Economia

Regras ficam mais rígidas e debate, mais morno

Com o mediador William Bonner tentando controlar o tempo todo as acusações dos candidatos, o debate de Rede Globo, a última possibilidade de confronto de idéias entre os presidenciáveis, transcorreu sem nenhuma novidade. Foi o mais rígido de todos, e conseqüentemente o mais morno. Alguns exemplos: Lula e Serra discutindo sobre o preço da tarifa […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h46.

Com o mediador William Bonner tentando controlar o tempo todo as acusações dos candidatos, o debate de Rede Globo, a última possibilidade de confronto de idéias entre os presidenciáveis, transcorreu sem nenhuma novidade. Foi o mais rígido de todos, e conseqüentemente o mais morno. Alguns exemplos: Lula e Serra discutindo sobre o preço da tarifa de ônibus de São Paulo e os fenômenos naturais seca e neve. Tirando por uma curiosidade ou outra, o debate, as idéias e as posturas dos candidatos _para o bem ou para o mal foram rigorosamente as mesmas desde o início da campanha.

O candidato tucano, até a última pesquisa eventual adversário de Lula no segundo turno, foi alvo de críticas de todos os opositores. Garotinho disse que Serra assinou documento que possibilita confisco, referindo-se a um Projeto de Emenda Constitucional do governo FHC. Mais uma vez, Garotinho tentou vincular a imagem de Serra à do presidente Fernando Henrique Cardoso e à atual situação econômica. O tucano respondeu: A emissora é certa, mas o programa está errado. Você deveria estar no Casseta e Planeta , disse Serra, referindo-se ao humorístico da emissora. Garotinho reagiu dizendo que o debate é político. Não para ridicularizar . O problema do narcotráfico ficou centralizado entre Ciro e Garotinho, mas ambos culparam o governo federal. Os dois aproveitaram o momento para elogiar o programa de governo um do outro.

Serra mencionou que gostaria de encontrar Lula no debate do segundo turno para conversarem sobre as questões sobre a saúde e afirmou que os dois seriam capazes de resolver o problema da energia elétrica do país. Sobre as concessões, Lula afirmou que as tarifas de energia seriam revistas. Os dois também monopolizaram o tema da habitação. Eles chegaram a se estranhar , quando Lula interpretou uma pergunta de Serra como sendo ironia e respondeu bruscamente. O petista, ao final do debate, pediu desculpas pela má interpretação. Ciro criticou a postura de Serra sobre a afirmação quanto ao segundo turno e mencionou a tentativa de Garotinho em confundir o candidato petista quanto à sigla sobre a taxação dos combustíveis (Cide, Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico). Nas considerações finais, todos eles agradeceram à população e à família e a todos que os ajudaram nas campanhas.

Leia a seguir os principais trechos:

Cotas na educação

Ciro e Lula se posicionaram a favor das cotas sociais e raciais nas escolas públicas. A questão étnica é importante e sou a favor das cotas", disse o ex-governador do Ceará. Lula afirmou que garantiu que vai instruir as pessoas na pré-escola em uma comunidade geral . Estamos pensando em garantir a cota para negros , disse ele, afirmando ter métodos científicos para definir as etnias.

Previdência

A questão do rombo da Previdência Social foi o tema da pergunta de Ciro para Garotinho. Vamos implantar um regime de capitalização, que não será de imediato, haverá uma transição. Precisamos acabar com o rombo primeiro. O governo atual não agiu. Infelizmente, encontramos aposentados que ganham menos que um salário mínimo", disse o ex-governador do Rio de Janeiro. Ciro afirmou que pretende criar um regime público de capitalização que garanta direitos atuais, mas que evolua". Perguntado por William Bonner sobre se o teto da previdência valeria também para o funcionalismo, Ciro respondeu: "No futuro, sim. Mas não vamos lesar o funcionário público com a retirada do direito adquirido. Faremos com que os 20% das contas mais ricas tenham contribuição para melhorar os 20% mais pobres. No futuro, todos teremos previdência única".

Reforma agrária

Garotinho perguntou a Serra como seriam as reações dele, se eleito, com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). O tucano prometeu dar continuidade à reforma agrária. Nos últimos anos, foram assentadas mais famílias do que na história. Mas com condições, vamos cuidar da produção. É preciso desenvolver mecanismos de crédito. O segundo critério é não admitir invasões. Elas violam o direito de propriedade e são antidemocráticas. Vamos criar o Banco da Terra, que é o financiamento da terra. Isso tem funcionado", disse ele. Para Garotinho, é preciso fazer vincular a reforma agrária a uma reforma urbana e agrícola .

Bonner perguntou a Garotinho como ele garantiria que as terras não sejam invadidas. Não toleraremos ação violenta. Um país com terras devolutas não tem necessidade de conflito, a não ser por inoperância. Para Serra, Bonner questionou qual seria a decisão em relação a uma terra improdutiva, mas distante de luz, água e estradas". "Precisa colocar essa terra na produção. Essa terra não serve para nada, só para alguém morar. Neste caso, não cabe desapropriação. É muito importante botar esse pessoal a produzir. Os assentamentos deixam muito a desejar. Para isso precisa de crédito."

Emprego e CLT

"Lula, quais alterações você consideraria importantes na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) em relação ao emprego no Brasil?", perguntou Serra ao petista. Para Lula, a CLT precisa ser mudada, sem reduzir o que os trabalhadores conquistaram . Precisamos ter em conta que gerar empregos não é só mexer na CLT. De 1995 a 2001, praticamente 2,5 milhões de pessoas deixaram o campo, sem entrar para o mercado de trabalho."

O tucano concordou que não é só uma eventual mudança na CLT que resolveria o problema do desemprego. Temos que acelerar a economia, as exportações, enfatizar setores que geram mais emprego, como agricultura familiar, puxar atividade de turismo, puxar a construção civil, habitacional, atividades de educação e saúde , afirmou. Serra perguntou a Lula qual a alteração mais importante que existe na CLT. E o petista afirmou: Precisa investir em turismo, microempresas, pequenas empresas, precisa reduzir taxa de juros. Precisamos mudar a CLT, mudar estrutura sindical, não por medida provisória, ou decreto-lei. Vai ser negociado". Serra, ao responder a Bonner, iniciou a resposta negando ter votado contra os trabalhadores. Quanto à questão específica da informalidade, por exemplo, no campo, há um regime diferente. Não se pode usar a mesma legislação. Temos que flexibilizar o sistema", completou.

Seca do NE e transposição do S. Francisco

Numa outra rodada de perguntas, Lula questionou Garotinho como ele resolveria o problema da seca no Nordeste. "De várias formas. A transposição do rio São Francisco é necessária. Primeiro, é preciso recuperar a bacia do rio São Francisco. É preciso ter um programa sério de utilização de poços artesianos. O Nordeste tem recursos fantásticos , afirmou o pessebista. Lula não considerou tão simples assim a resolução do problema. Para ele, a seca é fenômeno da natureza. A fome causada por ela é irresponsabilidade dos políticos. A irrigação é um caminho para resolvermos o problema." Mas ponderou a Bonner que não é tão fácil, já que o rio é extenso e muito velho __ponderando que é uma irresponsabilidade colocar a transposição como condição única para combater a seca . Para Garotinho, o mediador da TV Globo questionou como ele faria um órgão como a extinta Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) funcionar sem corrupção. "Vamos assumir a Sudene e blindá-la contra a corrupção. O tema voltou no meio do debate, em uma rodada de perguntas entre Garotinho e Serra.

Conjuntura econômica e exportação

"O Brasil tem a maior taxa de desemprego dos últimos 50 anos, encolheu massa salarial, aumentou a dívida, tem as estradas destruídas, estamos iminência de novo de falta de energia. Eu pergunto, o que deu errado?", perguntou Ciro a Serra. Teremos pela frente crescimento, com programas como o bolsa-escola, programa de saúde da família, erradicação trabalho infantil. Queda forte da mortalidade infantil, muita coisa avançou. O principal é fazer que amanhã seja melhor do que hoje", afirmou o tucano. Após uma tréplica, o candidato do PSDB respondeu: A política do real em relação ao dólar passou a ser adequada para o crescimento. No entanto, houve várias crises, como a da Argentina, os ataques aos EUA, a preocupação com a economia americana. O Brasil tem condições de diminuir seus problemas através das exportações. Temos condições para ocupar uma melhor posição na economia mundial".

Ciro foi questionado por Bonner sobre como ele resolveria todos os problemas brasileiros que listou. "Não posso aceitar a crise internacional como álibi. O Chile tem taxa de crescimento maior que a nossa, o México também, a China também. Aqui montou-se uma estrutura para fazer um câmbio tão artificial, para produzir a reeleição do presidente. É preciso eliminar o déficit externo", disse o candidato do PPS.

Regras da Globo

Na primeira hora do debate a TV Globo registrou 37 pontos de audiência. A novela "Esperança" terminou, entregando o horário com 40 pontos, às 22h10.

O debate dos principais candidatos à Presidência da República foi no Projac (central de produção da emissora). O primeiro a chegar foi o candidato do PSDB, José Serra. Ele foi apresentado a Marisa, mulher de seu adversário petista, que aguardava a chegada do marido. Em seguida chegaram Lula e Ciro Gomes, ambos de helicóptero. O último a chegar foi Anthony Garotinho.

O debate na TV Globo entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT), José Serra (PSDB), Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS) foi dividido em quatro blocos. No primeiro e no terceiro blocos, os candidatos só poderão fazer perguntas referentes a temas sorteados (determinados ou livres), mas escolherão o adversário que responderá. Em seguida, haverá a réplica de quem perguntou, a tréplica de quem respondeu e as perguntas do mediador. O procedimento será o mesmo até o quarto bloco.

O único jornalista que fez perguntas foi William Bonner, editor chefe do "Jornal Nacional" e mediador do debate. O jornalista era quem questionava os candidatos se considerasse que os assuntos não fossem abordados com clareza.

O candidato sorteado teve 30 segundos para perguntar. O escolhido para responder teve um minuto e meio. O que perguntou, um minuto para a réplica, e o que respondeu, um minuto de tréplica. Bonner teve 15 segundos para perguntar a um candidato, que pode responder em 45 segundos. A ordem em que os candidatos fizeram as considerações finais, no último bloco, foi decidida por sorteio. A Rede Globo pediu que o matemático Oswald de Souza fizesse as regras para que todos os candidatos tivessem chance de falar pelo menos uma vez por bloco.

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