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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h54.
Não interessa que o rei da Arábia Saudita -- maior produtora de petróleo do mundo -- morto recentemente, estivesse há anos com a saúde debilitada e já não governasse de fato. Também não importa que tempestades tropicais e acidentes nas refinarias aconteçam com regularidade. Como no mercado de petróleo a expansão da demanda é mais acelerada que a da oferta e impera extrema volatilidade, qualquer acontecimento tumultua as expectativas dos analistas e é motivo para especulação.
Assim, a combinação de razões estruturais com ruídos potencializados pelos operadores de mercado está elevando em 37% a cotação do barril de petróleo tipo Brent (a referência adotada pela Petrobras), conforme Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE) e ex-assessor da Agência Nacional do Petróleo. O preço passou de uma média de 40 dólares em 2004 para 53 a 55 dólares neste ano.
O aumento significativo no preço da commodity, entretanto, não tem impacto obrigatório na inflação e, conseqüentemente, na política monetária no Brasil. Segundo Pires, o comportamento das cotações internacionais não tem poder para postergar o aguardado ciclo de redução de juros no Brasil. "A política de preços da Petrobras é sui generis", diz. "Para preservar a popularidade do presidente ou para vencer eleições municipais, por exemplo, a estatal faz de tudo para evitar reajuste de preços."
Os itens "congelados" -- gás de cozinha, gasolina e diesel -- compõem 60% do faturamento da Petrobras. Então, para compensar parcialmente os prejuízos decorrentes desse predomínio da política sobre os negócios, a empresa corrige mensalmente, senão quinzenalmente, os preços de querosene de aviação, nafta (matéria-prima da indústria petroquímica) e óleo combustível.
Na média, ainda assim, os preços dos derivados de petróleo só não estão mais defasados no Brasil pelo efeito da apreciação do real frente ao dólar. Com a crise política e a obstinação do Banco Central em perseguir a meta de inflação para 2005 de 5,1%, "é quase certo que não haverá aumento de preços", segundo o diretor do CBIE.
Incêndios e investimentos
Para a equipe de economistas do Bradesco, a série recente de incêndios ocorridos em refinarias, principalmente nos Estados Unidos, é causada pelo alto nível de utilização da capacidade instalada, que tem atingido níveis recordes. Pires, do CBIE, localiza a origem dos problemas no chamado "contrachoque do petróleo" de 1986. "Com cotações muito baixas, as petrolíferas não tinham estímulo para investir", diz. De 2000 para cá, entrou em cena a forte expansão econômica da China, segunda maior compradora de petróleo do mundo, que consome 6 milhões de barris diários. Com uma agravante: lá, como aqui, o governo evita ao máximo o repasse de preços para o mercado interno, o que mantém a demanda aquecida.
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