Economia

Trump abre caminho à China para redesenhar o comércio mundial

A imprensa oficial chinesa celebrou o anúncio de Trump de retirar os EUA do Acordo Transpacífico (TPP)

Trump: se os EUA saírem do TPP a porta poderá ficar aberta para a China desenvolver sua própria zona de livre-comércio na Ásia (Carlo Allegri/Reuters)

Trump: se os EUA saírem do TPP a porta poderá ficar aberta para a China desenvolver sua própria zona de livre-comércio na Ásia (Carlo Allegri/Reuters)

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AFP

Publicado em 24 de novembro de 2016 às 13h12.

A decisão de Donald Trump de retirar os Estados Unidos do Acordo Transpacífico (TPP), um ambicioso tratado comercial negociado há anos, abre espaço para redesenhar o mapa do comércio mundial.

A imprensa oficial chinesa celebrou o anúncio de Trump de retirar-se de um texto que era considerado como uma tentativa dos Estados Unidos de reforçar sua influência na Ásia em detrimento de Pequim.

Segundo o People's Daily, jornal que atua como porta-voz do Partido Comunista chinês, o objetivo do TPP é o de "estabelecer o domínio econômico da América, excluindo e suprimindo a China".

Por sua vez, o jornal Global Times, conhecido por seu nacionalismo, considera que "a China se beneficiará do aumento do protecionismo americano", uma oportunidade para a segunda economia mundial de "liderar o livre-comércio" no mundo.

A campanha de Trump foi construída em grande parte com a denúncia dos tratados de livre-comércio, que segundo o futuro presidente dos Estados Unidos destroem empregos no coração industrial do país.

O TPP, promovido pelos Estados Unidos durante a presidência de Barack Obama, foi assinado em 2015 após anos de negociações entre 12 países com acesso ao Pacífico, mas entre eles não aparece a China.

Os aliados asiáticos dos Estados Unidos, que passaram anos convencendo seus eleitores dos benefícios do tratado na esperança de que servisse também para uma aproximação com Washington, estão agora muito decepcionados.

O TPP era um instrumento da política de aproximação com a Ásia projetada por Barack Obama. "O TPP sem os Estados Unidos não teria sentido", disse o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe após o anúncio de Trump.

Nos últimos anos, China e Estados Unidos lutam para impôr sua visão diplomática no mundo.

Pequim, que quer ser considerado uma potência compatível com seu poderio econômico, defende um "novo modelo de relação entre as grandes potências", colocando-se implicitamente à altura dos Estados Unidos.

Um novo tratado impulsionado pela China

"Se os Estados Unidos saírem do TPP a porta poderá ficar aberta para a China desenvolver sua própria zona de livre-comércio na Ásia", afirmaram em uma nota os analistas do IHS Global Insight.

Vários países, entre eles a Austrália, já demonstraram interesse em tratados comerciais alternativos como a Associação Econômica Regional Integral (RCEP), um projeto parecido com o TPP impulsionado pela China.

O RCEP inclui no momento dez membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), assim como China, Índia, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia, mas não os Estados Unidos.

Em sua recente visita à América Latina, o presidente chinês Xi Jinping defendeu o aprofundamento das relações comerciais com a região.

Em Lima, ele se referiu à construção de uma grande zona de livre-comércio Ásia-Pacífico (FTAAP), promovida por Pequim para "continuar nossa implicação na globalização econômica".

Apesar de sua aparente defesa do livre-comércio, a China continua aplicando restrições dentro de seu país para impedir a competência de companhias estrangeiras, obrigando-as em muitos casos a aliar-se com companhias locais e a compartilhar sua tecnologia.

A China também tem usado o comércio como arma política, como no caso da proibição de importação de bananas das Filipinas por uma disputa sobre a soberania sobre um banco de areia situado no Mar da China Meridional.

O porta-voz do ministério das Relações Exteriores Geng Shuang disse nesta quarta-feira que a China "continuará adiante com o processo de integração econômica" na região Ásia-Pacífico e assegurou que Pequim não tem motivos políticos para isso, apesar de suas reivindicações territoriais no Mar da China Meridional, uma zona muito rica em recursos naturais.

"Temos que evitar politizar os acordos de livre-comércio e esperamos que todos os países possam deixar de interpretá-los da sua própria perspectiva geopolítica", assegurou.

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