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O uso de coaching para resolver problemas psicológicos, como depressão, pode ser perigoso (seksan Mongkhonkhamsao/Getty Images)
Rodrigo Caetano
Publicado em 4 de novembro de 2020 às 07h00.
Última atualização em 5 de novembro de 2020 às 13h45.
Poucos problemas interferem tanto na produtividade de uma empresa quanto a saúde mental dos seus trabalhadores. Mesmo assim, essa questão sempre foi negligenciada pelo mundo corporativo. É raro uma companhia que adote a estratégia de criar um ambiente saudável psicologicamente, salvo as mais avançadas companhias nos critérios ESG (ambiental, social e governança, na sigla em inglês).
Recentemente, no entanto, e até pelo impacto que gera nas organizações, o tema vem ganhando certa evidência e está subindo na hierarquia empresarial. “Hoje, é um assunto de conselho”, afirma Toya Lorch, especialista em saúde mental, coach e fundadora da Get Ahead, consultoria que desenvolve estratégias para melhorar o ambiente de trabalho. “As empresas estão acordando para a necessidade de cuidar da cabeça das pessoas.”
Lorch tem muita experiência no tema. Ela tem dois mestrados, um na França e outro na Inglaterra, e atua como coach desde 1998. Nessa profissão, foi coach interna da Unilever em Londres e faz parte do time de coaches internacionais da Insead, uma das mais importantes escolas de negócios do mundo, na França. Em sua visão, o papel desses profissionais, atualmente, está confuso. Há uma miscelânea de técnicas e conceitos utilizados sem critérios.
“Tem coach de tudo hoje em dia: executivo, místico, quântico”, afirma. “Vejo muitos ex-executivos, que não entendem de psicologia, aplicarem as próprias receitas, como se fosse funcionar com todo mundo. Ao mesmo tempo, psicólogos sem nenhum conhecimento do mundo corporativo vendem a ideia de que alinhando os chacras tudo vai se resolver”. Para fazer um bom trabalho de coach, diz Lorch, é preciso entender das duas coisas e saber qual técnica se encaixa melhor com o profissional que se quer ajudar. Em casos extremos, pode ser até perigoso para uma pessoa em depressão, por exemplo, acabar na mão de um motivador sem conhecimento.
Em parte, a culpa por esse mal funcionamento atual da profissão é das empresas. Quando surgiram os primeiros coaches, há mais de 20 anos, muitas companhias perceberam que poderiam terceirizar um problema. Quando identificavam um comportamento inadequado, ou um ambiente pesado, mandavam o executivo em questão para o coach. Na realidade, diz Lorch, a questão deveria ser tratada de forma sistêmica. “Há essa ilusão de que resolvendo o problema de uma pessoa resolve os da organização inteira”, diz a especialista.
A metodologia adotada por ela na Get Ahead, que fundou junto com a sócia Cintia Gonçalves, não tem nada de motivacional ou frases clichê. A ideia é desenvolver programas estruturados de saúde mental para organizações - com definições de metas e KPI's (indicador de desempenho) para obtenção de resultados. O trabalho é sistêmico e muito voltado para a construção de lideranças saudáveis.
Ao mesmo tempo, as sócias buscam desmistificar a imagem das empresas como vilãs da saúde mental dos trabalhadores. “As organizações não são as grandes vilãs nem as pessoas são vítimas. A saúde mental é uma responsabilidade compartilhada”, diz Lorch. “ É possível fazer um paralelo com a saúde física. A empresa não tem como definir o que as pessoas vão comer para conter a obesidade, porém, é aconselhável que tenham políticas para incentivar uma vida mais saudável, como evitar reuniões na hora do almoço”. Afinal, pessoas saudáveis, física e mentalmente, trabalham melhor.
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