Estudo mapeia soluções para o fortalecimento de cadeias produtivas da Amazônia
Objetivo é replicar modelos bem-sucedidos na produção de cacau e castanha-do-brasil para escalar a bioeconomia na região e manter a floresta em pé
EXAME Solutions
Publicado em 17 de abril de 2024 às 15h29.
Última atualização em 3 de maio de 2024 às 10h34.
Enquanto a riqueza da biodiversidade se entrelaça com diversos desafios socioeconômicos no território amazônico, a bioeconomia surgiu como uma solução para o desenvolvimento sustentável da região nos últimos anos. As cadeias produtivas da floresta, fundamentais para a bioeconomia amazônica, têm o potencial de atingir R$ 38,6 bilhões em 2050, de acordo com projeções do instituto de pesquisa WRI Brasil.
Todo esse potencial, porém, esbarra em problemas que dificultam investimentos e impedem avanços mais expressivos do setor. Os baixos números que as atividades extrativistas e de baixo carbono da Amazônia representam na economia da região deixam claro esses desafios.
No entanto, há iniciativas promissoras que estão mudando esse panorama.Um estudo feito pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, com financiamento do Partnerships for Forests (P4F), mapeou ações bem-sucedidas em Rondônia, Amazonas, Pará, Acre e Mato Grosso, com foco na castanha-do-brasil e no cacau, que estão criando rotas para superar os entraves - da extração na floresta até o consumo - e acelerar a bioeconomia amazônica.
O resultado está na publicação “Caminhos para o Fortalecimento de Cadeias Produtivas da Sociobiodiversidade Amazônica - Melhores Práticas nos elos das cadeias produtivas da castanha-do-brasil e do cacau”, recém-lançada pela instituição. O objetivo é apontar oportunidades para o desenvolvimento de novos negócios, políticas e pesquisas. “Queremos atender os milhões de extrativistas que exercem papel importante de produção e renda a partir da floresta conservada”, afirma Carlos Koury, diretor de inovação em bioeconomia do Idesam e um dos idealizadores do estudo.
O levantamento incluiu cinco etapas das cadeias produtivas da castanha-do-brasil e cacau: extração-manejo, beneficiamento primário, transformação, comercialização e consumo. Em cada fase, o mapa inédito identifica problemas específicos, como ausência de boas práticas, falta de assistência técnica, problemas com equipamentos e tecnologias, falta de acesso a crédito, baixo valor agregado e relações comerciais injustas, trazendo as soluções reais e efetivas que já estão sendo implantadas e quem tomou iniciativa para desenvolvê-las.
Explorando as raízes do estudo
Hoje, a castanha-do-brasil e o cacau são as principais commodities comerciais das cadeias amazônicas, porém com uma manutenção de baixa eficiência. Logo, apesar de sua importância cultural e comercial, vem perdendo competitividade no mercado global.
“O Brasil é conhecido no mundo inteiro, mas na hora do mercado, do volume, da receita, a gente tem perdido para outros atores que assumiram posições de maior controle de produção, maior controle de qualidade e tem entregado mais valor agregado nesses produtos para fora”, reforça Koury.
Para o diretor, a castanha-do-brasil e o cacau têm tudo para fazer o Brasil gerar um impacto global no setor - ampla ocorrência, tradição cultural de produção e importância de mercado, mas faltam soluções nas cadeias para ajudar esses produtos a ganhar escala.
Caminhos mapeados
As soluções identificadas no estudo do Idesam envolvem parcerias e arranjos entre empresas, iniciativas públicas e as comunidades locais e vêm gerando resultados concretos em um ou mais elos de produção das cadeias da castanha-do-brasil e cacau.
Um exemplo é o aprimoramento de práticas na etapa de extração que ocorreu por meio de assistência técnica nas comunidades do território Abufarí, em Tapauá (AM). Por meio de uma parceria público-privada com o IDAM (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas), os coletores de castanha, que fornecem para a Abufarí Produtos Amazônicos, receberam capacitação para tratar a castanha (antes, durante e depois da coleta).
Os resultados foram um produto de maior qualidade e melhor aproveitado pela indústria. “Isso permite o pagamento de preços acima do mercado, aumentando a qualidade de vida local e os níveis de fidelização nessa relação comercial”, aponta Koury.