Às vésperas da COP29, ONU publica relatório sobre evolução climática do planeta
Com os compromissos atuais, as emissões de gases estufa serão reduzidas em apenas 2,6% até 2030 em relação a 2019, muito aquém do estabelecido pelo Acordo de Paris
Agência de notícias
Publicado em 28 de outubro de 2024 às 10h40.
Última atualização em 28 de outubro de 2024 às 10h48.
Duas semanas antes da COP29, a ONU soou mais uma vez o alarme: os atuais compromissos climáticos não serão suficientes para conter o aquecimento global a 1,5ºC ou para evitar as suas consequências catastróficas.
Com os compromissos assumidos pelos países, [/grifar] as emissões de gases de efeito estufa serão reduzidas em apenas 2,6% até 2030 em relação a 2019, muito longe do objetivo de 43%[/grifar] estabelecido no Acordo de Paris, alertou o relatório anual da ONU.
Os planos nacionais de ação climática registraram muito pouco progresso em um ano e "ficam muito aquém de responder às necessidades para evitar que o aquecimento do planeta paralise todas as economias e destrua bilhões de vidas e meios de subsistência", disse Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, em comunicado.
Este relatório é o resumo anual dos mais recentes compromissos de redução de emissões –chamados de "Contribuições Determinadas Nacionalmente" (NDCs) – assumidos pelos 195 signatários do acordo climático de Paris de 2015, que representaram 95% das emissões globais em 2019.
O relatório foi publicado dias antes do início da COP29, em 11 de novembro, em Baku, no Azerbaijão, que se concentrará principalmente na questão do financiamento da ação climática. O evento será marcado pelas eleições presidenciais dos Estados Unidos no início de novembro.
Os atuais planos dos Estados, combinados, envolveriam emissões de 51,5 gigatoneladas de CO2 equivalente em 2030, ou seja, apenas 0,6% a menos do que na última análise publicada pelas Nações Unidas no final de 2023.
Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), outra entidade da ONU, as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera atingiram um novo recorde em 2023.
O principal deles, o CO2, se acumula mais rápido do que nunca na atmosfera, com um aumento de mais de 10% em duas décadas, indicou a organização em um relatório nesta segunda-feira (28).
"Naufrágio"
No total, 34 países, incluindo os membros da UE, Brasil e Azerbaijão, comunicaram que atualizaram as suas metas.Supõe-se que todos devem fazê-lo para o início de 2025, antes da COP30.
"A poluição por gases de efeito estufa a estes níveis garantirá um naufrágio humano e econômico para todos os países, sem exceção", alertou Stiell.
O relatório publicado nesta segunda-feira "deverá marcar um ponto de virada, encerrando a era da insuficiência e desencadeando uma nova era de aceleração, com novos planos nacionais de ação climática muito mais ousados por parte de todos os países no próximo ano", ressaltou Stiell.
Em uma outra publicação, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) alertou, na quinta-feira (24/10), que não houve progressos significativos no último ano.
De acordo com os seus cálculos,as políticas atuais levariam a um aquecimento "catastrófico" de 3,1% ao longo deste século.E mesmo que todas as promessas fossem cumpridas, incluindo aquelas que os países em desenvolvimento disseram que implementariam se obtivessem ajuda financeira e tecnológica, as temperaturas globais aumentariam 2,6ºC.
"Precisamos de uma mobilização global a uma escala e ritmo nunca antes vistos, uma mobilização que comece agora mesmo (...). Caso contrário, a meta de 1,5°C morrerá em breve", alertou Inger Andersen, diretora-executiva do Pnuma.
O A cordo de Paris de 2015 estabelece como objetivo limitar o aquecimento global "muito abaixo dos 2ºC em comparação com os níveis pré-industriais", quando a humanidade começou a explorar em grande escala os combustíveis fósseis responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa "e, se possível, a 1,5ºC".
Porém, para ter 50% de chances de conter o aquecimento global até 1,5ºC, as emissões globais teriam que ser reduzidas em 43% até 2030, em comparação com os níveis de 2019, de acordo com o painel de especialistas em clima (IPCC).