Setor de energia: o novo vilão das emissões no Brasil?
Entre 1970 e 2013, atividades de produção e consumo de combustíveis e energia elétrica quadruplicaram seus níveis de gases de efeito estufa
Vanessa Barbosa
Publicado em 11 de agosto de 2015 às 17h45.
São Paulo - A apenas quatro meses da COP21, a conferência do clima em Paris, um novo estudo divulgado nesta terça-feira coloca o setor energético brasileiro em saia justa.
Entre 1970 e 2013, as atividades de produção e consumo de combustíveis e energia elétrica quadruplicaram seus níveis de gases de efeito estufa e já respondem por 29% das emissões no país.
Detalhe: nenhum outro setor teve crescimento tão acelerado e em níveis tão altos de emissão no mesmo período.
Os dados são do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), plataforma criada pelo Observatório do Clima, rede que reúne 37 entidades da sociedade civil para discutir as mudanças climáticas no contexto brasileiro.
Só nos últimos cinco anos, as emissões da área energética aumentaram 34%. Um dos vilões desse incremento é o mesmo responsável pela conta de luz mais salgada em tempo de crise hídrica: o uso intensivo de termelétricas a óleo combustível e diesel, fonte mais cara e poluente que a geração hidrelétrica.
A pesquisa também creditou a expansão das emissões do setor à queda da participação do etanol e consequente aumento do consumo de gasolina e diesel.
Na ponta do lápis, o crescimento das emissões por fonte primária, no período analisado, tiveram predomínio do petróleo (72%), seguido do gás natural (17%) e do carvão (6%).
Para Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, essa tendência é alarmante, mesmo quando comparada àquele que ainda é o pior vilão das emissões brasileiras, o desmatamento (que respondeu por 35% do total dos GEE do Brasil em 2013).
Segundo ele, embora o Brasil tenha passado por avanços importantes no que diz respeito às políticas públicas voltadas às mudanças climáticas, as análises o país ainda não incorporou uma estratégia de desenvolvimento que leve em conta o controle das emissões de gases do efeito estufa.
“As inciativas do governo federal, derivadas da Política Nacional sobre Mudança Climática, de 2009, têm escala muito tímida, e são frequentemente atropeladas por outras, como os subsídios à gasolina e o incentivo ao carro”, diz Rittl.
“É como se houvesse dois governos em ação: um que elabora políticas avançadas de descarbonização e outro que sabota sistematicamente essas políticas.”
Há esperança
A nova análise do Observatório do Clima traz alguns dados positivos. As emissões do setor de mudança no uso do solo ( desmatamento ) apresentaram uma redução de mais da metade de participação nas últimas duas décadas — de 70%, nos anos 1990, caiu para 35% em 2013.
Essa queda foi a principal responsável por colocar o Brasil no trilho de cumprir a meta de reduzir emissões em 36,1% a 38,9% em 2020 em relação à tendência.
No entanto, Tasso Azevedo, coordenador do SEEG, alerta que a guerra ainda não está ganha. “As emissões ligadas à mudança do uso da terra atingiram seu valor mais baixo em 2012 (32%), mas, em 2013, voltaram a subir (para 35%). O principal motivo foi o aumento do desmatamento na Amazônia”, argumenta Azevedo, frisando que “é imprescindível acabar com o desmatamento, ilegal e legal”.
Agropecuária
A agropecuária aparece como a terceira maior responsável pelas emissões do Brasil, com 27% do conjunto. Desde 1970, a taxa já cresceu 160%.
Os principais contribuintes são o metano emitido pelo gado e o uso de fertilizantes nitrogenados.Segundo a pesquisa, a grande oportunidade aqui está no manejo correto e na recuperação das pastagens degradadas.
Processos industriais é o penúltimo colocado (6% das emissões totais de 2013). As emissões nesse setor mais do que triplicaram entre 1970 e 1990 e, desde então, quase dobraram. Os segmentos que mais contribuíram para essa situação no ultimo ano do estudo foram a siderurgia e a produção de cimento — 52% somadas.
Processos industriais
Processos industriais é o penúltimo colocado (6% das emissões totais de 2013). As emissões nesse setor mais do que triplicaram entre 1970 e 1990 e, desde então, quase dobraram. Os segmentos que mais contribuíram para essa situação no ultimo ano do estudo foram a siderurgia e a produção de cimento — 52% somadas.
Resíduos
O setor de resíduos responde pela menor parcela de emissões no Brasil com 3% do total em 2013. A cifra representa um crescimento de 300% desde 1970, porém, com números totalizados muito menores dentro do conjunto de emissões do país.
O tratamento correto de resíduos tende, no primeiro momento, a acelerar as emissões, por envolver processos que potencializam as emissões de metano (de lixão para aterro controlado, por exemplo).
São Paulo - A apenas quatro meses da COP21, a conferência do clima em Paris, um novo estudo divulgado nesta terça-feira coloca o setor energético brasileiro em saia justa.
Entre 1970 e 2013, as atividades de produção e consumo de combustíveis e energia elétrica quadruplicaram seus níveis de gases de efeito estufa e já respondem por 29% das emissões no país.
Detalhe: nenhum outro setor teve crescimento tão acelerado e em níveis tão altos de emissão no mesmo período.
Os dados são do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), plataforma criada pelo Observatório do Clima, rede que reúne 37 entidades da sociedade civil para discutir as mudanças climáticas no contexto brasileiro.
Só nos últimos cinco anos, as emissões da área energética aumentaram 34%. Um dos vilões desse incremento é o mesmo responsável pela conta de luz mais salgada em tempo de crise hídrica: o uso intensivo de termelétricas a óleo combustível e diesel, fonte mais cara e poluente que a geração hidrelétrica.
A pesquisa também creditou a expansão das emissões do setor à queda da participação do etanol e consequente aumento do consumo de gasolina e diesel.
Na ponta do lápis, o crescimento das emissões por fonte primária, no período analisado, tiveram predomínio do petróleo (72%), seguido do gás natural (17%) e do carvão (6%).
Para Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, essa tendência é alarmante, mesmo quando comparada àquele que ainda é o pior vilão das emissões brasileiras, o desmatamento (que respondeu por 35% do total dos GEE do Brasil em 2013).
Segundo ele, embora o Brasil tenha passado por avanços importantes no que diz respeito às políticas públicas voltadas às mudanças climáticas, as análises o país ainda não incorporou uma estratégia de desenvolvimento que leve em conta o controle das emissões de gases do efeito estufa.
“As inciativas do governo federal, derivadas da Política Nacional sobre Mudança Climática, de 2009, têm escala muito tímida, e são frequentemente atropeladas por outras, como os subsídios à gasolina e o incentivo ao carro”, diz Rittl.
“É como se houvesse dois governos em ação: um que elabora políticas avançadas de descarbonização e outro que sabota sistematicamente essas políticas.”
Há esperança
A nova análise do Observatório do Clima traz alguns dados positivos. As emissões do setor de mudança no uso do solo ( desmatamento ) apresentaram uma redução de mais da metade de participação nas últimas duas décadas — de 70%, nos anos 1990, caiu para 35% em 2013.
Essa queda foi a principal responsável por colocar o Brasil no trilho de cumprir a meta de reduzir emissões em 36,1% a 38,9% em 2020 em relação à tendência.
No entanto, Tasso Azevedo, coordenador do SEEG, alerta que a guerra ainda não está ganha. “As emissões ligadas à mudança do uso da terra atingiram seu valor mais baixo em 2012 (32%), mas, em 2013, voltaram a subir (para 35%). O principal motivo foi o aumento do desmatamento na Amazônia”, argumenta Azevedo, frisando que “é imprescindível acabar com o desmatamento, ilegal e legal”.
Agropecuária
A agropecuária aparece como a terceira maior responsável pelas emissões do Brasil, com 27% do conjunto. Desde 1970, a taxa já cresceu 160%.
Os principais contribuintes são o metano emitido pelo gado e o uso de fertilizantes nitrogenados.Segundo a pesquisa, a grande oportunidade aqui está no manejo correto e na recuperação das pastagens degradadas.
Processos industriais é o penúltimo colocado (6% das emissões totais de 2013). As emissões nesse setor mais do que triplicaram entre 1970 e 1990 e, desde então, quase dobraram. Os segmentos que mais contribuíram para essa situação no ultimo ano do estudo foram a siderurgia e a produção de cimento — 52% somadas.
Processos industriais
Processos industriais é o penúltimo colocado (6% das emissões totais de 2013). As emissões nesse setor mais do que triplicaram entre 1970 e 1990 e, desde então, quase dobraram. Os segmentos que mais contribuíram para essa situação no ultimo ano do estudo foram a siderurgia e a produção de cimento — 52% somadas.
Resíduos
O setor de resíduos responde pela menor parcela de emissões no Brasil com 3% do total em 2013. A cifra representa um crescimento de 300% desde 1970, porém, com números totalizados muito menores dentro do conjunto de emissões do país.
O tratamento correto de resíduos tende, no primeiro momento, a acelerar as emissões, por envolver processos que potencializam as emissões de metano (de lixão para aterro controlado, por exemplo).