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Desigualdade de raça impacta acesso à renda das famílias, diz gerente do Pacto pela Equidade Racial

Em entrevista à EXAME, Guibson Trindade, do Pacto de Promoção da Equidade Racial, conta sobre o papel das empresas na correção da desigualdade econômica, que ainda penaliza profissionais negros -- especialmente as mulheres negras

Para Guibson Trindade, não há mais volta: a agenda racial já entrou na cultura das empresas. O momento é de dar peso à pauta
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 19 de novembro de 2024 às 13h04.

Última atualização em 19 de novembro de 2024 às 15h14.

Enquanto profissionais brancos têm o rendimento médio deR$ 3.273, os pretos e pardos recebem apenasR$ 1.994, valor 64% menor. A informação é Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2022, que ainda revela que os trabalhadores negros ocupam a maior parte (54,2%) das posições no mercado de trabalho.

ParaGuibson Trindade, gerente do Pacto de Promoção da Equidade Racial, o cenário de desigualdade social que o Brasil vive tem como origem as problemáticas de raça.“No mercado corporativo, isso reflete no acesso limitado a renda e trabalho formal ”, explica. Para ele, o país vive um período extenso de subemprego e de romantização do empreendedorismo – mesmo que por necessidade, quando não se consegue uma colocação.

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Discutir e combater as desigualdades sociais atreladas ao racismo é a missão principal do Pacto de Promoção da Equidade Racial, iniciativa lançada em 2021 que buscamobilizar as empresas pela inclusão da população negra nas corporações.

O motivo dessa preocupação se relaciona até mesmo com a estrutura econômica dasfamílias afrobrasileiras. “Quando uma pessoa negra acessa um emprego de qualidade, ela não só transforma sua própria realidade, mas também a da sua família”, explica Trindade. O impacto na melhoria econômica é visto ainda em aspectos de saúde, educação e alimentação daquela comunidade.

O Pacto conta hoje com mais de 80 empresas signatárias, que integram a estratégia da iniciativa paratrabalhar ações afirmativas e de relação com a comunidadena melhoria das disparidades sociais. Entre as ações estão a autoidentificação racial, melhoria dos canais de denúncias de violências e o investimento das empresas para formar profissionais diversos em todas as áreas de atuação.

Trindade explica que os signatários do Pacto ainda contam com um sistema online para que calculem seu “índice de desequilíbrio racial”. Trata-se de uma análise numérica do impacto – positivo e negativo -- da corporação, o que permite a formulação de um planejamento estratégico a favor da diversidade.

A desigualdade econômica também é racial

Para Guibson, corrigir esses aspectos conta com o papel das empresas. “Nosso trabalho busca conectar as companhias comprofissionais negrosqualificados, mostrando que esses trabalhadores existem e devem ser reconhecidos”, explica.

Ele analisa que nos últimos anos, o cenário racial nas empresas obteve melhoria em alguns setores, como varejo e serviços, que abriram muitas vagas voltadas para profissionais negros desde a pandemia. Outras áreas, como saúde e o mercado financeiro, ainda contam com lacunas históricas até a plena diversidade.

O principal empecilho atualmente é garantir que esses profissionaisalcancem cargos de média e alta liderança, tarefa que ainda esbarra em garantir que eles se sintam pertencentes nacultura da empresa.

“Embora tenhamos conquistas simbólicas, precisamos discutir como acelerar esse movimento”, conta. “Não há mais volta: a agenda racial já entrou na cultura. Agora, é hora de dar corpo e peso a ela.”

Para mulheres negras, o cenário é pior

A desigualdade econômica, muito influenciada pela diferença salarial, é agravada com a interseccionalidade de gênero. Uma pesquisa da FGV/Ibre de 2023 aponta que as mulheres negras ganham até 48% do salário dos homens brancos. Além da menor remuneração, elas ainda contam com mais dificuldades para ascender ao topo das companhias.

Foi com o intuito de expandir as oportunidades para as mulheres que a organização criou o Pacto das Pretas, coletivo e fórum que reúne cerca de 2 mil mulheres negras todos os anos na discussão sobre as suas vivências, violências vividas e as oportunidades no trabalho. O objetivo é ouvir a voz daquelas que raramente chegam às posições de tomada de decisão.

Guibson explica que elas estão na base da pirâmide socioeconômica, ainda enfrentandosobrecargas adicionais ao emprego formal, como cuidar da família e da casa.

Ele aponta que, além da melhoria educacional e da correção das desigualdades de remuneração, dois pontos são fundamentais para a melhor qualidade de vida de mulheres negras nas empresas:

A rede de apoio garante que elas tenham um ambiente acolhedor no mercado de trabalho, como grupos de afinidade e espaços de aquilombamento. Já o cuidado com a saúde mental a partir de programas corporativos pode ajudar a preparar jovens pretos para as cobranças do mercado – que recaem ainda mais sobre essa população por conta do racismo estrutural.

Ainda em 2024, o Pacto pela Promoção da Equidade Racial busca acelerar a jornada de diversidade nas empresas, as principais responsáveis atualmente pelacorreção das desigualdades de remuneração. “Empresas que assumem esse compromisso geram impactos amplos. Garantir o diálogo das boas práticas entre elas pode acelerar a pauta”, explica.

Nos dias 27 e 28 de novembro, a iniciativa realiza a Conferência Empresarial ESG Racial, terceira edição do evento que discute a integração da diversidade com o desempenho das empresas. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas a partir deste site.

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