sobre diversidade
Para Pestana, o evento deste ano atinge um novo patamar: as discussões sobre o tema já não negam a existência do racismo. Apesar de ainda haver muito a ser feito, as empresas já reconhecem seu papel nainclusão econômica da população negra. “Este ano, queremos focar ainda mais na alta liderança de grandes corporações, que já tratam a diversidade de gênero com mais naturalidade, mas ainda estão distantes da representatividade racial”, destaca.
Antonia Quintão, presidente do Geledés – Instituto da Mulher Negra e professora na Universidade Presbiteriana Mackenzie, será uma das painelistas do evento, buscando debater os avanços e desafios, especialmente para as mulheres negras.“Chegar aonde estamos é resultado de muita luta. Sempre houve uma desqualificação do tema, e se hoje temos espaço para dialogar sobre racismo nas corporações, é fruto da luta da sociedade civil e da mobilização negra”, explica.
A partir da mobilização de Quintão, um grupo de alunos da Universidade Mackenzie participará do Fórum estruturando estratégias de diversidade e inclusão, buscando garantir o compromisso das empresas com a pauta. “Converso com muitas mulheres negras que estão no meio corporativo e vejo que muitas estão desiludidas, decepcionadas e pensando em pedir demissão”, conta.
A professora afirma que, embora as mulheres negras estejam presentes nas empresas, a cultura corporativa ainda as exclui, dificultando seu desenvolvimento profissional. “Não falta talento, currículo ou potencial para elas, mas falta a criação de uma cultura que inclua todas as diversidades ”, pontua.
Desafios e esperanças para o futuro
Para Pestana, um dos obstáculos para a inclusão racial verdadeira na alta liderança das corporações é o engajamento dos presidentes e da área de recursos humanos. “Essas áreas precisam ser convencidas de que, se vivemos em um país com quase 60% de negros, estamos falando de 100 milhões de pessoas com as quais temos uma dívida histórica”, explica.
O jornalista acrescenta que, embora as discussões sobre letramento racial tenham crescido nas empresas, compreender o processo histórico do racismo no Brasil é parte dos princípios básicos do letramento antirracista. “Quando você se abre para entender isso e busca promover a inclusão de pessoas negras nas empresas, realmente vemos uma mudança na cultura corporativa ”, conta. “Quem precisa resolver o racismo não é o negro, mas quem está com a caneta na mão.”
Apesar de as mudanças estarem acontecendo de forma lenta, Pestana permanece otimista em relação à mudança positiva no panorama racial no Brasil. “Não posso ser irrealista: sei que há muito negacionismo acontecendo. Mas avançamos muito na última década e acredito que na próxima teremos avançado ainda mais. É um caminho sem volta”, afirma.Quintão também se mostra esperançosa, acreditando que, apesar dos avanços tímidos, todas as conquistas da comunidade negra devem ser celebradas. Um dos motivos para seu otimismo são as novas gerações, como a Geração Z, que descreve como ousadas e determinadas na busca por mudanças sociais efetivas. “Nossos sucessos devem ser proporcionais a nossa capacidade de luta. Nossas reivindicações devem permanecer até que consigamos a equidade racial no mercado de trabalho e na alta liderança”, conclui.
A edição de 2024 deve receber mais de 2 mil participantes, com ingressos gratuitos distribuídos pela internet. O evento acontecerá no Memorial da América Latina, em São Paulo, e contará com palestrantes como Luana Ozemela, Vice-Presidente do iFood; César Almeida, CEO da Phoenix Contact; Judith Morison, assessora sênior de Desenvolvimento Social do Banco Interamericano de Desenvolvimento, e Roberta Anchieta, Diretora de Administração Fiduciária do Itaú. Saiba mais no site do Fórum Brasil Diverso.