Uruguai avança em acordo de livre comércio com China; Mercosul reage
Lacalle Pou diz que país tem vocação para pertencer ao bloco, mas que quer 'abrir fronteiras'. Ministro argentino chegou a classificar decisão de 'delírio'
Agência O Globo
Publicado em 8 de setembro de 2021 às 12h10.
Última atualização em 8 de setembro de 2021 às 12h28.
O governo do Uruguai anunciou que fez avanços concretos para fechar um tratado de livre comércio (TLC) com a China , elevando a tensão com os sócios do Mercosul . O chanceler argentino teria sido avisado, mas autoridades da Argentina foram pegas de surpresa. Um ministro chegou a classificar a intenção do país vizinho de "delírio", segundo o jornal argentino La Nación.
- Quer saber tudo sobre a política internacional? Assine a EXAME e fique por dentro.
De acordo com o jornal, na noite de segunda-feira, o chanceler uruguaio Francisco Bustillo se reuniu com o presidente do país, Luis Lacalle Pou, para lhe informar sobre o resultado das negociações bilaterais com diversos parceiros, entre eles a China.
Em paralelo, Lacalle Pou manteve contato com o presidente da República Popular da China, Xi Jinping, para falar sobre o acordo entre as duas nações.
Para dar ciência do alcande das negociações, o presidente uruguaio convocou uma reunião com os dirigentes de todos os partidos políticos com representação parlamentar na terça-feira. Após a reunião, concedeu entrevista coletiva e disse que não acredita que haverá problemas com os parceiros do Mercosul e, caso haja desconforto, será algo que não vai além disso:
'Vocação histórica'
— Temos uma vocação histórica de pertencer ao Mercosul e ao mesmo tempo abrir nossas fronteiras ao mercado mundial. Dissemos aos parceiros que íamos informar, avançar juntos e assim o fizemos. Neste momento, o ministro das Relações Exteriores, que está no Equador, está conversando com os países do Mercosul .
Indagado sobre a relação com a Argentina, o presidente minimizou qualquer atrito:
— O chanceler Bustillo me disse há pouco que já comunicou (o acordo) ao chanceler (argentino) Felipe Solá.
A chancelaria confirmou um telefonema de Bustillo a Solá antes do anúncio do progresso das negociações com os chineses. Funcionários do governo argentino, no entanto, disseram que foram pegos de surpresa e que, além de Solá, ninguém sabia de nada.
Um importante ministro da equipe econômica, que soube através da mídia sobre a decisão do Uruguai, descreveu a decisão como "delírio".
— É um delírio. O que o Uruguai está negociando com a China? — indagou o ministro.
Estudo de viabilidade
O próximo passo para a negociação do TLC é a conclusão do estudo de viabilidade, que a China espera realizar antes do fim do ano.
— O Uruguai tem pressa, porque cada dia que passa é um dia perdido. Mas temos que fazer juntos, todos os partidos políticos uruguaios, depois (a conversa) se estenderá às câmaras empresariais e aos sindicatos, para analisar se há vencedores e vencidos e que tipo de compensação pode haver — disse Lacalle Pou.
O presidente uruguaio garantiu que não é necessária a aprovação dos parlamentos dos demais países que integram o Mercosul para que o Uruguai assine o acordo com a China.
De acordo com funcionários do governo argentino encarregados das negociações comerciais com o Mercosul, porém, há duas opções a partir do anúncio de Lacalle Pou. A primeira é buscar incorporar o bloco às negociações.
A outra opção é, na esfera jurídica, denunciar que o Uruguai rompeu com a impossibilidade firmada pelos sócios do bloco de negociar individualmente fora dele.
— Não existe um marco regulatório do Mercosul para pactuar unilateralmente acordos com terceiros países — disse ao La Nación um dos envolvido nas negociações com o Mercosul.
A China é o principal destino das exportações uruguaias. Nos primeiros oito meses do ano, as vendas foram de US$ 1,568 bilhão, 63% a mais que no mesmo período de 2020. O principal produto de exportação foi a carne bovina, que cresceu 205% e respondeu por 60% do total exportado.
Só em agosto, as exportações para a China ficaram em US$ 233 milhões, o que significou um crescimento de 52% em relação ao mesmo mês de 2020.