Temer aposta em legado de baixa inflação
A meta de inflação do Brasil de 4,5% ao ano, com margem de tolerância de 1,5%, é uma das maiores entre as principais economias do mundo
Reuters
Publicado em 10 de abril de 2017 às 19h56.
Brasília - O presidente Michel Temer quer que a inflação baixa seja o legado de sua presidência e mira a redução da meta oficial apesar da pressão de aliados para priorizar o crescimento econômico antes das eleições do ano que vem, disseram à Reuters duas fontes com conhecimento direto do assunto.
Com seu governo marcado por escândalos de corrupção e uma árdua recessão, Temer acredita que a melhor oportunidade para deixar uma marca duradoura é marcando posição no combate à inflação, afirmaram as fontes, que pediram para não serem identificadas por não serem autorizadas a falar publicamente.
Medida pelo IPCA, a meta de inflação do Brasil - de 4,5 por cento ao ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual - é uma das maiores entre as principais economias do mundo.
Ela vale tanto para 2017 quanto para 2018.
México e Chile, por exemplo, têm metas de 3 por cento.
A inflação no país ficou acima do centro da meta nos últimos sete anos, chegando a atingir dois dígitos em 2015.
Mas com a recessão pesando sobre a demanda, o IPCA caiu a 4,57 por cento no acumulado em 12 meses até março.
A meta para 2019 ainda precisa ser definida, o que será feito em reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) em junho.
Nesta segunda-feira, o presidente Michel Temer disse em nota que a equipe econômica irá considerar uma mudança no centro da meta diante da queda das projeções de inflação para 2017 e 2018.
Os que são contrários a uma meta mais baixa receiam que ela poderá reduzir a capacidade do Banco Central de cortar a taxa básica de juros para estimular a economia, já que um movimento do tipo poderia levar a inflação a ficar acima do novo objetivo.
No entanto, a equipe econômica de Temer acredita que uma redução moderada de 0,25 ponto percentual poderia ajudar sua administração a ganhar credibilidade no mercado sem prejudicar a recuperação econômica.
O alto índice de desemprego e a fraqueza na atividade levaram as expectativas de inflação para abaixo da meta pela primeira vez em anos, mas as autoridades argumentam que a tendência descendente precisa continuar antes que uma decisão final seja tomada em junho.
"Se as condições permitirem, o presidente mudará o centro da meta", disse uma das fontes.
"O legado de uma nova matriz econômica é muito importante para o presidente."
O mercado reagiu positivamente ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff no ano passado.
Mas embora tenha revertido suas políticas intervencionistas, Temer ainda luta para reavivar uma economia que sofreu uma contração de quase 8 por cento desde 2015.
A incerteza política, alimentada por alegações de que os principais assessores de Temer estariam envolvidos na Lava Jato, tem pesado sobre a economia.
Além disso, Temer está sendo julgado no Tribunal Superior Eleitoral por doações ilegais para a chapa Dilma-Temer, num caso que pode derrubá-lo.
A grande maioria dos economistas entrevistados pela Reuters acredita que um corte na meta é iminente. A maioria prevê que a redução será meramente simbólica, para 4,25 por cento.
Nove apostam em redução para 4 por cento, e um economista enxerga redução para 3,5 por cento.
Procurados, o ministério da Fazenda e o Banco Central não comentaram o assunto.
Previdência é a chave
No centro do plano econômico de Temer está uma ampla reforma da Previdência que já enfrenta dura resistência entre seus aliados no Congresso.
Assessores do presidente têm dito que o aval dos parlamentares à proposta é um fator que será levado em conta na decisão sobre a meta de inflação.
Um dos principais apoiadores do alvo mais baixo é o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Graduado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), ele ajudou a melhorar o regime de metas de inflação do país criado em 1999.
Até mesmo antes de se tornar o presidente do BC em 2016, Goldfajn pedia uma redução gradual da meta de inflação para 3 por cento.
Em reuniões com outros membros da equipe econômica, Ilan tem defendido um corte no alvo.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, inicialmente acreditava que uma meta menor poderia comprometer uma recuperação econômica mais forte.
A economia deve crescer 0,41 por cento este ano e 2,5 por cento em 2018, de acordo com a pesquisa Focus, sondagem semanal feita pelo BC junto ao mercado.
A desaceleração acentuada da inflação e a criação de uma nova taxa de juros de longo prazo para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) atrelada às taxas do mercado aliviaram as dúvidas de Meirelles, disse à Reuters um membro da equipe econômica.
Isso porque uma diminuição gradual nos empréstimos subsidiados às empresas aumentaria o poder da política monetária, tornando-a mais eficaz para estimular o crescimento.
"A decisão ainda não é definitiva, mas a resistência à idéia diminuiu", disse a fonte.