Opep+ cortará mais que 10 mi de barris de petróleo, dizem EUA e Rússia
O grupo dos países exportadores da commodity afirmaram no domingo ter fechado acordo para reduzir a produção em 9,7 milhões de barris por dia
Beatriz Correia
Publicado em 13 de abril de 2020 às 14h51.
Última atualização em 13 de abril de 2020 às 15h00.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , disse nesta segunda-feira que o grupo de produtores de petróleo Opep+ está buscando cortar a oferta em 20 milhões de barris por dia, o dobro dos 10 milhões de barris de um acordo divulgado na véspera.
"Tendo participado das negociações, para dizer o mínimo, o número que a Opep+ tem buscado cortar é 20 milhões de barris por dia, e não os 10 milhões que têm sido noticiados em geral", disse Trump no Twitter.
Já a Rússia afirma que os cortes podem totalizar de 15 milhões a 20 milhões de barris por dia nos próximos meses, disse o ministro de Energia russo, Alexander Novak.
Em entrevista ao canal de TV Rossiya-1, Novak também afirmou que se reuniu com produtores de petróleo locais, que apoiaram o acordo global para restrição de oferta.
O grupo, que compreende membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), a Rússia e outros países, disse no domingo que havia fechado acordo para reduzir a produção em 9,7 milhões de barris por dia em maio e junho, após quatro dias de negociações e sob pressão de Trump.
Os planos para cortes de oferta representam uma completa virada para a Rússia e a Arábia Saudita, que vinham ameaçando aumentar a oferta em uma disputa por participação no mercado desde o colapso de um acordo anterior entre a Opep e outros produtores no início de março.
Com ajuda do G20, líderes da Rússia, dos EUA e da Arábia Saudita se envolveram em uma série de negociações por telefone na semana passada para forjar o acordo.
"O presidente Putin teve na semana passada mais ligações telefônicas com o presidente Trump do que em todo o ano passado", disse o chefe do fundo soberano russo, Kirill Dmitriev, à CNBC.
Trump disse que ajudou a negociar o acordo. Os EUA também concordaram em fazer cortes de oferta adicionais no lugar do México, ajudando a salvar o pacto após quatro dias de negociações.
"Esse é um exemplo de nós trabalhando juntos para o bem de nossas nações", disse Dmitriev à CNBC, estimando que o acordo deve salvar mais de 2 milhões de empregos nos EUA.
Sem o acordo, os preços do petróleo poderiam seguir em colapso, caindo para abaixo de 10 dólares o barril, ante mais de 30 dólares agora, acrescentou ele.
Como fica o preço do petróleo
O impacto mínimo aos preços do petróleo causado por cortes recordes de produção da commodity em todo o mundo mostrou que os produtores têm uma montanha para escalar caso desejem restaurar o equilíbrio do mercado em meio à pandemia de coronavírus, que afeta a demanda e faz com que os estoques disparem, disseram observadores do setor.
Um dia após o acordo, os preços pouco se movimentavam, oscilando entre os territórios positivo e negativo.
O ministro da Energia da Arábia Saudita minimizou a queda das cotações nesta segunda-feira, afirmando que os cortes foram a razão para um rali nos preços do petróleo antes do encontro do grupo de produtores, com o mercado antecipando os cortes.
"É o típico negócio, você sabe: compre no rumor, venda nas notícias", disse o príncipe Abdulaziz bin Salman.
Tanto Brent quanto WTI perderam mais da metade de seus valores neste ano, mas agora operam distantes das mínimas registradas ao final de março, uma vez que conversas a respeito dos cortes de produção ganharam força nas últimas semanas. O Brent atingiu uma máxima de 33,99 dólares por barril nesta segunda-feira, ante 21,65 dólares/barril em 30 de março, enquanto o petróleo dos EUA bateu 24,74 dólares/barril, versus 19,27 dólares em março.
O corte da Opep+ pode ser mais de quatro vezes mais profundo que o recorde anterior, estabelecido em 2008, e a oferta total de petróleo pode encolher o dobro disso com outras medidas. Ainda assim, a redução segue enfraquecida pela queda de demanda, que alguns preveem ser de até 30 milhões de bpd em abril.
"Mesmo que esses cortes forneçam um piso para os preços, eles não terão a capacidade de impulsionar as cotações, dado o tamanho do aumento nos estoques que estamos vendo", disse Virendra Chauhan, analista da Energy Aspects.
"A ausência de compromissos firmes dos Estados Unidos ou outros membros do G20 é um defeito no acordo."