Fenômeno Anitta: celebridade no conselho faz bem para governança?
Chegada da cantora ao conselho de administração do Nubank abre brecha para discussão sobre os dois lados da fama no alto escalão
Maria Clara Dias
Publicado em 23 de junho de 2021 às 18h28.
Foi uma aposta alta. Nesta semana, o Nubank anunciou a cantora Anitta como a mais nova integrante de seu conselho de administração. Anitta agora passará a ajudar nas tomadas de decisão, questões estratégicas e posicionamento de marca. Em troca, será remunerada com ações da empresa.
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A prática de levar famosos às empresas não é de hoje. Isso é explicado, muitas vezes, pelo imediatismo da internet. Com o advento das redes sociais, bastam poucos cliques para que a associação com uma figura pública reflita no caixa de uma companhia.
No entanto, a prática de elevar o patamar de artistas para além de embaixadores da marca ou garotos e garotas-propaganda tem se tornado cada vez mais comum. Os exemplos são vários. Um deles é a nomeação da atriz Marina Ruy Barbosa como diretora de moda do ZZ MALL marketplace do grupo Arezzo&Co - é claro, o de Anitta.
Fato é que a chegada da cantora pop no banco digital também é um vislumbre das recentes estratégias empresariais em prol da diversidade.
De acordo com a empresa, a cantora ajudará no desenvolvimento de produtos cada vez mais inclusivos na América Latina e, em breve, nos Estados Unidos, mercado onde Anitta também tem forte atuação.
Falando em inclusão, a decisão do Nubank reflete uma preocupação crescente de empresas em frear acusações de que são restritivas e não diversas. Com Anitta, a ideia é tornar palpável o que de fato o público que mora na periferia espera do mercado financeiro.
Segundo Pedro Melo, diretor geral do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), principal instituição de fomento às boas práticas de governança do país, a presença de famosos nos conselhos administrativos é uma exemplificação clara da busca pela pluralidade de discursos e perfis, embora não considere a fama como um fator eliminatório. “Essa busca pela diversidade não considera a fama ou não. O que importa é a tomada de decisão baseada na concordância dos acionistas e na afinidade com as estratégias e valores da empresa”, diz.
A visibilidade, porém, pode vir a calhar - e muito - quando se fala em lançamento de produtos e serviços. Mas é válido questionar: a incursão de celebridades no alto escalão traz consigo um pacote de desvantagens ocultas?
E os riscos?
Melo destaca que a atividade conselheira também vem junto de inúmeras responsabilidades e a fama só suscitará em prejuízos a empresa caso o novo membro não as cumpra como deve fazer - o que independe da fama. “Um conselheiro deve estar em acordo com o código de conduta da empresa da qual faz parte, além de seguir um determinado padrão de comunicação em suas interações em redes sociais e discursos públicos”, afirma.
Para Luiz Martha, gerente de pesquisa, conteúdo e comissões do IBGC, a realidade da exposição serve para todos - até para os anônimos. Como consequência, a fama não tem mais tanto peso. Pelo contrário. Escândalos recentes envolvendo executivos e suas ações polêmicas na vida pessoal também repercutem tanto quanto (ou até mais) do que acontece no mundo das celebridades. “É tudo uma questão de ponto de vista. A imagem é sim vinculada à da empresa e é preciso zelar por isso em qualquer situação. O risco só poder ser diminuído se houver esse cuidado”, diz.
Os especialistas, em unanimidade, concordam que, independente da visibilidade, a escolha de um conselheiro deve considerar a capacidade gerencial e habilidade para o cargo, e apenas isso. “O conselheiro tem habilidades, tempo hábil e competências para exercer a missão? Se sim, esses são os requisitos a serem levados em conta”, diz Melo.
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