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Privatizar a Petrobras? Consulte primeiro generais de Bolsonaro

O risco para os mercados financeiros é que generais ganhem preponderância em um possível governo de Bolsonaro e deixem de lado Paulo Guedes

Bolsonaro afirmou que o “miolo” da Petrobras deve ser preservado, o que difere do discurso de Guedes (Paulo Whitaker/Reuters)

João Pedro Caleiro

Publicado em 23 de outubro de 2018 às 16h30.

Última atualização em 24 de outubro de 2018 às 13h50.

O candidato de direita e favorito das eleições presidenciais Jair Bolsonaro virou queridinho do mercado em parte por defender grandes privatizações no setor de energia. Mas investidores podem segurar o entusiasmo.

Os planos estão sendo revistos num momento em que Bolsonaro indica generais para sua campanha. O capitão da reserva com histórico de apoio ao nacionalismo em votação como deputado no Congresso passou recentemente a defender a visão de que a exploração de petróleo e a geração de energia devem ser vistas também pelas lentes da segurança nacional.

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O deputado prometeu nomear até cinco generais para seu gabinete e oferecer às forças de segurança seu papel mais importante em décadas caso eleito.

O risco para os mercados financeiros é que esses generais ganhem preponderância em um possível governo de Bolsonaro e deixem de lado seu principal conselheiro econômico, Paulo Guedes, que pressiona pelas privatizações da Petrobras e da Eletrobras.

Os sinais conflitantes da campanha vêm tornando as ações das duas empresas muito mais voláteis do que o Ibovespa no período anterior ao segundo turno, em 28 de outubro.

Por seis meses, Guedes, um investidor formado pela Universidade de Chicago, reinou como a voz da campanha para política econômica. Um rompimento da relação de Bolsonaro com Guedes pode gerar uma reação no mercado, informou a Fitch Solutions em relatório.

“O histórico de votação de Bolsonaro no Congresso mostrou uma clara preferência por políticas nacionalistas e protecionistas que podem ser reafirmadas”, afirmou a Fitch. “Um rompimento com conselheiros pró-mercado pode gerar uma mudança de direção significativa em termos de políticas.”

Guedes começou a compartilhar a formulação do programa com militares, que reportam diretamente a Bolsonaro, após a vitória mais forte do que a esperada do candidato no primeiro turno, em 7 de outubro. Não demorou para o candidato começar a recuar.

Mudança de discurso

Em 9 de outubro, Bolsonaro, cujos comentários incendiários sobre raça e criminalidade mostram paralelos com Donald Trump, mudou o discurso em relação às Centrais Elétricas Brasileiras, como a Eletrobras é formalmente chamada.

Em entrevista televisionada, ele mostrou preocupação com a possibilidade de a China comprar a empresa e expandir sua influência na maior economia da América Latina.

Além disso, afirmou que o “miolo” da Petrobras deve ser preservado, o que difere do discurso de Guedes em prol de uma privatização total.

“Suponha que você tem um galinheiro no fundo da sua casa e viva dele. Quando privatiza, você não tem a garantia de comer um ovo cozido. Nós vamos deixar a energia nas mãos de terceiros?”, disse Bolsonaro.

A campanha de Bolsonaro não respondeu a um e-mail e a telefonemas em busca de comentários.

Guedes defende a privatização de aproximadamente 150 empresas estatais, inclusive da Petrobras -- uma proposta radical, considerando a ligação emocional de brasileiros com a petroleira, considerada um símbolo de poder industrial e potência tecnológica.

Fernando Haddad, o candidato de esquerda que aparece atrás de Bolsonaro nas pesquisas, apoia a revogação de parte da recente abertura do setor de petróleo a estrangeiros e é visto como um risco maior para os mercados financeiros. No Brasil, privatizações podem exigir aprovação do Congresso e muitas vezes são contestadas na Justiça.

Governo militar

Militares brasileiros têm mais experiência com administração pública do que com guerras. O Exército não deflagra guerra com outras nações desde o século 19 e teve participações tímidas na Primeira e na Segunda Guerras Mundiais.

O general Ernesto Geisel comandou a Petrobras de 1969 a 1973, depois deixou a empresa para se tornar presidente do país até 1979. O período foi definido pela pesada intervenção do Estado na economia e pela corrupção generalizada.

A presença das Forças Armadas na cúpula da Petrobras se manteve mais de 30 anos após o fim da ditadura, com um general eleito no conselho até 2012.

Historicamente, as Forças Armadas do Brasil se dividem em relação ao papel do Estado na economia, disse Pedro Campos, pesquisador da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e especialista na ditadura brasileira.

Após a exclusão do Exército da política desde a restauração da democracia, em 1985, é difícil prever qual abordagem os generais adotarão em relação às privatizações nos setores do petróleo e da energia.

“Ainda não há um programa governamental claro e pouca coisa foi colocada no papel. É um cheque em branco”, disse Campos, em entrevista, por telefone.

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