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Fim do lixo? Este grupo dos Emirados Árabes quer ser referência mundial na gestão de resíduos

Grupo Beeah mira futuro com zero resíduo para aterros, agenda Net Zero até 2050 e inspira o Brasil a projetos que aliem tecnologia e sustentabilidade

Visita ao Grupo BEEAH: comitiva de executivos da iniciativa privada, convidados pelo Pacto Global da ONU, em agenda paralela à COP28 (Mariana Grilli/Exame)
Mariana Grilli

Repórter de Agro

Publicado em 9 de dezembro de 2023 às 12h19.

Sharjah, Emirados Árabes – Localizada no emirado de Sharjah, uma holding árabe quer mudar a forma como o Oriente Médio lida com a gestão de resíduos. Em concordância com a agenda Net Zero dos Emirados Árabes até 2050, o objetivo da organização é que o lixo como o conhecemos deixe de existir.

A sede do Grupo BEEAH é como um oásis, com fonte de água dessalinizada em meio ao deserto, em que o design do prédio em dunas ondulantes foi idealizado pela arquiteta Zaha Hadid. A EXAME esteve no edifício de nove mil metros quadrados, em meio a uma comitiva de executivos da iniciativa privada, convidados pelo Pacto Global da ONU, em agenda paralela à COP28 .

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Ao entrar no edifício, a sensação é de um ambiente futurista, alimentado por painel solar e dentro dos padrões LEED Platinum – programa de certificação de edifícios verdes. É de lá que a companhia desenvolve nove pilares de atuação, de reciclagem de metais à educação, todos cunhados na sustentabilidade e digitalização.

Almas Muhammad, especialista em RH do Grupo BEEAH e guia dos empresários, conta que 90% dos resíduos dos Emirados Árabes foram destinados para reaproveitamento em 2023. “É a maior taxa de desvio já alcançada por qualquer empresa na região do Oriente Médio, e estamos à beira dos 100%”, afirma.

Outro investimento do Grupo BEEAH é de trituração e reciclagem de metais, incluindo veículos. “Esta instalação receberá carros que chegaram ao fim do prazo de validade. Vamos segregar os componentes recicláveis do carro e depois vamos triturar o metal, todos eles em 60 segundos”, diz Muhammad.

Na visão de Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil, a imersão da iniciativa privada ao redor das instalações em Sharjah é uma inspiração para a transição brasileira a uma economia sustentável e íntegra – o que passa pela reformulação da gestão de resíduos.

De acordo com ele, a reciclagem no Brasil é feita somente sobre cerca de 6% dos resíduos. Transformar este passivo em negócio é uma tarefa a ser desempenhada entre o privado, o público e o terceiro setor.

“Não adiantam incentivos e regulações do governo, que não estejam alinhados com a demanda e anseios da sociedade civil. Ao mesmo tempo, também não adianta isso estar apartado dos interesses da iniciativa privada. Precisamos dos três atores da sociedade trabalhando conjuntamente”, diz.

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Da reciclagem à energia

Após a separação, reciclagem e processamento, uma das finalidades do ‘lixo’ é gerar energia. No país, de acordo com ela, há cerca de 300.000 toneladas de resíduos não recicláveis anualmente, os quais podem ser revertidos em eletricidade para atender 28.000 moradias e residências. Para isso, a intenção é transformar aterros em parques solares, que terão capacidade de produzir 120 megawatts de eletricidade.

O processamento diário de celulose e resíduos à base de carbono também alimenta a instalação dedicada à biomassa, a fim de gerar combustível alternativo para a fabricação industrial.

Para o futuro, o BEEAH quer ir além e produzir hidrogênio verde a partir de resíduos de plástico e madeira, em parceria com as empresas hunook Sciences, do Reino Unidos, e Airwater, do Japão.

Participante de comitiva de brasileiros, Fabrício Fonseca, diretor de desenvolvimento de negócios da Ambipar, ressalta o planejamento dos Emirados Árabes quanto à transformação de resíduos em energia.

“Até 15 anos atrás, eles estavam mandando quase 100% do material para aterro sanitário. Agora, estão trabalhando com a meta de, em 2025, não ter mais descarte e ainda resgatar o que já foi enterrado para processar. Isso é o desenho da solução ambiental”, diz.

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Como solução para o Brasil, Fonseca defende que a cultura de licitação para tratamento de resíduos urbanos caminhe junto ao avanço da tecnologia.

“A empresa que der uma solução para valorizar o resíduo ou reutilizá-lo é que tem que ganhar licitação, e não quem apenas tem menor valor. Assim, no futuro, conseguimos que os aterros canalizem o gás, gerem biometano e energia”, afirma.

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