ESG

EUA: após 156 anos, negros podem comemorar seu dia da independência

O dia 19 de junho se tornou um símbolo de resistência da luta contra a escravidão. Presidente Joe Biden assinou a lei na quinta-feira que transforma a data em feriado

Protesto do movimento Vidas Negras Importam, que continua a reverberar nos mundos político e corporativo (Kevin Hagen/Getty Images)

Protesto do movimento Vidas Negras Importam, que continua a reverberar nos mundos político e corporativo (Kevin Hagen/Getty Images)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 18 de junho de 2021 às 06h00.

Esta reportagem faz parte da newsletter EXAME Desperta. Assine gratuitamente e receba todas as manhãs um resumo dos assuntos que serão notícia

Oficialmente, o presidente Abraham Lincoln publicou a Proclamação de Emancipação, que pôs fim à escravidão, no dia 1º de janeiro de 1863. A mensagem comunicando o fato, no entanto, só chegou ao Texas, estado mais importante do sul escravagista americano, em 19 de junho de 1865.

Talvez por ironia, ou para celebrar a própria resistência, os negros sempre comemoraram a data, chamada de Juneteenth (o 10º de junho), como seu dia da independência. Um século e meio depois, a comemoração se tornou oficial.

Na quinta-feira, dia 16, o presidente Joe Biden assinou uma lei tornando o Juneteenth um feriado nacional. A medida aconteceu após uma série de empresas passar a oferecer folga remunerada aos funcionários na data, em mais um reflexo do movimento Vidas Negras Importam.

Foi uma vitória que levou muito tempo, como a maioria das conquistas dos negros americanos – o Juneteenth deixa isso bem claro. Mas, para uma ativista em especial, a comemoração é especial. Aos 93 anos, Opal Lee vê o trabalho de uma vida ser recompensado.

Nascida e criada no Texas, Lee sentiu na pele as injustiças de um sistema criado para fazer com que pessoas como ela não prosperassem. Aos 12, viu sua casa ser incendiada por uma turba de 500 homens brancos. Ninguém foi, sequer, processado. Os supremacistas tentaram amedrontá-la, mas sua resiliência foi mais forte.

Em 2016, aos 89 anos, Lee saiu de sua casa, em Fort Worth, no Texas, e caminhou 2 milhas e meia por dia até chegar na capital Washington. Cada milha simbolizava um ano do tempo que a mensagem abolicionista levou até chegar aos negros ainda escravizados no estado.

“Qual é a diferença entre o 4 de julho e o Juneteenth? O fato de que ninguém é livre até que todos sejam livres”, afirmou Lee em entrevista ao jornal The New York Times. “No 4 de julho, os negros não eram livres. Minha sugestão é, se formos celebrar a liberdade, que tenhamos nosso festival, nossa música e nossas ações educacionais do dia 19 de junho ao dia 4 de julho. Isso é celebrar a liberdade.”

Um ano depois da morte de Geroge Floyd, Vidas Negras Importam ainda promove mudanças

A morte de George Floyd, assassinado por um policial branco há um ano, continua a reverberar nos mundos político e corporativo. Uma série de empresas lançou, em janeiro, uma coalizão para combater o racismo no ambiente profissional. Entre elas, Facebook, Microsoft, Nestlé, PepsiCo e Coca Cola. As participantes empregam mais de 5 milhões de pessoas.

No Brasil, empresas como o Magazine Luiza lançaram programas de trainee só para negros. Outras, como a Natura, flexibilizaram seus processos de contratação para refletir melhor a realidade racial do país.

O caminho até a equidade, no entanto, ainda é longo. Hoje, apenas 1% das 500 maiores companhias do mundo são lideradas por executivos negros.

Acompanhe tudo sobre:Estados Unidos (EUA)Exame HojeJoe BidenNegrosRacismo

Mais de ESG

Petrobras (PETR4) vai distribuir R$ 13,45 bilhões em dividendos e JCP relativos ao 1º tri

Ipiranga fecha acordo com Chevron para trazer Texaco de volta ao Brasil

Jordan Belfort: a biografia do Lobo de Wall Street

"Caiu por terra a ilusão de disciplina do governo", diz Verde

Mais na Exame